Prisão

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Não há mais para quê falar
Se o silêncio já diz tudo que preciso ouvir
Não há mais porque chorar
Se não há mais lágrimas p'ra sair

Numa alcova reentro-me
Em algemas, sutis, enredo-me,
Mas não mais sei o porquê
Nem palavras nem sons sabem dizer

E ainda assim, presa sinto-me livre
Só, sinto-me em casa, fria sinto-me aquecida,
Pois só quem é pueril conhece as dores da frivolidade
E de dores me regenero, como nas cinzas uma fénix

Não preciso de olhos para ver
Não preciso de ouvidos para ouvir,
Pois, de que adianta sentir?
Se quem sente sofre por ter?

Então, prendo-me novamente
E, mantendo a mente inconsciente
Deslizo as mãos por cordas invisíveis
Profiro palavras antes indiziveis

E retomo a minha missão

Continuo vazia, continuo rasgada
Sou livre, mas me sinto enjaulada
Viver não mais faz sentido
Correr atrás de sonhos que não mais estão comigo

E rendo-me a esse colossal abismo que me chama.

Poesias De NinguémOnde histórias criam vida. Descubra agora