Lucas manteve seus olhos fixo em mim. Ele assentou-se na cadeira giratória do computador observando cada parte do meu rosto. Seus lábios tremeluziam, os vincos de sua testa juntavam-se e separavam-se em milésimos de segundos, os punhos cerrados repousaram sobre a mesa. Como uma estátua permaneci no meio do quarto, esperando explicações sobre a ordem repentina de encontrar-me com ele.
Pressenti que seria jogada em um buraco negro que a qualquer instante iria aparecer em algum lugar do quarto, ou o olhar dele me faria desaparecer da face da terra. Sabia que me daria mal de qualquer jeito. Imaginava o que poderia ser, porém, minha reação, por mais difícil que estava sendo, deveria ser a mais natural possível.
A cadeira giratória atravessou para o outro lado do quarto, sumindo para dentro do closet, assim que ele se levantou bruscamente avançando em minha direção.
O oxigênio fugiu dos meus pulmões e encontrei-me prestes a desfalecer ao ouvir o grito de angústia que saiu de sua boca.
— O que eu fiz de errado? — Seus olhos estavam vermelhos, a bochecha, o nariz, todo seu rosto estava rubro. — Me diz Hope, me diz o que eu fiz pra você fazer isso comigo? — Sua respiração estava quente e seus olhos demostravam a decepção que consumia sua alma. Engoli em seco todos os nós que se formaram um atrás do outro durante aqueles poucos segundos. — Hope Soure, diga, agora, o que eu fiz para que você se tornasse esse ser desprezível? — questionou, agarrando em meu ombros e me chacoalhando. O coração não parou quieto e todo o corpo tremeu diante de sua indagação. Os olhos começaram a arder, como se tivessem jogado pimenta sem dó, nem piedade em ambos. Ouvi que me tornei um ser desprezível, da boca do meu próprio pai doeu muito mais do que ver minha mãe sendo enterrada, e eu pensei que não existia dor pior.
— Do... do...do...que ... você está falando? — Ele fitava meus olhos como se tivesse resolvendo uma equação impossível de ter uma resposta exata, por não consegui seus olhos estavam furiosos. Mesmo com as lágrimas caindo, mantive uma pose de durona, por dentro, estava como àqueles que estão prestes a fechar o olhos para o mundo.
— O que foi que eu fiz pra você me odiar tanto? — cuspiu as palavras e tornou a me sacudir, havia desespero em sua voz. O homem diante do meu campo de visão, não era o pai amoroso que criou dois filhos com tanto amor e me via como uma princesa, a sua princesa. A dor dentro do peito, diante de pequenos adjetivos com o qual estava me caracterizando, era pior do que qualquer tortura que pudessem cometer contra o meu corpo.
— Do que você está falando? — soltei suas mãos dos meus ombros e gritei dando passos para trás. Lucas se transformou em outra pessoa, uma da qual eu manteria distância.
— Aonde foi que eu errei na sua criação? Em que momento eu deixei de amar você, de cuidar, de ser um pai cuidadoso e você ficou traumatizada ou algo assim....pra que você se tornasse essa coisa monstruosa, esse ser sem escrúpulos... Me diz Hope, responde. Por que desse jeito poderei entender o que te levou a isso, já que a justificativa que muitos usam é trauma de infância e coisas assim, então diz, quais foram os seus e assim, somente assim, talvez eu entenda, o que te motivou a ser esse ser.... Cara, Hope... Olha o que você fez comigo. Eu estou te odiando nesse momento. Me diga, Hope. O que eu fiz pra você, aonde foi que eu falhei como pai? — Ele chorava e soluçava em meio aos gritos de desabafo. Suas palavras eram certeiras, destruíam cada célula do meu corpo, e quando um pouco de oxigênio permitiu ser inalado, notei que estava no chão jogada pedindo que ele parasse de falar, porque aquilo doía mais do que está sendo açoitada.
— Para, para, para... Por favor, para de falar — supliquei em meio aos grunidos de dor. Minha mãos envolveram meu corpo, em movimentos para frente e para trás, em vão buscava aliviar a dor que corroeu meu interior. Sentia várias mãos arrancando pedaços do meu coração ao mesmo tempo e não entendia porque a escuridão não me levava de uma vez, ela foi a única coisa que me restou e quando mais precisei, não estava lá.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ainda há Esperança (Concluído)
SpiritualLivro em andamento| Não revisado Livro 3 da trilogia Sempre Foi Você. Um acontecimento divide a Familia Soure. Hope de todos é a que mais se revolta, decidindo seguir os caminhos de seu enganoso coração. A Esperança pulsando em seu peito aos poucos...