2

323 26 56
                                    

O dia tinha começado cedo, acordei com a sensação de estar atrasada, como se precisasse estar em algum lugar. Procurei no nosso calendário se algo tinha sido esquecido e nada estava acontecendo e nem ia acontecer aquele dia.

Arrumei a mesa do café com a cabeça nas nuvens, o sentimento não passava. O que está acontecendo comigo?

Maite estava me ignorando, não era comum, mas acontecia às vezes. Como se eu fosse uma criança que fez algo errado e foi colocada de castigo. Falar com Arturo tinha sido segundo ela "uma facada em suas costas". Eu entendia, mas fazia um ano, sabia que logo ela esqueceria.

- Bom dia meu amor. – A cumprimentei como sempre.

- Bom dia.

- Ma... Eu já pedi desculpas.

- Eu sei, é só que... Eu não queria, ok? Não queria saber o nome, saber um nome dá ainda mais força ao que eu sinto por ele. – me senti péssima ouvindo aquilo. – Enquanto era apenas um cara bonito estava tudo bem. – Ela limpa uma lágrima e me sinto ainda pior. – Mas está tudo bem.

- Me perdoa.

- Está tudo bem, só não faça isso.

- Eu sinto muito.

Nos abraçamos por um tempo, Maite era uma pessoa delicada, e eu não sabia que o que ela sentia por ele estava num nível tão real. Limpei suas lágrimas, meu coração apertava de ser eu a causadora daquelas lágrimas.

O parque estava calmo, o sol estava alto, mas o dia fresco, graças as diversas árvores que tinham ali. Algumas crianças brincavam, casais passeavam de mãos dadas e sorrisos no rosto. Eu não parecia ser o tipo de pessoa feita para isso. Para esse tipo de sentimento.

Não permitia que meus pensamentos acabassem neles, tentei apagar as lembranças.

Não conseguia escrever nada, a caderneta estava sobre meu colo, mas não queria desgrudar os olhos das pessoas que passavam. Era o mesmo lugar que estive quando a bola me acertou.

Eu não estava aqui tentando o ver de novo.

Não queria ver o cara. Bernardo.

Eu nem sabia nada sobre ele. Mas estava no exato lugar, no mesmo horário, como uma mensagem sobre uma novela ruim. Isso era besteira.

Voltei os olhos para o papel em branco, tentando marcar alguma palavra, uma que fosse. Era como se minha mente estivesse em branco. Não. Branco não, estava mais para focada em uma única coisa.

Encontro.

A palavra parecia estranha no papel, arranquei a folha e a amassei com raiva. Tentei de novo.

Acaso.

Essa também não daria algo bom, fiz o mesmo de antes, arranquei o papel e o joguei ao meu lado.

Deitei sobre a grama verde, fechei os olhos, tentando fazer com que os meus pensamentos entrassem em ordem novamente. O som do vento batendo em meu rosto. O cheiro da natureza, tudo que me fazia bem, hoje estava alto demais, forte demais.

Isso era estupidez, nunca algo assim tinha acontecido. Na verdade, tinha. Uma única vez, terminou em um beijo, e nunca me senti tão estranha sobre algo, então decidi que não servia para esse tipo de coisa.

- Você não deveria estar amassando tantos papéis.

Meu coração errou a batida, levantei com o susto e comecei a respirar para aliviar os meus batimentos.

Encontro ao Acaso - Série ao Acaso [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora