Á mercê; Pronta, desmancha. - Cap 8

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Acordei tonta poucas horas depois de ter o efeito dos remédios. Dessa vez sem pesadelos, mas como se houvesse passado por uma ressaca feita por marés de emoções, minha turbulência de emoções. Minha cabeça latejava e havia um zunido chato em meus tímpanos. Senti o corpo quente de Taehyung espremido em minha cama de solteiro, com os pés virados para o lado onde eu deitava a cabeça. Abri meia parte da cortina e o sol não havia se posto ainda. E a parte ruim que se alimentava de mim já chegava pra sugar meu dia. Sentindo a onda se achegando, eu temi.

Tae se mexia na cama quase se agarrando á minhas pernas. O observando, senti-me mal por todas as coisas que Taehyung fizera e continuava fazendo por mim. Às vezes divagava sobre seus próprios sentimentos, será que ele se anulava de certa forma por mim? O quanto eu havia o prendido desde que ele chegara a minha casa? Senti-me culpada. A culpa também me despertou a lembrança que tive horas antes sobre a miudeza que um dia crescia em meu corpo, e eu á retirei de mim. A partir dai, refleti sobre lembranças e seus poderes. Há modos de apagar memórias que lhe formaram cicatrizes? Dizem que o tempo cura todas as coisas, que tudo se resolve e se encaixa... Tornei-me cética quanto a esses ditados. Acredito que certas coisas nunca irão embora, simplesmente não vão. Cada coisinha que nos tira um sorriso do rosto ou até mesmo as que formam lágrimas atrás de lágrimas, tem sua força sobre a alma. Se em algum momento uma dessas coisas que ainda me doía se tornasse um pensamento abençoadamente banal, seria um milagre.

Quanto mais os minutos passavam, mais turva minha visão ficava e mais pensamentos surgiam. O que já era motivo suficiente para que eu me movesse, saísse dali e buscasse alguma forma que me afastaria da escuridão. Porém tudo que eu conseguia era ficar parada encarando um pedaço do lado de fora pela fresta da cortina e encarando minha mente.

Eram fatos inapagáveis, fatos que não podiam ser desfeitos ou contestados que eu havia em um longo período de meu passado entrado em lugares desconhecidos de mim mesma, e tomado todas as decisões que acarretariam em meu presente miserável. Sei que em toda rua há um coração partido, em toda praia há um flerte que te leva além do mar, sei que em toda casa existe uma base de vidro fino. E sei principalmente, que onde há dois, haverá dois lados, duas versões de si e duas versões de historias. Porém, também não só sei como acredito com toda a força que me resta que entre dois, não se pode sobrar apenas um que carregue a sanidade intacta. Em minha experiência onde lá atrás eu já não me reconhecia, onde meus pais choravam ás escondidas pensando estar perdendo a vida da única filha que morria aos poucos dentro de um amor sem amor. Eu pude contemplar de tudo um pouco.
Eu pude compreender os estágios dos sentimentos; paixão e amor. E quanto mais refletia nisso olhando para o tempo escuro ao som dos roncos suaves de Taehyung, eu digeria mais claramente sobre meu eu presente apaixonado e meu eu um dia obcecado.

Outro fato incontestável que mesmo em meio á todo caos em mim, não era esquecido um dia sequer.
Eu era apaixonada por Jeon Jungkook, em uma versão minha onde eu tentava me conhecer melhor, até mesmo para que ele mesmo me conhecesse melhor. Era o que eu tanto repetia em minha mente. Eu o queria. De forma vívida, de forma leviana, com cores que avassalavam e arrebatava meu peito, eu o queria de forma pura, mista, sólida e gasosa. Eu desejava tocar a nuvem de ar que saía de meus lábios todas as vezes que trocávamos palavras. Dono de meu ar doce, proprietário parcial de um coração que ainda batia, com dificuldade, mas batia. Quem me tirava os inúmeros pensamentos de rotina, quem me afastava o mal das lembranças apenas com um aceno bobo. Pensando e pensando, senti um ar congelado de falta de esperança pousar em minha pele e o sentimento de inutilidade descer em meu estômago. Doía.

Eu precisava sentir o sol talvez, eu não o amava, mas sabia que seria melhor vê-lo. O que também se aplicava a Jeon, eu não o amava e sentia que não conseguiria vê-lo. Optei por negar ambos e permanecer ali mesmo em meu lugar seguro, onde eu poderia ao menos ver quando a luz chegasse pela janela. Mas eu precisava tirar algo de mim.
Com destreza tirei meu tronco da cama com os olhos em Taehyung que dormia como se fosse ele quem tivesse ingerido meus remédios. Passei uma das pernas sem tocar em meu amigo e com mais cautela ainda consigo levar a outra me desprendendo de vez da cama. Fiz questão de não olhar a hora, só senti que precisava expulsar uma parte de mim de alguma forma, desfocar da noite anterior, matar de mim aquela voz que me tirava o sono, que me abria o choro, que me prendia em um lugar obscuro... Um lugar que a cada ócio, á cada crise, á todas as paredes sem sol ou lua, poderia me levar até a morte. O que eu me recusava a acreditar, me recusava a pensar. O histórico de tentativas de suicídios não bem sucedidas. Era um dos que ficavam na pilha de bloqueios, não dos apagados. Eu tentava os manter em freio e bem longe de mim.

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