14• | Um pouco da verdade | Hope💫

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Gálatas 3

3. Sois vós tão insensatos? tendo começado pelo Espírito, é pela carne que agora acabareis?

💫

Entrei no carro sentindo terríveis dores em todo o corpo, a alma cansada demais foi o empecilho de interrogar sobre como Enzo chegou aqui. A vergonha pela forma em que fui encontrada cooperou para o meu silêncio durante algum tempo, ele respeitou minha atitude e não disse nada até chegarmos ao hotel flores de outono.

— É o nome da cidade — disse ao perceber a curiosidade com a qual observei a placa de led com o logan. O portão foi aberto e o carro percorreu mais cinco minutos até alcançar a entrada.

— Toma um banho, vou te dar 30 minutos. Zoe vai chegar cedo amanhã. Tem uma mala com as roupas dela próximo a cama, pode escolher alguma peça de lá. Ligue pra ela e diga que te encontrei. — Enzo não parecia nada contente, sua fisionomia todo tempo era neutra. Depois de tais palavras entregou um cartão azul com letras douradas e virando de costas saiu em passos firmes.

Encarei o cartão e engoli em seco. O rosto começou a arder, os olhos e a garganta também. Com a mão livre  posicionei rente ao pescoço e massageei com o intuito de diminuir o ador. Nem quando entrei no elevador com o ar gelado a quentura passou. Pressionei o botão com o número indicado no cartão.

Não quero encontrar ninguém, encarar papai ou David, não quero mais ver os olhos de decepção de Kellan. Não sei mais como sair desse abismo, o que mais desejo é esquecer tudo que aconteceu. Quando era adolescente amava assistir Diários de um vampiro, mamãe não sabia, ela abominava esse tipo de série, mas como uma romântica nata, não resistia a história de amor de Damon e Helena. Se tivesse me inspirado em pessoas reais, não teria estragado tudo em relação a Kel. O único pesar que sinto é de que eles não são reais e não podem me fazer esquecer toda a tragédia em que se transformou minha vida desde que mamãe morreu.

Que idiota!

Lembrando de um série idiota em meio a uma calamidade. Eu me tornei uma calamidade! Suspirei fundo e relaxei o ombro. A porta se abriu e um hóspede entrou com um olhar de superioridade. Ao ver meu estado fez uma expressão de nojo.

Ótimo! Tenho que me acostumar com essa forma de olhar. Eu mereço! Não é por causa da roupa que estou vestindo, mas pelo mau caráter que se impregnou dentro de mim.

Antes que o elevador se fechasse passei diante do homem chegando no corredor. Decidir ir pelas escadas, duvido que esses ricos e velhos sedentários utilize-a.

— Quer saber! Dane-se! — Não segui para o quarto, subi para o terraço em passos ligeiros. — Quem ele pensa que é? Tomar um banho... vá ele tomar banho. Não é porque estou na pior que vai mandar em mim. Que droga! Não consigo pelo menos ser menos inflexível, levando em conta que estou em caquinhos. Meu amigo pode estar chateado assim como todos os outros, mas é porque se importa. Depois de Kel, Enzo era meu melhor amigo, como um irmão. Ele e Zoe são o casal mais sensacional que conheço.

O terraço é límpido, não há nenhum relevo de concreto e a vista é esplêndida. O local é idêntico aos  terraços de videoclipes. O vento gelado obrigou-me a cruzar os braços. Próxima ao parapeito a visão da cidade se tornou ainda mais brilhante. O vento varreu meus cabelos para trás e abrir os braços sentindo um leve sensação de liberdade. Observar as incontáveis lâmpadas acessas diante da escuridão do céu, trouxe um leve alento que logo dissipou-se.

— Você não vai se jogar, não é? — virei encontrando Enzo caminhando em minha direção.
Seus cabelos bagunçados e a gravata frouxa, juntamente com a roupa amassada lhe deram uma fisionomia de cansaço.

