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Tudo tinha voltado ao normal, como se a festa dos meus pais não tivesse ao menos existido. Os machucados feito por Patrícia estavam sarando, nem mesmo as marcas ficariam, nunca ficavam. Nem mesmo quando ela tentava.

Todos os dias íamos ao parque, não tinha encontrado com Bernardo, nos falávamos sempre pelo telefone, mensagens bobas, mensagens sérias, ele sempre tentava tirar algo sobre mim, e eu ia soltando pequenas informações.

Meu coração chegava a doer de saudade dele, não tínhamos falado sobre o beijo, o leve tocar de lábios que compartilhamos, não sabia como olharia para ele novamente. Estava com saudade dele, com saudade de Coral.

"O que você acha de vir em casa hoje?"

A mensagem chegou enquanto voltava para casa do mercado, era minha folga, precisávamos abastecer a geladeira que só tinha água e algumas frutas. Maite conseguiria fazer refeições com muito pouco, mas não tão pouco.

"Eu posso cozinhar" não conseguia responder com as sacolas em minhas mãos, porém, apenas a imagem de Bernardo cozinhando para mim aqueceu meu coração.

Dei graças a Deus quando vi a entrada do prédio, abri a porta com alguma dificuldade e então corri para o elevador.

Soltei as sacolas no chão e massageei os pulsos, estavam um pouco vermelhos, e meus dedos marcados pela força em segurar as compras pesadas. Claro que a culpa era minha, que mesmo sabendo que seriam muitas coisas, disse que não precisava de ajuda.

Não adiantava pegar o celular para responder as mensagens agora, o elevador logo se abriria em meu andar, e então teria que pegar as compras e não conseguiria responder Bernardo com toda atenção.

Quando abri a porta do apartamento, encontrei Maite jogada no sofá, em suas mãos um livro, seu cabelo estava espalhado pelo chão, respirava como se precisasse de um tempo para pensar.

- O que aconteceu? – perguntei fechando a porta com o pé.

- A personagem acabou de fazer algo muito estúpido, então estou deixando esse livro de lado por um tempo para poder sentir a vergonha por ela.

- Tão grave?

- Muito.

Maite se sentou, e respirou fundo.

- Eu devia ter ido com você, como trouxe tudo isso desde o mercado?

- Tenho duas mãos e braços bem fortes. – seu olhar subiu para os meus braços, e ela fez uma careta engraçada.

- Se você acredita nisso. – revirei os olhos.

- Guarde as compras sozinha, então.

- Eu já ia fazer isso mesmo.

Coloquei as compras em cima da mesa, uma flor de plástico estava no centro, e uma toalha branca. Molhei minha mão na pia, tentando tirar as marcas e fazer com que parassem de tremer.

- O Bernardo me mandou mensagem.

- O que ele queria? – Maite me perguntou, enquanto abria o primeiro armário.

- Me chamou para ir até o apartamento dele, disse que ia cozinhar.

Maite virou com tudo para mim.

- Você vai, não é? Meu Deus.

- Eu vou.

- Graças a Deus. – sorri para ela.

- Não tem mais como ignorar, eu estou completamente apaixonada por ele, e nem sei como vou lidar com isso. Eu ainda sinto aquele tocar de lábios, e foi tão rápido, o que está acontecendo comigo? – me questionei, sentindo uma necessidade de correr.

Encontro ao Acaso - Série ao Acaso [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora