Ano 1. Noite de tormenta e perigo

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Não sabe ao certo quando começou, todavia notou algo estranho acontecendo. Não era frieza ou afeto em demasia, nada disso. Tampouco desprezo. Não havia um 'porém' fora do lugar. Isso denunciou que alguma coisa mudara durante a noite que passara fora. A maioria das pessoas constataria o impensável ao perceber a singularidade em ações e palavras, contudo o incomum se dá, muitas vezes, no não perceptível; no comum tantas vezes conhecido dos amigos. Remo via o que poucos observavam e, ao contemplar a demasiada normalidade que aparentavam seus irmãos escolhidos, um calafrio perpassou sua espinha. O medo atingiu-lhe, paralisando seu sangue; impedindo-o de raciocinar. A incredulidade fez morada, entretanto, não se permitiria mentir para si próprio. Acreditar em fatos imaginados, desejos do coração não eram de seu feitio. A lógica tinha parte na personalidade do garoto, impedindo-o de fazer bobagens naquele desesperado momento; desprezar a calma conquistada ao longo da dura infância. Seu coração, apesar de preservar a genuína inocência infantil, rivalizava com a razão dura do cérebro. Sabia do monstro interior, o que brigava e lutava pela agressividade, mas também acreditava que poderia existir algo bom em meio a tantas trevas de seu intimo. Iriam seus melhores amigos acreditar que era inofensivo se lhes contasse a verdade? A pergunta se fez presente o dia todo. Talvez já soubessem. Seria assim justificável a estranha anomalia do relacionamento naquele ensolarado dia.

As aulas foram um borrão para a mente que apenas questionava se Remo sabia que haviam descoberto o segredo. Tinha pavor do confronto e o tempo não queria ajudá-lo. Quanto mais lhe pedia para se atrasar alguns instantes, mais rápido vinha trazendo o crepúsculo. A fina mancha laranja que cortava o céu perfurava sua coragem. Era um intruso em seu próprio meio.

Sirius e Tiago, já agora caçadores de confusões, ansiavam o anoitecer. Viria com ele uma aventura singular. Alegria ou tragédia se faria presente ao pôr do sol. Seria o fim perfeito ou trágico para um ano de inesperadas situações. A imaginação e inconsequência do coração dos garotos de onze anos eram genuínas armadilhas do inevitável perigo de ser um bruxo. E enquanto para o amigo pequeno e gorducho as horas foram corridas, para os dois foi infindável o momento entre o inicio e o final do dia. Finalmente, sem avisar, foram jantar. Mais cedo que o normal. Ao voltarem à sala comunal, não encontraram Lupin. Seria essa a hora perfeita para uma breve perseguição? Intuíam que Lílian jamais aprovaria a decisão dos três. Não se importaram. Subiram sorrateiramente ao dormitório e pegaram a Capa de Tiago. Chegaram à orla sem imprevistos. A imagem era a mesma de sempre: Hagrid, o gato que agora sabiam ser a professora Minerva e o próprio Remo. Era o momento de se esconderem. Invisíveis aos olhos dos demais seguiram o pequeno grupo, se embrenhado na Floresta Proibida. Rúbeo deixara o menino em uma clareira, sozinho. McGonagall escondera-se nas árvores. Se ainda estaria ali um minuto ou mesmo o resto da noite, era impossível dizer. Observaram o amigo deitar na terra seca e coberta de folhas que agora esverdeavam. Entreolharam-se.

— É agora ou nunca, Tiago. — Dissera Sirius, em um tom meio que gutural.

— Eu sei — a voz sombria e monótona foi acompanhada pelo barulho de tecido roçando na pele e caindo ao chão.

— Remo — chamou Pedro, medo e ansiedade eram mesclados na sua voz.

O menino, ao ouvir seu nome, virou-se. Arregalou os olhos sem vida perante a visão do trio.

— O que estão fazendo aqui?

A pergunta era desnecessária. Todos sabiam a resposta.

***

Lílian franziu o cenho ao ver três garotinhos saindo de fininho. Desconfiou sobre o que eles iriam fazer, entretanto, confiava que não fossem tão estúpidos. Pobre Lílian, mal sabia que a audácia de Black e Potter ia além dos limites aceitáveis. Pettigrew, por sua vez, desejava não ter ido, mas assim quis os outros dois e quem seria ele para contrariá-los?

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