CAP. XXVIII - 2020.

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Passaram-se 365 dias do último contato de Carolina e Gabriela. Suas vidas foram caminhando, mas não sem sentirem falta uma da outra. Carolina se deu muito bem no after bbb, ganhou muitos patrocínios de marcas de vida saudável e academias. Não era difícil ver Carol garota propaganda, em varios outdoors espalhados pelo Brasil. Seu brechó abriu filial em São Paulo e no Rio de Janeiro, o que fazia a baiana ter quase que residência fixa nas duas cidades, além da amada Salvador. O único contato entre o "gafish", era um grupo de WhatsApp que havia se formado assim que saíram da casa, com todos os participantes. Mesmo assim, responder "bom dia" não é um contato de fato, é?

POV - Carolina.
Minha vida deu um giro de 360 graus no último ano. Sou muito grata a tudo que aconteceu, principalmente depois do programa. Vivo na correria, que é a forma como gosto de estar: sempre em movimento. Sinto falta de Gabrielis. Não nos falamos há mais de 1 ano, tudo acabou sem nem ter começado e ficou uma bagunça dentro de mim. Não tentei sair com outra mulher e, quando sai com alguns caras, não parecia mais tão certo. Não sei explicar, é como se meu corpo não encaixasse mais neles. Clarisse acha que eu deveria sair com uma amiga nossa que sempre foi doida por mim, mas não tenho coragem de alimentar mais esse tipo de história. O problema dos caras é que não encontrei nenhum interessante o suficiente. Sempre gostei de cuidar da minha imagem, mas não significa que sou fútil. Na maior parte do tempo os caras estão levantando peso e sequer leram um livro durante toda sua vida. Como que conversa com um boy desses? Barril!
O fandom Gafish existe até hoje e elas são sinistras: sabem tudo da nossa vida, antes mesmo de NÓS. Oxê, é muita loucura. Não posso reclamar, já que foram elas que me ajudaram dentro do programa e fora dele, também. São as melhores fãs do mundo. Esse dia fizeram uma montagem preto e branco minha e de Gabrielis, num lugar onde nunca estivemos juntas: no farol da barra.
Quando estávamos perto, tão conectadas, as dúvidas me matavam. Dúvidas que não tinham nada a ver com a Gábi, mas comigo. Mesmo que tudo tenha sido tão exposto, a grande maioria das pessoas ainda não acreditava no que via: viam uma mulher hétero desesperadamente carente que se deixou levar pelo momento. Poucas pessoas, tirando o fandom, viam verdade no sentimento. Até mesmo EU. Acreditei durante esse 1 ano todo que meu sentimento por Gabrielis era uma carência monstruosa e que, aqui fora, ela seria uma amiga maravilhosa, quem sabe até uma melhor amiga. A verdade é que eu queria ter dividido muita coisa com Gabi que aconteceu nesse último ano. Queria dizer que sinto saudade, que sinto falta, que gosto dela de verdade mesmo....dos abraços....dos bei....
Oxê, Carolina. Se preserve, fia! Essa questão tá resolvida dentro de você.

- Ei, mana, Felipe vem pro carnaval? - Clarisse pergunta tocando o ombro da mais nova.
- Sei não, não conversei com ele sobre isso. A gente não tem nada sério, você sabe.
- Até comercial de jeans vocês fizeram juntos, otaria. - Clarisse toma um gole de café.
- Dinheiro, né, Clarisse. Dinheiro, minha filha.

Felipe. Felipe Roque. O próprio. Carolina saiu algumas vezes com ele e os jornais e fofoqueiros de plantão foram a loucura: manchetes, sites de fofoca e até alguns patrocinadores investiram pesado na relação. As marcas contrataram os dois para algumas propagandas, fotos, e seus corpos seminus estavam em varios canais de TV e outdoor's pelo Brasil, inclusive Ribeirão Preto.

-Não te falei, Gabi? Eu te falei. - Maria Laura aponta para o outdoor onde se encontra o "casal" sensação.
- Low, pelo amor de Deus. Um ano desse papo e você continua com isso de "eu avisei"?
- Eu te falei que ela tava te usando, não falei? Eu te falei!

