My Salvation (HIATUS)

Capítulo 13

Despertei na manhã seguinte, sentindo o braço pesado de Peter sobre mim. Levantei calmamente, mesmo sabendo que seu sono era pesado e ele nunca acordaria. Me dirigi até o banheiro e tomei um banho. Prendi o cabelo num coque bem despojado e procurei por uma roupa. Acabei optando por um moletom largo branco e uma calça preta. Vesti meu converse preto e quando finalmente estava pronta, peguei minha bolsa, minhas chaves e fui em direção ao meu trabalho.

- Bom dia, senhorita Min! - cumprimentei-a com um sorriso.

- Bom dia, Mila! Não esqueça de fazer minha reserva para 2 para o almoço, por favor! - já ia me dirigindo à minha sala com o objetivo de ligar para o Gramercy Tarven, quando fui impedida por Yoongi que entrava na sala.

- Beth, será que a Jiyu poderia almoçar com a gente? Isso se você quiser, claro... - Yoongi disse a última parte olhando diretamente para mim.

Yoongi e Elizabeth me olharam, como quem estavam esperando por uma resposta da minha parte. Minhas bochechas coraram enquanto meus olhos se arregalaram bruscamente. Trabalhava para Elizabeth Min à anos, mas nunca havíamos almoçado juntas, muito menos em seu restaurante favorito. O Gramercy Tarven era um restaurante fino e bastante reconhecido e claramente um lugar caro. Mais um motivo para eu nunca ter frequentado o lugar nem uma vez sequer.

Quando percebi que fiquei um bom tempo sendo encarada pelos dois irmãos, resolvi finalmente me pronunciar.

- Eu preciso ficar para terminar um trabalho, desculpa... - Yoongi abaixou a cabeça, parecendo um pouco dececionado com minha resposta.

- Sem problemas! - Senhora Min disse, voltando à seus afazeres, enquanto eu me retirava de sua sala junto com Yoongi.

Reparei no homem mediano de cabelos negros à minha frente que andava em direção à minha sala. O mesmo homem que não me suportava não muito tempo atrás e que hoje me convidou para almoçar. O que havia de errado com ele? Assim que nos sentamos em minha mesa, resolvi tirar isso à limpo.

- Por que isso? - falei de repente, fazendo-o me olhar rapidamente.

- O que?

- Por que me convidou para almoçar com você e a senhorita Min? - tentei não expressar nenhum sentimento.

- Bom... Eu pensei que...

- Yoongi - o interrompi - Eu não sei o que você acha que aconteceu comigo, mas saiba que eu não preciso que você sinta pena de mim. Não aja como se não me odiasse. Você me trata mal desde que pôs os pés nesse lugar e sem que eu tivesse culpa de nada. Então não somos amigos e não, eu não vou almoçar com você - soltei tudo de uma vez só, me arrependendo no mesmo minuto.

Me virei, buscando pelo telefone e ligando para o número do restaurante que já ficava anotado bem ao lado.

Eu e Yoongi não trocamos uma palavra sequer até a hora do almoço, quando o mesmo foi chamado por Elizabeth. Eu errei em tê-lo tratado daquela forma, mas ele me tratou até pior desde que chegou aqui. Eu sabia que ele tinha seus problemas, mas eu não tinha culpa e ele deveria saber disso.

- Tudo bem... Eu vou pedir desculpas - pensei alto.

Me assustei com o toque do meu celular. Busquei pelo aparelho em minha bolsa, vendo o nome de Jungkook aparecer no visor.

- Oi, oppa!

- Oi, Milinha! Só pra te avisar que não vou pra faculdade hoje, então não se assuste com minha ausência - fiquei triste ao ouvir aquelas palavras.

- Poxa... vou sentir sua falta! Mas aconteceu alguma coisa? Eu posso ajudar?

- Não, é que Yugyeom hyung vai viajar por um tempo e eu vou ter que levá-lo ao aeroporto. O vôo dele é as 20h.

- Ah, tudo bem então! Até me ofereceria para ir junto, mas quero evitar problemas... - pensei no que Peter poderia achar disso.

- Sem problemas, eu entendo! Vou desligar, não quero atrapalhar seu horário de almoço. Beijo e até amanhã - nos despedimos e finalizei a ligação.

Esquentei o meu almoço e mais uma vez tentei dar uma chance à minha redação. Me sentei no chão com a marmita em mãos e o notebook no colo. Minha mente estava uma total confusão e nem uma frase que prestasse eu conseguia formar. Talvez minha admiração fosse pouco para seguir a carreira dos meus sonhos. Talvez eu não tivesse nascido para fazer aquilo. Talvez eu não tivesse dom nenhum.

Sempre admirei Elizabeth Min, entre vários outros jornalistas responsáveis pelas melhores colunas nos jornais. Desde pequena, eu buscava o jornal na porta e minha vó ria da cena de uma criança sentada à mesa lendo jornal, enquanto bebia seu leite fermentado. E essa cena se repetia todas as manhãs.

Era doloroso pensar nela. A única pessoa que eu tinha no mundo, me deixou tão cedo. Talvez ela não estivesse orgulhosa de quem eu me tornei. Deus me livre não ter o orgulho da minha vó. Não queria vê-la triste comigo, onde quer que ela estivesse, eu precisava encher a minha velha de orgulho.

Yoongi me acordou de meus pensamentos quando entrou na sala. Me levantei, guardando meu notebook e me dirigindo à cozinha improvisada para lavar o que havia sujado. Ao retornar, me sentei à mesa e me virei para Yoongi.

- Me desculpa... - falei mais baixo do que planejava.

- O que? - Yoongi me olhou.

- Me desculpa. Eu não deveria ter sido rude com você. Eu sei que você tem seus problemas e ninguém tem o direito de ser rude com ninguém, não é?

- Sim... você está certa... - Yoongi parecia perdido em seus pensamentos - Eu sei o que você está passando... já presenciei algo parecido.

- Sobre o que está falando? - franzi o cenho.

- Eu não quero me meter na sua vida, Jiyu. Mas ninguém merece passar por isso - Yoongi respirou fundo e prosseguiu - Meu pai bebia muito e minha mãe nunca foi lá uma pessoa carinhosa, sabe? Quando eu era pequeno, uma vez eu cheguei da escola e meu pai estava ameaçando minha mãe. Ele estava aparentemente alterado e xingava minha mãe de vadia, dizendo que se "ele" mexeu com ela, foi porque ela permitiu - eu prestava atenção em cada palavra que ele dizia - Quando minha mãe tentou se defender, ela a acertou no rosto. Minha mãe caiu no chão e ele ficou por cima dela, acertando-a cada vez mais forte. Eu corri e o empurrei, o derrubando no chão, mas minha mãe não gostou. Ela se levantou e me puxou até meu quarto, dizendo que eu deveria ter respeito porque ele era meu pai. Ela me acertou um tapa no rosto e saiu do quarto.

O olhar de Yoongi estava vazio, sem vida. Quanto mais ele contava, mais se afundava em uma nuvem cinza.

- Yoongi... - tentei dizer, mas fui interrompida.

- Ela nunca o deixou, ela sempre pertimiu que ele fizesse isso porque achava que deveria ser grata à ele por sustentá-la. Sempre que eu tentava protegê-la eu apanhava. Até que eu resolvi deixar aquele inferno e vir morar com Elizabeth aqui em NY. Meu pai morreu no ano passado e minha mãe acabou ficando sozinha na Coréia. Elizabeth sempre a visita e diz que ela perguntou de mim, mas eu sei que não é verdade. Ela nunca amou nem à mim e nem à minha irmã, e eu admiro muito Elizabeth por ser tão forte em relação à tudo isso e ainda se importar comigo. Eu não sou um bom irmão, eu não fui um bom filho e eu me castigo diariamente por isso...

Yoongi abaixou sua cabeça, permitindo que uma lágrima solitária percorresse por sua bochecha.
E então eu percebi que ele, até hoje, nunca havia falado sobre esse assunto. Era doloroso lembrar do seu passado, de sua mãe, de sua infância.

- Me desculpa. Eu não deveria ter enchido você com isso... - ele riu fraco, já se levantando e indo em direção à porta. Mas eu o impedi, segurando-o pelo pulso.

- Me desculpa. Eu não quero ser a sua mãe. Eu não vou mais permitir que ninguém toque em mim. Eu prometo - disse, de cabeça baixa.

Senti seus braços em volta do meu corpo.

- Você não está sozinha, Jiyu!