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Nunca era fácil deixar a casa de Laura para voltar ao caos da cidade grande, me sentia sempre como uma menina que adoraria ter nascido ali, crescido entre todas aquelas pessoas que demonstravam amor aos vizinhos.

O ônibus estava lotado, Maite encostada na janela dormindo, e eu pensando em tudo que vinha acontecendo nos últimos meses. Bernardo, principalmente, não conseguia explicar como ele tinha encontrado uma maneira de entrar no meu coração e fazer uma mudança que eu não sabia se estava preparada.

Nunca imaginei que voltaria a casa dos meus pais, nunca aproveitei ou amei nada daquele lugar, exceto o jardim, desde criança aquele lugar me chamava. Sempre senti uma conexão com estar com os pés no chão, com sentir o vento batendo em meu rosto, com o cheiro das plantas invadindo meu ser. Percebi que isso me fez seguir em frente. Que o universo me deu maneiras de encontrar forças para continuar.

A viagem de volta sempre parecia demorar mais, então resolvi tentar dormir também. Sempre parávamos na rodoviária, o risco de acabarmos em outro lugar era quase inexistente.

Meus olhos se abriram com certo esforço, a noite passada e acordar tão cedo, finalmente, estavam me fazendo sentir o sono. Toquei meu rosto, tentando limpar a sensação de peso que sentia sobre as pálpebras.

- Deus. – a voz de Maite fez com que eu a olhasse.

Estávamos as duas cansadas, podia ver.

- Eu não quero trabalhar. – disse se encostando em mim.

- Então isso faz de nós duas.

Vi a fachada da rodoviária, e as placas indicando onde os ônibus deveriam parar. Estiquei meu corpo, tentando colocar tudo no lugar, senti cada canto do meu corpo estralar. E fechei os olhos de prazer.

Maite pegou a bolsa, e descemos para a estação.

- Eu amo os cochilos que eu tiro voltando da minha mãe.

- Eu sei, você ama dormir. – comentei, enquanto andávamos até nossa casa.

- Existe coisa melhor?

O cheiro de café já invadia o salão do Flores e Café, o chocolate quente também já estava perfumando o ar, de alguma maneira os dois cheiros combinavam tão bem, me deixavam com vontade de sentar e aproveitar o dia.

Porém, eu não era a garota que sentava para tomar um café. Eu era a garota que servia, que deixava todos o mais confortável possível, que andava de um lado para o outro e depois sentia as dores em todos os lugares do corpo.

Coloquei o avental em volta da minha cintura, e fiz o coque apertado no meu cabelo, sempre sobrava dois fios castanhos soltos ao lado das minhas orelhas, era bom ficar no salão, minha mente se enchia de pensamentos sobre as outras pessoas e nenhum sobre mim, ou sobre meus próprios problemas.

Exceto que não tinha ninguém que não fosse Bernardo em minha mente.

De alguma maneira tudo que eu conseguia pensar era em como algo em mim estava mudando, como a vontade de ser alguém para o amor vinha se tornando a realidade, eu estava me tornando alguém para o amor.

Senti o sorriso brotando em meu rosto e se tornando maior.

- A Alissa está me assustando. – ouvi Gustavo dizendo – Sabe quando o Coringa está prestes a matar o Batman?

- Sim... – confirmou, Maite.

- Tcharam!

Suas mãos estavam bem em frente ao meu rosto, mostrando meu sorriso.

- Olhe bem para essa carinha apaixonada.

- Cala a boca, Gusta.

- Também te amo, princesa.

Encontro ao Acaso - Série ao Acaso [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora