- Tudo bem se a gente for pra minha casa? – quase fui expulsa do café, e agora estava aqui, enfiada no carro de Bernardo. – É mais tranquilo para conversar...
- Tá...
Quando olhei para Bernardo, eu não conseguia acreditar que ele estava ali, que eu realmente estava olhando para ele. Naquela tarde quando saí de seu escritório, tudo que eu pensava era em como seria sorte se eu, ao menos tivesse, um vislumbre do Bernardo. E então estava aqui, encarando seu rosto enquanto ele dirige.
Sério, fechado, como eu nunca tinha visto. O carro parecia que ia me sufocar, tudo que eu tinha contado continuava voltando a minha mente. Eu achei que tudo tinha terminado, que Bernardo e Alissa não se falariam mais, porém, aqui olhando para ele, tudo que eu queria era mais uma chance.
O rádio estava desligado e o trânsito livre, então o caminho foi rápido, e silencioso, como nunca tinha acontecido antes, como se não nos conhecêssemos mais, como se existisse um vácuo sem tamanho entre nossos corpos, e isso impossibilitasse qualquer tipo de comunicação. Eu não ia chorar.
Quando, enfim, paramos em sua rua, eu só podia agradecer por, pelo menos, ter Coral para fazer barulho.
Andamos lado a lado até sua porta. Abaixei-me para poder cumprimentar a cachorra que veio correndo em minha direção, seu focinho se arrastava por meu rosto, como se tivesse sentido saudade, não fazia tanto tempo que eu não vinha aqui, mas também sentia falta dela.
- Vamos? – a voz de Bernardo me despertou e lembrei o porquê de eu estar aqui.
- Claro...
- Eu só vou deixar a Coral lá fora um pouco, e colocar comida para ela, tudo bem?
Não sabia o que estava acontecendo, era estranho, nem mesmo quando nos conhecemos fomos tão formais perto um do outro, agora parecia que um abismo tinha se aberto entre nós, e ele era grande.
Me sentei no sofá, e fechei os olhos ao deixar minha cabeça cair sobre o encosto.
- Desculpe, eu não consegui voltar durante o almoço para colocar comida pra ela.
- Bernardo, só fale logo, eu não sei o que você quer falar comigo, sendo que já falamos tudo. – pedi, nervosa, minhas mãos tremiam.
- Não... – um sorriso surgiu em seu rosto – você falou...
Era verdade, nunca tinha falado tanto sobre minha própria vida. Bernardo segurou minha mão e só aquele toque me fez sentir tanto. Meu coração apertou.
- Posso falar, Alissa? – perguntou.
- Claro...
De novo, ficamos em silêncio, dessa vez, pelo menos, Bernardo me olhava. E eu podia ver em seus olhos que ele tinha muito para falar. Meus dedos começaram a fazer carinho em sua mão como se precisasse daquilo, como se meu corpo não soubesse ficar bem sem o dele, e talvez fosse verdade.
- Alissa... primeiro, eu sinto muito. – o ar ficou mais pesado. – Eu nunca deveria ter duvidado de quem você é, eu sempre soube, mas tudo que aconteceu, eu... acho melhor explicar do início.
Bernardo respirou fundo, e se levantou.
- Quando eu te conheci, eu soube, Alissa, eu soube que você seria aquela por quem eu poderia me apaixonar, e foi besteira pensar que você poderia ao menos se juntar com pessoas como aquelas. Eu sei que são seus pais, mas você nunca nem mesmo mostrou ter um pingo deles em seu sangue.
Fechei os olhos, pensando em como era um alívio pensar sobre aquilo.
- Eu sinto muito Alissa, se te feri, se fiz com que você acreditasse que o que eu sentia podia ser tão facilmente esquecido por causa dos seus pais. – sua voz estava forte, mas eu podia ver que ele tentava montar todas as frases antes de me dizer – Eu não vou mentir, mas depois de dizer que te amava e ver seu pai ali, um cara que eu detesto... e então sei que eu deveria ter pensado antes de fazer uma acusação como aquela, até porque não estamos em um filme de ação. Somos dois jovens que se apaixonaram e querem tentar.
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Encontro ao Acaso - Série ao Acaso [COMPLETO]
Roman d'amourAlissa e Maite dividem muitas coisas, um apartamento, um emprego e uma amizade que surgiu do jeito mais inusitado. Não poderia ser diferente quando as duas se apaixonam ao mesmo tempo, ao acaso o amor pode chegar para qualquer um. Alissa nunca foi...