7 《 Irmã, irmão e papai 》📃

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Meus olhos percorrem cada estabelecimento, escola, centro de reabilitação, alojamento de pessoas que não tem onde dormir à noite, lojas, quadras e praças dentro do instituto fundado por meus pais.

— Esse lugar é imenso — disse o motorista nostálgico. — Todas às vezes que venho nesse lugar fico emocionado — comentou me fazendo prestar atenção. — Meu filho voltou para casa a três anos atrás, ele estava desaparecido e não conseguimos encontrá-lo de nenhuma forma, ficamos sem esperança. Quando pensei que Deus já tinha esquecido de uma vez por todas de mim, meu filho voltou para casa. Ele era viciado em drogas, sumiu em um dos delírios causado pelo vício. Como não tinha onde dormir, quando estava sóbrio vinha dormir aqui no alojamento. Ele disse que as pessoas daqui não olhavam para ele com pena e nem desprezo. — Vi os olhos do homem marejados mesmo com o sorriso estampado em seus lábios. — Eles o olharam com amor e todas às noites, oravam por ele e um dos jovens pregava a palavra. — As lágrimas desceram, escorrendo lentamente pelos vincos de suas bochechas. — Enquanto estava desesperado pensando que Deus tinha me abandonado, Ele estava cuidando do meu filho nesse lugar. Enquanto o questionava por ter permitido que meu filho se perdesse, Ele estava selando pela segurança dele nesse lugar e salvando sua alma. Hoje meu filho é casado, tenho dois netos lindos.  Tudo graças a Deus, que levantou pessoas para fundarem esse lugar. Não sei o que eles passaram para criar esse lugar moça, sei apenas que são bênçãos na vida de pessoas que nem chegaram a ver o rosto. Nunca cheguei a conhecê-los, mas oro por eles todos os dias. — Sorrir para o homem e lágrimas ameaçaram sair. Tirei o dinheiro da bolsa e deixei no banco detrás, corri assim que o carro estacionou na frente do hospital.

Seguir para o estacionamento ao lado. Procurei um lugar escuro e ali chorei. Minha mãe não foi importante somente para mim, quantas pessoas ela nem conheceu e transformou a vida delas?

— Está vendo? — perguntei com o dedo indicador apontando para o céu.
— Ele nunca vai poder agradecer a minha mãe, você a levou de mim e das pessoas as quais ela fez somente o bem!

Sentei no chão e abracei o meu próprio corpo, o carro preto no qual encostei estava na parte mais escura do estacionamento, dando-me privacidade de desabar o quanto quisesse.

As imagens de uma Samantha sorridente chegando com os dois filhos nesse lugar, pedindo para se comportarem nos corredores do hospital vem à tona, se misturando com flashbacks da adolescência e juventude. Éramos unidos, inseparáveis, papai cuidava da empresa e nós três da ONG, quando podíamos ajudar a mamãe. Se soubesse que ela seria arrancada de mim tão rápido assim, teria desistido de tudo somente para ter mais tempo, mais lembranças com ela. O caixão descendo a cova e a terra sendo jogada em cima como se ela fosse um animal insignificante sendo enterrado  são dolorosas demais. Arrastei meus braços no asfasto causando ferimentos em ambos que logo começaram a sangrar. A ardência de fora foi acalmando o fogo desastroso de dentro.

— Preciso de sua ajuda! — Janayra atendeu a ligação no quarto toque.

O que é dessa vez? — perguntou. — Onde você está?

Estou no hospital da criança aqui no instituto. Preciso que traga álcool, algodão, uma blusa manga cumprida e uma calça jeans. Por favor. Aqui te explico. — Ouvi bufar irritada até que respondeu:

Em quinze minutos, estou aí!

Estou do lado de um carro preto, na parte mais escura do estacionamento.

— Não vou nem perguntar porquê. — disse antes de desligar.

Fiquei os quinze minutos que se transformaram em vinte olhando os ferimentos dos meus braços, o sangue escorrendo sujando o belo vestido foi a distração perfeita até que o carro prata se aproximou.

Ainda há Esperança (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora