20• | Confissões | Kel 💫

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João 3

20 Sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas.

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— Eu não devia ter te deixado sozinha, me perdoe? — Eu disse a ajudando a entrar no carro. Estava na casa de Enzo esperando notícias sobre a conversa de Hope com sua família. Orando para que tudo se resolvesse, não aconteceu do jeito que esperávamos. Lucas ligou avisando do ocorrido, estava a sós na sala com Enzo e sair sem dizer nada ao encerrar a ligação. Hope saiu correndo após uma discussão com David, Lucas apesar de abalado reagiu melhor que o filho mais velho. Era de se esperar, porém, contava com a paciência e mansidão que David sempre demonstrou ter.
Quem sou eu para julgá-lo, tem situações que vem para nos chacoalhar de forma amedrontadora, são situações que nos fazem reavaliar quem somos, não o que está por fora, mas o que há dentro. Provações não são para nos matar no meio da jornada, pelo contrário, nos torna melhor e mais forte do que pensamos ser um dia. Para que isso aconteça não devemos deixar as adversidades serem maior do que realmente são. Quem nunca olhou para um problema e esqueceu do Deus grandioso a quem serve, de quem é filho? Eu mesmo fiz isso algumas vezes. Isso é olhar para o problema e achar que é maior que Deus. Mas quando olhamos para a tempestade e lembramos quem é o dono dela, de quem pode contra Ela, não há motivos para temer, nosso Deus é maior do que qualquer  problema, furacão, tsunami, terremoto e seja o que surgir para nos amedrontar, Deus é  maior, Ele sempre será maior! O problema? É que esquecemos disso. Então, um pequeno agitar na água do copo nos faz entregar os pontos e nos render a vontade do inimigo. É  chegado o tempo de não nos rendemos mais ao inimigo, é chegado o tempo de vivermos como verdadeiramente filhos de Deus.

Encontrei Hope debaixo da árvore da praça, sentada no banco chorando como uma criança que foi esquecida pelos pais. Estava no mesmo lugar que a vi antes dela partir para outra cidade.
Não conseguia produzir nenhuma palavra que fizesse sentindo. Os únicos sons emitidos eram o pranto da dor que rasgava a sua alma. Suas roupas encharcadas, tremia ora de frio, ora pelos soluços, ora pelos dois.

A levei para a casa dos meus pais, eles haviam viajado para o aniversário de uma tia do meu padrasto e graças a Deus, havia uma cópia da chave dentro do porta luvas do carro.

A chuva aumentou ainda mais durante o percurso, ao chegarmos em casa, coloquei ela dentro do banheiro, entreguei uma toalha e roupas da minha mãe. Instrui que não demorasse muito no banho, porque estaria esperando ela do lado de fora, no corredor. As lágrimas haviam cessado, seu olhar estava longe e ela somente concordava com tudo que eu dizia.

Dez minutos depois ela surgiu com uma calça balão colorida de mamãe e uma blusa vermelha enorme na altura dos joelhos, sem dúvidas após o clima ruim passar, não perderei a oportunidade de lembrá-la dessa roupa, sem falar da toalha azul enrolada na cabeça.

— Tá rindo de quê? — perguntou com um fio de voz. Não percebi que estava sorrindo, desfiz o mesmo assim que ouvi sua pergunta.

— Nada! — Arranhei a cabeça. — Desculpe, tinha somente essas roupas na lavanderia. O quarto dela está trancado e minhas roupas não ficariam legais em você. — eu disse e ela assentiu. A instrui até a sala e enquanto ficou sentada com as mãos entre as pernas olhando o nada, preparei um copo de chocolate quente para ela.

— Obrigada! — pegou o copo e bebericou com os olhos fechados por alguns segundos. Sentei ao seu lado e ela abriu os olhos. — Não tenho como te agradecer... — Um espirro quase a fez soltar o copo e segurei o mesmo esperando a sequência de espirros acabar.

— Você não devia ter saído na chuva daquele jeito. Vou ver se a mamãe tem alguma coisa pra gripe no armário de remédio. — Levantei rumo a cozinha. Vasculhei tudo até achar o remédio. Entreguei a ela junto com outro copo, contendo água. Recusou a continuar bebendo o chocolate e tive que a obrigar a terminar.

— Terminei — disse estendo o copo vazio em minha direção. — Estou com frio. — Colocou o resto do corpo para cima do estofado e se encolheu.

Peguei um cobertor para ela e não demorou para se enrolar e fechar os olhos ao ter uma almofada abaixo da cabeça, feito travesseiro.

Não conversamos, ela se entregou ao cansaço físico e emocional. Dormiu feito um anjo, fiquei um tempo velando seu sono antes de carregá-la para o meu quarto.

Segurei suas mãos ao fechar os olhos e orar:
— Ela está quebrada senhor. Tu és o único que pode transformá-la e ela voltará a ser por inteira tua. Me ajude a fazer a minha parte. Eu a amo, quero cuidar dela, amá-la, mas sei que ainda não é o tempo. — Beijei suas mãos. A coloquei em meu colo e a deixei no quarto. Voltei e me acomodei na sala, já que os demais quartos estão trancados.

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Pela manhã acordei com um passarinho cantando diante da janela de vidro. Abri a cortina e lá estava ele, sorrir e o cumprimentei.

— Bom dia, Espírito santo. — O vi voar para longe e contemplei a bela manhã que se iniciava, depois de uma noite de trovões e relâmpagos, quem diria que um dia tão belo começaria tão esplêndido. Iniciei um papo de filho para Pai ainda olhando através da janela, depois de alguns minutos ouvi passos descendo as escadas. Hope estava usando uma calça cinza e uma camisa com o slogan da igreja.

— Suas roupas ficaram melhor do que as da sua mãe. — Forçou um sorriso.

— Bom dia, é verdade, me enganei, elas ficaram perfeitas em você. — Sorri bobo e desfiz ao notar que estava me comportando como um idiota. Perto dela é como se tudo mudasse e eu me tornasse um menino de 12 anos apaixonado pela garota mais velha que nunca irá olhar para ele.

— Você não precisa acordar tão cedo...

— Depois que você se declarou e me colocou na cama, eu não consegui mais dormir. — disse e o oxigênio que existia no planeta Terra desapareceu.

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Boas festas!
Venho entregar esse pequeno capítulo a vocês como presente de véspera de natal.
Agradeço por cada vida que ler esse livro e sou muito abençoada por ter vocês. Obrigada por estarem aqui. Feliz Natal!

Ainda há Esperança (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora