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Nunca tinha me sentido tão confortável fora de casa como tinha me sentido com Bernardo, em sua casa, apenas nós dois e Coral. Quando o horário começou a avançar madrugada a dentro, fui convidada para ficar, mas não era o momento ainda, então, pedi que ele me levasse para casa.

O silêncio no carro foi tão sagrado que parecia besteira quebrar com qualquer frase, e ele seguiu até estarmos dentro do meu apartamento, quando Bernardo começou a querer fugir de mim.

- Você devia ficar. – disse, enquanto Bernardo encarava a porta.

- Eu não sei...

- Está muito tarde. Tarde demais.

Passavam das três da manhã, depois do filme, brincamos e conversamos por tanto tempo, descobri tanta coisa sobre ele, seus gostos, o tipo de comida que gostava, e sempre preferia pizza a qualquer outra coisa.

Falamos sobre desejos que tínhamos, nunca tocamos no assunto proibido minha família, eu nunca tinha me sentido tão leve e bem na presença de outra pessoa que não fosse Maite.

- Tudo bem... mas amanhã muito cedo eu saio.

- Não precisa ser tão cedo. – falei rindo.

- Tudo bem.

- Precisa de alguma coisa pra dormir?

- Acho que não – respondeu, olhando para as roupas, estava com uma calça de moletom e uma camiseta. – Estou bem, talvez um travesseiro e um cobertor, está meio gelado aqui.

- Ah, desculpa – quase bati na testa, tudo aqui era gelado. – Claro, vou pegar!

Abri o guarda-roupa, e puxei o cobertor de dentro, o sofá era pequeno para todo o corpo de Bernardo, ele parecia estranho ali deitado.

- Sabe, você pode deitar na minha cama, e eu durmo com a Maite, a gente já fez isso antes.

- Deveria perguntar o motivo?

- Acho que não... – joguei o cobertor sobre seu corpo, pensando sobre a goteira que já tinha existido sobre minha cabeça.

- Obrigado.

- Boa noite, Bernardo, se precisar de qualquer coisa, tem água na geladeira, e o banheiro é ali. – apontei para o corredor. – Durma bem.

- Boa noite, Alissa. – respondeu virando para a parede.

Temi que me desse vontade de ir até ele e dar um beijo em sua cabeça e corri para meu quarto.

Deitei na minha própria cama, lembrando de como era estar tão perto dele. Me sentir confortável da maneira que me senti ao lado dele, era algo tão inédito, às vezes pensava em contar sobre como tinha saído de casa, e os motivos por ter deixado aquele lugar.

Mas então pensei em como ele detestava meus pais, e mesmo se eu contasse, podia imaginar que eu era como eles. E isso é algo que nunca vou aceitar, que pensem que eu sou como eles.

Não conseguia me ver como eles, e qualquer pessoa que sequer imaginasse que eu fosse parecida, estava errado.

Sempre estaria.

Não notei quando adormeci, ou quando o sonho começou.

Estava de mãos dadas com Bernardo, nós conversávamos e brincávamos, falávamos sobre a vida. Era bom, era o tipo de sonho que me deixava feliz. Ele me contava como gostava da vida que levávamos, apenas nós e Coral, mas eu não podia mais o deixar acreditar que seriamos apenas nós três.

- Alissa. – meu corpo estava sendo sacudido. – Acorda.

- Não.

- Eu vou te deixar aí e ir pra minha mãe.

Encontro ao Acaso - Série ao Acaso [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora