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- O que você e meu pai conversaram?

Minha cabeça estava longe, então demorei um tempo para conseguir focar no que Bernardo estava falando. Olhei para ele, estávamos os dois sentados em seu sofá, Coral em meu pé o aquecendo, enquanto eu estava com a blusa de Bernardo e em seus braços.

- Ah, ele só queria me pedir para não te magoar, nem sabia que você tinha um pai tão protetor – sabia que estava me enrolando cada vez mais e que deveríamos conversar logo sobre o que estava acontecendo.

- Nem eu sabia de algo assim, quero que saiba que eu nunca pediria para ele falar algo assim.

- Não se preocupe, só fique feliz por ter pais tão interessados em você...

- Quer falar sobre isso?

Talvez se eu compartilhasse algo com ele, eu me sentiria melhor sobre isso e em algum momento conseguiria falar sobre isso.

- Nem sei se consigo imaginar comentar as coisas que aconteciam...

- Fale, vai ser bom.

- Eu acho que a primeira vez que eu senti que minha mãe não gostava de mim foi com cinco anos, eles sempre davam festas, e eu nunca gostei... Eu estava brincando embaixo da mesa e eu devia ser a filha perfeita, afinal, eles eram pessoas perfeitas. – seu rosto estava triste, como se sentindo que algo ruim viria. – Ela me tirou debaixo da mesa, com toda delicadeza do mundo, e me levou até o meu quarto, foi a primeira vez que senti suas unhas se afundando em mim, era o tipo de castigo preferido dela... E então eu não era boa o suficiente para nada.

- E seu pai?

- Ele estava sempre lá, olhando, vendo o que acontecia, sabendo que ela me tratava daquele jeito. Mas nunca fez nada, ele acha que fez muito, mas não, a única coisa que me ajudou foi a música... Eu sei que parece um discurso velho e banal, mas ela me ajudou tanto e quando fiz dezoito anos, saí de lá e me senti livre pela primeira vez.

- Sinto muito, Alissa, ninguém devia passar por isso.

- Eu sei, mas agora tenho uma família melhor.

- O pessoal do café?

Coral se aproximou ainda mais de mim, colocou a cabeça em meu colo como se sentisse que eu precisava de carinho.

- Sim, o pessoal do café, cada um deles... – sorri para ele – Mas, você é o único ser que pede folga para o pai para ficar com a namorada.

Bernardo esticou a mão sobre a sua cabeça e eu acompanhei o movimento com os olhos. Ele me encarou e escondi o rosto em seu pescoço.

- Você está gostando disso de ser minha namorada, não é?

- Na verdade, me sinto uma propriedade de alguém, e não gosto disso. – respondi séria.

O sorriso que estava em seu rosto se desfez, e me senti culpada, era uma brincadeira idiota. Eu me sentia tão bem sendo sua namorada que era como se sempre tivéssemos existido juntos.

Beijei seus lábios, começou como um beijo doce, e então meu corpo começou a esquentar, como se eu precisasse daquilo para respirar. Meu coração disparou e eu podia sentir o seu batendo contra minha mão. Estava a ponto de subir em seu colo quando Coral nos lembrou que estava ali, ela rosnava e tentava entrar entre nós dois.

- Acho que ela não gosta quando estamos namorando – passei a mão por seu pelo, Coral tinha se encaixado e deitou a cabeça em Bernardo. – Mas é bom que tenha entrado aqui, tenho que ir, – apontei para o relógio na parede. – você pode ser filhinho de papai, porém, alguns de nós não são...

Encontro ao Acaso - Série ao Acaso [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora