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Meus pés balançavam sobre o encosto do sofá, Maite estava se arrumando para sair para o trabalho e eu apenas ignorava que daqui a poucas horas eu iria ver Bernardo. Podia um coração sair voando do peito como se fosse um trem que precisava achar sua própria estação?

Não queria passar muito tempo pensando no que vestir, ou no que deveria fazer, já que era apenas um encontro entre amigos, mas a cada badalar do relógio na parede, eu tinha vontade de correr para longe.

Parei de ir ao parque junto com Maite pela manhã, não me encontrando com Bernardo, eu meio que estava fugindo na verdade, mas por enquanto fingia que estava tudo bem. O encontro que não era um encontro já estava mexendo demais com a minha cabeça.

- Estou indo, espero que o encontro não oficial seja como você espera.

Tentei levantar a cabeça para responder minha amiga, porém parecia impossível. Todo meu sangue estava na minha cabeça, estava mais pesada que o normal. Tentei rir, então uma voz indesejável soprou "cabeça de vento" e meu corpo se arrepiou.

Virei meu corpo no sofá e olhei para minha amiga que me encarava.

- Tudo bem?

- Só passei muito tempo na mesma posição. – respirei melhor quando o sangue voltou ao lugar onde devia estar, o resto do meu corpo, vi que Maite segurava uma risada. – Bom trabalho, espero que Arturo tire a cabeça da bunda e fale direito com você.

Ignorei o dedo que me foi mostrado e continuei pensando sobre o encontro, claro que eu não admitiria para ninguém que vinha fazendo isso desde que tinha sido deixada na porta de casa. Como me manteria sã perto do Bernardo? Eu tinha até às sete para descobrir uma maneira.

A televisão estava ligada e passava um filme qualquer, o primeiro filme acabou e quando o segundo estava para começar, decidi que tinha que me arrumar, não queria parecer que estava me aprontando desde cedo, mas podia me mostrar ao menos apresentável.

A água gelada estava ligada, arranquei o pijama que eu ainda não tinha tirado, e me enfiei embaixo do chuveiro, aproveitando o choque térmico que meu corpo sentiu.

Ainda não sabia que roupa colocaria, esperava que o tempo continuasse ameno durante a noite. Era normal, não era? Me sentir assim, confusa, com medo e com borboletas no estômago, as pessoas costumavam sentir tudo isso quando estava fora da zona de conforto, e eu estava fora da minha zona de conforto, na verdade, eu peguei minha zona de conforto, amassei e joguei pelas janelas do prédio, então ela foi atropelada por um caminhão de lixo.

É, era exatamente assim que eu me sentia.

Desliguei o chuveiro e encostei a testa na parede de azulejos azuis, encarei os vãos, precisava limpar aquilo, como se um comichão despertasse em mim. Não, isso tudo era para fugir do encontro que eu tinha que ter.

Não era um encontro.

Não era um encontro.

Não.

Era.

Um.

Encontro.

Sobre a minha cama estavam algumas opções de roupa, um vestido ciganinha de listras, um shorts e uma bata, e uma calça e uma camisa com uma frase em italiano que eu nunca perdi o tempo de descobrir o que era.

A liberdade de andar pelada pelo apartamento, era algo que nunca tinha tentado, mas eu simplesmente não estava com tempo para muita coisa. Não queria pensar em combinar calcinha e sutiã, isso significava que eu queria passar para algo mais e não era verdade.

Dois amigos andando, comendo e conversando.

Coloquei o vestido e ao me olhar no espelho parecia demais, como se eu estivesse tentando muito e eu não estava tentando. Shorts parecia bom, é seria o shorts, tudo dá certo quando você está de shorts.

Encontro ao Acaso - Série ao Acaso [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora