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Marina

Era um dia típico de primavera, as flores desabrochavam e assim que desci do ônibus uma brisa fria tocou meu rosto e as partes expostas do meu corpo, me fazendo estremecer. O dia era frio, principalmente no pequeno vilarejo em que eu vivia, onde as árvores faziam parte de todo o cenário sem falar nas outras espécies de plantas que enfeitavam as varandas de todas as casas por ali. Era um vilarejo situado em um lugar alto, com vários penhascos e lagos por todo o canto.

Mudamos para cá quando eu tinha cinco anos, minha irmã mais nova estava doente e meus pais queriam tranquilidade para cuidar dela, lembro que eu chorei uma semana inteira por ter que deixar a escola em que estudava e meus amigos. Eu fiquei trancada em casa, me recusando a sair e reconhecer o lugar, estava sentindo a devastação que uma criança de cinco anos sente ao deixar os amiguinhos para trás.

Então ele apareceu. Eu estava sentada na minha cama, brincando de boneca no segundo andar da casa, quando alguém bateu à janela. Levei o maior susto porque ali era muito alto para alguém com boas intenções subir, mas então eu o vi. Um garotinho de oito anos vestindo calça de moletom e camisa do homem aranha olhava para mim com os maiores olhos verdes que eu já tinha visto, o cabelo castanho apontava para várias direções e ele tinha remela nos olhos.

"Seus pais não te deixam sair?" Perguntou ele se segurando no galho de árvore que o ajudou a escalar até ali, eu estava de olhos esbugalhados ainda segurando a boneca que tinha nas mãos. Não respondi de imediato o que o fez falar de novo.

"Sério, eu vi você chegando e queria brincar com você, mas você não saia, então te vi pela janela e decidi vir aqui. Acho que seus pais estão te prendendo e eu vim pra te salvar, sou o homem aranha tá vendo?"

E foi ali que conheci o meu pequeno "salvador" que viria a ser o meu melhor amigo e uma das pessoas mais importantes da minha vida.

Gael Meireles cresceu junto comigo, depois daquela tarde de verão em que ele bateu à minha janela nos tornamos inseparáveis, confidentes, sabíamos tudo da vida um do outro.

Só que eu estava prestes a descobrir uma coisa que poderia mudar tudo.

***

Como o ônibus sempre fazia a última parada na entrada do vilarejo eu teria que andar o restante do trajeto até minha casa, cerca de um quilômetro. Eu tinha tido um dia estressante, fiquei horas tentando organizar uma turma de vinte crianças para as fotografar para uma campanha na escola. Vinte crianças em uma sala, uma adulta tentando controla-las, não foi uma tarefa fácil, o que resultou em uma tremenda dor de cabeça. Eu só queria cair na cama. Eu amava fotografar, era minha paixão. Mas as vezes eu me sentia esgotada.

Comecei a caminhar para casa ajeitando o casaco no meu corpo e a mochila com os meus equipamentos nas costas. Era um fim de tarde gelado e eu estremecia.

Todo mundo ali se conhecia e eu não podia deixar de cumprimentar algumas pessoas que passavam por mim, o que deixou o caminho bem mais demorado.

Então alguém passou correndo por mim só para depois fazer meia volta e parar na minha frente.

- Eu quase não te reconheci por baixo disso tudo. Dia difícil? - Perguntou o homem de vinte e oito anos de um metro e noventa de altura e cem quilos de músculos. Gael, também conhecido como meu melhor amigo se adiantou e pegou a mochila das minhas costas começando a andar junto comigo.

Ele usava roupas de corrida e o cabelo castanho estava bagunçado, o rosto corado do exercício destacando seus olhos verdes.

- É, bem difícil, estressante na verdade. Veio passar o fim de semana?- Perguntei enlaçando meu braço no dele. Ele morava na cidade por causa do trabalho. Gael era o dono de uma editora. Ganhava muito dinheiro e eu queria ser ele.

Permaneça ( COMPLETO ) Onde histórias criam vida. Descubra agora