— Ainda não tive coragem. Nem a morte me quer. Acredita que sofri outro acidente e nada aconteceu além de ferimentos superficiais. — relatei com sarcasmo. Enzo se apoiou no parapeito olhando para baixo e suspirou fundo. — Diga o que você tem a dizer. — Fiz um gesto com as mãos de que não me importava de ouvir.

Enzo se apoiou de lado e encarou-me.

— Zoe ficou sabendo do que aconteceu. Ela está arrasada. Viemos a dois dias atrás para uma conferência de dança, quando chegamos no hotel Kel ligou e não contei nada sobre o ocorrido, hoje Kel ligou de novo e ela ouviu nossas conversas. — Pela fisionomia de Enzo e, conhecendo Zoe como conheço ela deve está querendo arrancar a cabeça do marido. — Ela está querendo arrancar a minha cabeça — disse e não consegui ficar sem sorrir. — Como depois do almoço ela não tinha ministração, não pensou duas vezes em retornar para Pavali, já que tem dias que ninguém sabe de você.

Zoe e Enzo estava em *** resolvendo assuntos empresariais, nunca imaginei que depois de uma viagem cansativa ainda teriam pique para passar dias em uma conferência. Antes de ir, Zoe avisou que ficaria off por uns dias, ela é centrada e não gosta de interrupções. Ao se tratar da família ela muda de ideia em relação a isso.

— Kel pediu as imagens das câmeras de segurança de vários estabelecimento até descobrir a direção que o seu carro seguiu. Demorou um pouco e quando Zoe saiu ele avisou que provavelmente você estaria na mesma cidade que a gente. Tentei avisar, mas ela não atendeu minhas ligações. Então sair dirigindo pela cidade toda atrás de você. Te achar é a forma dela me perdoar. — admitiu cerrando os punhos.

— Kel não tem tanta influência para isso — comentei.

— Não! Mas o seu sobrenome tem — rebateu.

— Como é possível, até quem estar a quilômetros de distância de mim é afetado pelas burradas que eu faço...

— É porque não importa o lugar onde a pessoa esteja, Hope. Se ela te ama você sempre irá afetá-la de um jeito ou de outro — comentou dando de ombros.

— Como meu pai está? — questionei sentindo os músculos da minha garganta se contraindo e uma mão apertando meu coração.

— Foi somente um susto. Ele está em casa e bem. Pelo menos fisicamente — respondeu tristonho. — É hora de parar Hope, chega dessa vida. Você passou de todos os limites. Não estou aqui para te dar lição de moral. Estou aqui para dizer que eu sei a verdade. Eu sei quem é a pessoa que você realmente culpa pelo o que aconteceu e por não admitir isso você se revoltou contra Deus, por achar que ele é culpado por você sentir isso. Estou aqui para te ouvir, Hope.

Suas palavras causaram uma tontura imediata assim que chegaram aos meus tímpanos. Arregalei os olhos e sentir o oxigênio sendo expulso com agressividade dos meus pulmões. Deslizei encostada no parapeito e sentir os ferimentos adquiridos no acidente se manifestando, mas a dor do corpo não se compara a dor agoniante da alma.

— Ele não podia ter te tido nada. Não depois de tanto tempo. Ele nunca mais falou comigo e agora...

— Ele não falou ou você que se fez de surda? Quem te trouxe até aqui não foi a vontade de Deus, foi a sentença que você se condenou, Ho. Acusar Deus e te transformar na vilã não muda nada o que você pensa em relação ao...

— Eu nunca irei dizer... Fiz coisas horríveis por isso e nada do que confesse — o que não irei fazer — vai mudar e Deus tem abominação a mim... Fiz de tudo para ele me odiar e dia após dia o acusei, porque é a única coisa que me mantém viva. Mesmo que seja apenas o corpo e jamais irei admitir, jamais... — Afundei meu rosto sobre o joelho e gritei em meios as lágrimas. Enquanto gritava, Enzo segurou minhas mãos e  a dor foi tão latente que a sensação que tive foi de que minha alma estava sendo arrancada de dentro do meu corpo.

Ainda há Esperança (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora