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O som alto do outro lado do café me mostrava apenas uma coisa, eu realmente estava cansada, até isso estava me irritando hoje. Algum cliente continuava vendo vídeo de gatinhos.

Como eu sabia? Pois é, o maldito volume estava no último. Retirei a penúltima mesa e o cliente do celular pareceu notar que já estávamos fechando, o que era bom, normalmente Maite tinha que começar a olhar para os últimos com cara de brava enquanto limpava o chão como se estivéssemos sozinhas. Hoje era a folga de Maite e Gusta, então só eu e Henrique, o cozinheiro, que também era nosso patrão, estávamos no café, como toda segunda feira. 

O cliente me entregou seu cartão, trabalhávamos com um sistema bem arcaico para registro de pedidos, então apenas recebi seu pagamento e o acompanhei até a porta, meus pés estavam doendo. Fechei a porta e me virei para finalmente finalizar o dia. Então ouvi leves batidas na porta.

Um homem com roupa de corridas estava parado, esperando por algo. Não devia ser que a porta fosse aberta, até porque a placa de fechado já se encontrava virada. Ficamos nos encarando até que ele apontou para dentro do café e eu apontei para a placa. Seu rosto demonstrava que estava irritado. Bom, eu também estava. Apontei novamente para a placa e virei para deixar o salão, até dar de cara com Henrique.

- Alissa, posso saber o que está acontecendo?

- Nada demais Rique, esse homem só queria saber o horário.

Claro que por sua cara, ele não tinha acreditado nada no que eu estava dizendo. Passou por mim e ouvi a porta sendo aberta e bufei.

- Boa noite, gostaria de alguma coisa?

- Eu ia apenas pedir um café para a viagem, mas agora estou pensando se devo ou não comer aquele bolo que está na vitrine. – O cara era um debochado, saí pisando duro e pensando se cuspir no café era realmente uma opção tão ruim.

A cafeteira ainda estava quente, o que era uma coisa boa ou do contrário levaria pelo menos meia hora para entregar um simples cafezinho. Henrique ficou me olhando da porta da cozinha, sabia que ia escutar algumas verdades dele, porém o cara simplesmente ignorou uma placa de fechado.

Arrumei o café, a xícara e o açúcar sobre a pequena bandeja de prata que usávamos. Levei tudo até a mesa, coloquei tudo na sua frente.

O cara agradeceu e eu me sentei atrás do caixa, segurei o bloco de notas e comecei a rabiscar a letra de uma música, gostava de cantar, mais do que gostava de fazer qualquer outra coisa.

- Moça, eu gostaria de um pedaço de bolo, por favor.

- Sabe, se você estava correndo, talvez essa não seja a melhor opção... – ouvi o pigarro de Henrique e me levantei. – Qual bolo?

- Pode ser esse de chocolate.

Ainda não sabia como continuava nesse trabalho, Henrique devia ter pena da Maite e de mim. Os clientes nos aguentavam de alguma maneira que não fazia sentido, até tínhamos alguns amigos entre os mais assíduos. A Flores e Cafés existia há mais de dez anos, continuava no mesmo lugar, uma rua tranquila, com algumas grandes empresas e apartamentos modernos, era uma boa mistura e um ótimo lugar para terminar o dia. Acontece que parecia que o meu nunca acabava.

Não demorou muito até o homem ir embora, deixou uma boa gorjeta na mesa para mim, pensei até em rejeitar o dinheiro já que tinha sido bem babaca com o cara, mas aceitei, precisava pagar o aluguel, e ele dormia e acordava comigo.

Comecei a limpar o chão, enquanto Rique terminava de fechar o caixa. Levantei algumas cadeiras e separei alguns materiais que precisaríamos para o dia seguinte. Quando tirei o avental rosa claro e soltei meus cabelos do coque que tinha mantido durante o dia, senti uma liberdade sem tamanho, finalmente acabou mais um dia.

Encontro ao Acaso - Série ao Acaso [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora