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Maite 

Fechei o livro pela última vez, é claro que eu dizia que era a última vez pela milésima vez, eu não era boa em guardar rancor ou manter promessas. A protagonista do livro era eu, fazia tanto tempo que lia, que até começava a confundir nas linhas onde começava quem ela era e terminava quem eu era. Ou o contrário.

Constantemente me via perdida, como ele pode fazer algo assim? Era tão fácil ser invasivo desse jeito com a vida de outra pessoa?

Ouvi o riso do casal de apaixonados na sala, e guardei o livro na estante, eu tinha ganhado o manuscrito, mas depois que saiu fui correndo para a livraria comprar e completar a coleção de Arturo.

O cara que eu gosto é também o autor que eu amo, e o autor que eu odeio.

Minha vida não poderia estar pior, me sentia estranha e tudo que eu conseguia pensar era em me enfiar num buraco no chão e só sair de lá com o meu diploma em mãos e uma cafeteria em Paris, podia ser uma filial da Flores e Café, eu não iria reclamar.

- Maite, vamos – Alissa me chamou, e saí do quarto, eu ia passar uns dias com minha mãe, por isso levava uma bolsa, enquanto Alissa apenas levava Bernardo.

Ele era legal, do tipo, legal "legal", e não legal "é dá pra aguentar", era bonito também, foi bom acompanhar todo o relacionamento dos dois, mas também estava na hora de viver o meu.

- Custa me esperar? – perguntei, e Alissa sorriu, ela era linda, do tipo que parecia uma boneca.

- Como se eu não soubesse o que você estava fazendo...

- E o que ela estava fazendo? – Bernardo questionou, e apenas lancei um olhar zangado para ela.

- Nada... pegando livros para ler.

- Você tem certeza que sua mãe não precisa de nada? – cara legal.

- Não, só está sozinha, e como o Rique vai fazer algumas mudanças no café, preferi ficar com ela um pouco.

- Vai dormir no meu carro?

- Uma vez, Bernardo, uma única vez e agora eu sou vista como a garota que dorme em qualquer lugar, isso não é real, ok?

- Não está mais aqui quem falou. – levantou aos mãos e sorriu para mim.

- Obrigada, e vamos logo, temos trânsito pela frente.

- Por que você está tão irritada, Maite?

Alissa tinha ficado dez mil vezes mais feliz desde que começou a namorar Bernardo e voltado a falar com seu pai, é claro que eu não confiava no velho caquético e ainda acreditava que ele tentaria usar essa reaproximação para que Alissa tivesse que fazer algo por ele.

- Porque você está me irritando, Alissa.

A porta do elevador abriu, e um casal saiu de lá arrumando as roupas, era o casal que transava em qualquer lugar. Uma vez estava descendo as escadas e os dois estavam lá, eu não ia voltar tudo para pegar o elevador, então só passei do lado, o cara teve a pachorra de fazer um sinal de positivo pra mim.

Qualquer dia ainda vou encontrar os dois transando dentro do meu apartamento.

- Eles são sempre assim? – Bernardo perguntou.

- Sim – Alissa respondeu.

- O tempo todo. – complementei.

- Chega a ser ridículo.

- Nem me fala, lembra daquela vez que eles estavam atrás do balcão do porteiro?

- Eu tenho medo de onde posso encontrar os dois. Certeza que um dia vou abrir a porta do banheiro e eles vão estar transando lá.

Encontro ao Acaso - Série ao Acaso [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora