18• | Mãe e flores | Hope💫

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Provérbios 18

7. A boca do tolo é a sua própria destruição, e os seus lábios um laço para a sua alma.

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Hoje é um dia mui especial.

É o dia de comemoração por mais um ano de vida de dona Andreza. Minha querida, agradeço a Deus por fazer parte de sua vida — ainda que seja somente pelo wattpad — que o eterno de abençoe e realize os planos que Ele tem para sua vida. Se esconda no coração do Aba e nunca deixe, nem por segundo, de confiar em seu amor, e de acreditar no quanto é amada. Ele tem sonhos grandes pra você, independente do que está diante dos seus olhos, nunca esqueça: — Deus extraordinário, sonhos extraordinários.
Feliz aniversário!
Y love you ♥️

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Obs: Não será um capítulo fofo, não julgue a Hope, cada pessoa lida de forma diferente com o sofrimento. Capítulo terá continuação.

💫

— Esse cabelo loiro... — David deixou a frase morrer e fez uma careta de que não gostou. — Nem sei mais com o que de comparar, ficou tão sem graça. — implicou com um olhar de superioridade para depois ser dominado por risadas.

— O cabelo é meu, gostei dele assim, ponto final! — eu disse com orgulho. Peguei a colher e levei um pedaço de bolo a boca.

— Filha, nunca imaginei que você pintaria o cabelo, quando Kel chegou com você no colo, eu perguntei pra ele por que estava carregando uma menina loira pra dentro da minha casa. — Ele sorriu ao lembrar. — O cabelo estava cobrindo o seu rosto e digamos que você deu uma engordadinha...

— Pai! — Me fiz de ofendida. Desde que aprendi a cozinhar não consigo controlar, estou fazendo a refeição e belisco pra cá e pra lá, um pouquinho daqui, um pouquinho de lá,  impossível não engordar.

— Você pesada 45 kg, agora está pensando o quê, 50?  Meu Deus! Tenho uma irmã baleia — ironizou o meu querido irmão. A magreza me perseguiu a partir da adolescência, por isso, mesmo que esteja normal e pareça magra para quem me conheceu recentemente, na verdade estou gorda comparado a antes.

— Eu lutei tanto para ter uma filha de cabelos de fogos e ela vem e pintar — lamentou-se debochado. — O sonho da maioria das mulheres é ter cabelo ruivo, a que possui quer ser loira, não entendo. — Revirei os olhos de seu comentário e ele segurou minhas mãos sobre a mesa. — Ruiva ou loira, o importante é ter você de volta. Sentirmos tanta a sua falta! — Meus olhos arderam e pisquei várias vezes expulsando os resquícios de lágrimas.

— Diga isso pelo senhor, eu não sentir nada! — David se fazendo de durão afirmou, mas a gota solitária que escorreu pela sua bochecha disse o contrário.

— Vocês tem medo de me odiar novamente após essa conversa, não é? — perguntei quebrando o clima descontraído.  — Por isso estão fazendo piadas e sorrindo, aproveitando que ainda estou aqui, porque me amam, mas não sabem se serão capazes de me perdoar novamente, pelo menos não agora?! — respirei fundo, pedindo a Deus para que segurasse em minhas mãos.

— Hope, seja o que você tenha para falar, se não quiser, não precisa dizer agora. — Papai disse com cautela. — Podemos conversar amanhã, acertar tudo. Está anoitecendo e seu dia foi exausto.

— Pai, não dá! Não posso mais adiar isso. Já adiei por tanto tempo que causou tantas feridas em todos e me fez fazer coisas horríveis. Esses dias estava pensando que se tivesse conversado com vocês logo que aconteceu, eu não teria afundado tanto. Mas achei que o fardo e a culpa eram minhas e precisava pagar, fiquei com raiva de Deus por ter permitido que tudo acontecesse daquela forma — confessei. — Queria feri-lo da forma que achei que Ele tinha me ferido. Me perdoe, Papai... David, meu irmão me perdoe, eu queria que as coisas fossem diferentes. — Minha voz ficou entrecortada, tive que fazer uma pausa para continuar. Não conseguia olhar em seus olhos, dizia tudo olhando para minhas mãos girando uma dentro da outra sobre o meu colo.

