4《 Desligando a humanidade 》📃

513 76 33
                                    

Tenho o costume de dizer que meus dias cinzentos dão uma pausa pelo menos uma vez no mês, um único dia em que permito risadas ecoarem das cordas vocais, agindo  como uma jovem normal em um dia comum ao lado das pessoas que mais ama, pelo menos das duas que mais ama. Tem vezes que desejo que o dia nunca acabe, mas ele sempre chega ao fim, então a esperança que brilhava se apaga, percebo quanto idiota sou de acreditar que por segundos ainda há jeito para o que me tornei, mas não, não há. Meus pensamentos nesse único dia do mês costumam ser perturbadores diante da Hope que me tornei, são opostos do realmente sou e isso não vai mudar, não podem criar força, por isso quando o dia acaba me lanço na vida matando cada um dos pensamentos bons!

— Pensando em mim? — Não notei o carro se aproximando até que ela abriu a janela.

— Não! — respondi afastando-me das grandes do portão do cemitério. Ela maneou a cabeça para que entrasse no carro, assim fiz sendo envolvida por um abraço apertado ao assentar a poltrona. — Também sentir sua falta!

— Eu sei! — disse abrindo espaço entre nós. — Mas não mais do que sinto de você, pode apostar. — Ela voltou a conduzir o veículo adentrando ainda mais o cemitério, até chegamos no lugar que mamãe está. Sinto um calor descendo a garganta e contaminando meu peito por inteiro, em toda sua extremidade. Ela era uma mulher boa, não merecia ter morrido em um latrocínio. Ele poderia ter impedido, mas nada fez, O chamam de justo, porém não foi nada justo o que deixou acontecer com ela.

Zoe estacionou o carro e saímos para começar o pequeno percurso final a pé. De mãos dadas caminhamos entre o campo verde enfeitado por várias lápides, algumas debaixos de árvores que proporcionam sombra, a da minha mãe fica debaixo de uma, por isso ficamos o dia todo aqui. Zoe já está acostumada a ver as lágrimas molhando meu rosto todas vezes que andamos nesse local, é a única que desde que mamãe morreu que permito conhecer a eterna tristeza, nem todo mundo que nos cerca é digno de conhecer nossas lágrimas, Zoe com certeza é digna de conhecer as minhas.

O que trouxe para comer? — perguntei sentando em uma das raízes grossas olhando a lápide de Samantha Chenegs Soure a frente. Zoe estendeu uma toalha azul na grama e mostrou o que trouxe.

— Sanduíche, bolo de cenoura com cobertura de chocolate, suco de goiaba, maçã, banana e para o almoço carne assada com arroz branco e salada — disse tirando cada item da cesta que tinha em mãos. — A carne está na caixa térmica pra não esfriar.

— Está faltando...

— Calma cabeça de cenoura, está aqui sua Nutella. — Sorriu balançando o último item da cesta. Puxei de sua mão, abrir metendo o dedo e levando a boca.

— Nojenta não é só você que vai comer. — Puxou novamente para si e alcançou a colher para tirar o seu bocado.

— Como estão indo as coisas? — indagou pondo a Nutella entre nós duas e entregando a minha colher.

— Está a mesma coisa. Vou te poupar de detalhes, não estou afim de receber sermão — declarei naturalmente. Ela sabe com quem namoro e de como meu estilo de vida não é nada agradável a ninguém da minha ex-família .

— Não vale, se não de ter sermão vou passar o dia fazer o quê? — questionou com sorriso zombandeiro.

— Comendo. — Apontei para a multidão de alimentos na toalha.

— Vou lá com ela — disse levantando. Alguns Passos dados e estava na lápide.

— Lembre-se que ela não está aí — relembrou.

Deitei na grama a frente, com minha cabeça próxima a lápide fechando os meus olhos.

— Sei que não está aí. Mas foi a única coisa que restou de você pra mim mamãe. Sinto tanto a sua falta! — Meus olhos se tornaram cachoeira percorrendo o canto dos meus olhos chegando a molhar minhas orelhas.

Ainda há Esperança (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora