Os corredores do hospital são pintados com vários personagens de histórias bíblicas, desenhos animados da TV, princesas e bailarinas. Lembro-me de insistir tanto, para mamãe pedir para fazerem um desenho bem grande de uma bailarina dançando no meio de uma mão gigante. Tinha 8 anos quando fiz esse pedido, acreditava que quando dançava estava nas mãos de Deus, sob seu olhar de amor, e que Ele sorria pra mim orgulhoso.
Ah, pequena Hope, se você soubesse o que esse Deus faria com sua mãe, não seria tão ingênua!
David seguiu meu olhar, percebendo em que direção observava, sorrindo comentou:
— Foi só mamãe ver seus olhos marejados, que resolveu aceitar fazer aquele desenho – relembrou.
— Era assim, você chorava e ela fazia o que queria. – Dei uma encostada nele, por sua implicância.— Estar malhando, irmãzinha? Parece mais forte. – David não estava com um olhar acusador ou de que esperava o momento certo para se vingar ou jogar na minha cara meus erros. Me tratou como antes, quando éramos verdadeiramente dois irmãos, inseparáveis.
Cuidado com sentimentalismo, Hope!
Ajeitei minha postura inquieta e decidir encenar também, se é para fingir que nada mudou, vamos lá!
— Faço quando tenho coragem. Sorte minha que meu namorado é faixa preta, com as aulas que recebo, aprendi um pouco a usar o meu corpo magricelo a minha defesa – relatei. Eles não suportam o Roberto, citei seu nome de propósito, para ver se a máscara deles se desfaz.
— Falando nele, vocês estão bem? Quando vai levá-lo em casa para nos conhecer oficialmente? – Papai disse, causando um tremendo susto dentro de mim. Nunca imaginei ouvir algo do tipo vindo de sua boca. Parei para certificar que suas palavras eram sinceras.
— É sério, o Senhor quer conhecer o Roberto? – Ótimo se ele disser que sim, será perfeito. O plano tem tudo para dar certo, preciso apenas me manter focada e não deixar me levar pela saudade da família feliz, da qual fazia parte.
Hope, não seja boba, você não é mais parte deles!
— Venha ver o Lukinhas, depois temos algo a falar com você, filha. – David abriu a porta do quarto dando espaço para que papai entrasse, fez o mesmo comigo e então adentrou o local e fechou a porta.
Sabia que tinha algo a mais, conversar depois, conversar depois.... Foco Hope, P* você precisa seguir o plano, não é isso que você quer? Fazê-los perder tudo por terem abandonado você?
A postura do corpo se enrijeceu e todos os músculos se contraíram.
Eles tinham motivo para me abandonar, disso eu sei. Mas família não abandona um ao outro, luta até o fim, e eles não, desistiram sem lutar.Eles lutaram...
Não eles não lutaram!
A culpa é sua... Eles não tiveram escolha...
Eles que não te deram escolhas, não amaram você, não te compreenderam...Pisquei várias vezes desvanecendo os pensamentos turbulentos. A ferida causada na minha pele começou a arder ainda mais e fiz uma careta.
Atravessei o quarto com vários desenhos dos pinguins de Madagascar na parede e um céu azul no teto, para chegar até o berço de Lukinhas a um metro da janela de vidro.
Jéssica sorriu como incentivo para que me aproximasse do pequeno. Seus cabelos loiros estavam maior do que a última vez que o vi, não era mais um bebê, era um rapazinho, como crescem rápido, parece que não o via anos.
— Ope, Ope... – Ele reconheceu e soltando gritinhos estridentes, batia palminhas.
— Oh, meu amor, Ope estar aqui pra você, sempre estarei aqui pra você – declarei o pegando no colo. Lukinhas brincou com meus cabelos e depois puxou com força, o que arrancou uma careta feia de mim. Para ele foi divertido, pois sorriu como se fosse a coisa mais engraçada do mundo.
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Ainda há Esperança (Concluído)
EspiritualLivro em andamento| Não revisado Livro 3 da trilogia Sempre Foi Você. Um acontecimento divide a Familia Soure. Hope de todos é a que mais se revolta, decidindo seguir os caminhos de seu enganoso coração. A Esperança pulsando em seu peito aos poucos...