Gabriela e Low não haviam retomado o relacionamento. Por mais que Maria Laura tivesse investido pesado, Gabi estava se bastando sozinha. Se algo de bom o programa trouxe além do dinheiro, foi a autoconfiança de volta.
Gabi estava milionária e, no último ano, havia ganho ainda mais dinheiro, fruto da inteligência de investir seu milhão nas coisas certas. Low, uma velha conhecida e sua melhor amiga, Eliara , ajudavam com tudo. Gabriela investiu em sua carreira musical, que era o que a fazia feliz de verdade. Depois de varios feat's com os nomes dos negros mais influentes da cena atual, Gabi começou a se aventurar em compor. Em segredo, havia escrito uma musica para Carolina, mesmo com todos os boatos, o relacionamento novo da baiana, Gabi não conseguiu esquecê-la.
"Ela é, de longe, a coisa mais bonita que senti. A mais forte, a mais simples, a menos complicada. Eu gosto. Eu amo. Ponto. Sem posse, sem ter, ainda assim, amo".  Gabriela escreveu uma música que tinha certeza de que ia ser sucesso. Esperava o momento certo para colocá-la no mercado, pois poderia ressignificar tudo depois de 1 ano tentando se reconstruir. O negócio é que a construção era um castelo de areia que desmoronaria assim que se vissem de novo, assim que seus olhares se encontrassem.

POV - Gabriela.
- Gabi, tenho uma coisa para te dizer: Guilherme, um dos organizadores do AFROLAB, enviou uma proposta para você cantar num palco de cultura preta do carnaval de Salvador desse ano. A proposta é ótima, um palco onde você é a artista principal.....
- Aceito.
- Mas aí as datas se chocam com as datas do Rio de J....
- Não importa, desmarca e vamos para Salvador. Tá decidido. - Digo, tentando não parecer ansiosa com tudo isso.
A ideia de ir a Salvador depois de tanto tempo me deixa de pernas bambas. Estar assim, tão perto de Carolina me traz um frio na barriga antes esquecido. É a oportunidade perfeita de lançar minha música. Sinto tanta saudade da minha baianinha, se ela soubesse. Tentei diversas vezes retomar o contato, mas Carolina parece tão ressentida. A vejo com o rapaz, no seu novo relacionamento, e não consigo conter o pequeno desespero em pensar que ele a vê nua, toca, beija sua boca. Aquela boca que antes estava grudada na minha, no banheiro de uma boate qualquer no Rio de Janeiro. Começou tudo tão errado entre a gente. Mesmo que ela não tenha ideia do que sente por mim, eu preciso tentar, preciso que ela escute a música que eu venho cantando há 1 ano só para mim. Amo Carolina, do jeito que ela é. Queria saber consertar tudo isso, saber como fazer pra ela ter certeza do meu sentimento e principalmente do sentimento dela. Mostrar que eu posso ser melhor que esse tal de Felipe, apesar dele ser um gato do caralho.

DE VOLTA A SALVADOR.
- Mana, deixa eu lhe dizer: sabe o Gui, do AFROLAB aqui de Salvador? Te convidou pra estar no camarote do palco principal do carnaval desse ano. Ainda vai pagar pela sua presença. - Clarisse diz, olhando os dedos de Carolina tamborilarem na mesa.
- Tamo mais que colada, otaria. Os melhores artistas tão no palco da AFROLAB: Carlinhos Brown, Olodum e todos os outros. - Carolina diz, com aparente felicidade.
- E nem é no mesmo dia de Ivete, que Lívia também arrumou camarote pra gente.Inclusive tem um ingresso sobrando e da pra você levar Felipe... - Clarisse joga no ar.
- Se saia, Clarisse.
Clarisse já sabia que Gabriela vinha para o AFROLAB e Guilherme era seu comparsa para fazer acontecer o novo reencontro gafish.

POV - Clarisse.
Eu tenho certeza que essa otaria gosta de Gabriela. Posso querer que seja verdade? Posso querer? Tá armado o reencontro.

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