— Depois de culpar a Deus, vi que não havia consolo para mim, já que tinha afastado o Único que poderia me trazer consolo. Fiquei procurando um culpado, culpei o senhor por tê-la levado naquele jantar, fui egoísta em pensar que podia ser a tia Rebeca e não ela. Pensei tantas atrocidades procurando um escape para aquela terrível dor na qual me encontrei. Eu culpei a ela mesma — confessei sentindo cada palavra rasgando meu interior, como se mãos estivessem estilhaçando cada parte. — No dia do velório pedir para ficar a sós com ela,  lembra pai? — Ele assentiu. Travei por alguns segundos lembrando da cena. Ela usava um vestido branco com detalhes dourados, o cabelo ruivo estava sobre o busto, seus olhos fechados, o rosto pálido. Assim como foi enquanto vivia nesse mundo, ainda existia vida em seu semblante pálido. — Ela sempre foi tão forte, cheia de vida, enfrentou cada situação que muitas pessoas não suportaram e muito menos superaram e, de repente uma única bala foi capaz de tirá-la de mim. Ao colocar as flores ao redor de seu corpo eu devia ter dito o quanto estava doendo, o quanto sentiria sua falta, o quanto meu mundo não seria mais o mesmo e nem o mundo daqueles aquém amava, o quanto eu a amava. Mas eu não disse, eu fiquei com raiva. Meu último momento a sós com a minha mãe foi o pior de todo a minha vida. Nunca a desrespeitei e muito menos a humilhei com palavras. Mas diante de seu corpo eu disse o quanto ela tinha sido fraca, o quanto não tinha lutado nem ao menos para dar tempo de me dizer adeus. O quanto foi fraca e eu a adiava por isso, então cada flor que colocava eu cuspia primeiro e deixava ao lado do seu corpo, sobre o seu corpo e dizia que ela era fraca. — Levantei gritando as palavras horríveis que tinha dito a minha mãe. — Eu sempre a idolatrei, ela sempre foi minha heroína, e como uma louca, me despedir dela como se ela tivesse sido a pior pessoa do mundo. Eu abrir a boca para dizer que tinha vergonha de te uma mãe tão fraca, só para depois me dar contar da merda que eu fiz, quando vocês chegaram para me tirar de perto do caixão não estava surtando por perdê-la, mas por ter feito a maior merda da minha vida. Não havia mais como voltar atrás e nunca tive coragem de dizer que fiz algo tão terrível assim. Eu sou um monstro! Repetia pra mim mesma e foi isso que me tornei. Eu não espero que vocês me perdoem, não agora. Meu consolo é que depois de tudo que fiz, de tudo que causei Deus tem misericórdia de mim, ele me quis mesmo assim e sei que....

— Você não disse isso para a minha mãe, você não disse, Hope! — David avançou com fúria para cima de mim. Papai não teve outra reação a não ser segurá-lo. — Você não cuspiu nas flores dela, isso não é verdade, isso não é, está me ouvindo? — Ele tentava se soltar de papai. David reagiu da mesma forma que eu reagiria se fosse ele no meu lugar. Mamãe era a mulher mais brilhante e honrada que conhecíamos.

— Me perdoe.... Por favor.... Eu estava enlouquecendo de tanta dor... Não justifica eu sei.... Eu mereço o seu desprezo. Desonrei a mulher mais honrada desse mundo....

— Sai dessa casa, sai da casa da minha mãe, sai agora! — Ele conseguiu se soltar e avançou em minha direção. Conseguir desviar e correr para dentro do quarto. Papai gritava para David parar e a última cena que vi foi papai se jogando sobre o corpo dele o paralisando, enquanto eu corria pelo corredor rumo a escada. Minha respiração estava ofegante e não conseguia mais correr como uma pessoa normal, atravessei a porta cambaleando e sai da casa indo em uma direção qualquer. Não notei que começou a trovejar e do céu cair gotas grossas de chuva.

Ainda há Esperança (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora