Deem suporte à história, votem e comentem. Boa leitura!
O peito ardia mais do que qualquer uma daquelas marcas em meu corpo tão branco quanto às paredes que eu já não suportava mais conversar, as mãos tremiam enquanto os ouvidos queimavam ao ouvir a "vítima" se confessar com mentiras atrás de mentiras, os olhos despedaçavam encharcando o chão recém-limpo por mim, o estômago doía como se mil facas tivessem me acertando bem no meio, sabe facas de churrasco? Acho que seria uma bem grande e colorida para aquela ocasião já rotineira. Ele continuava fantasiando para seu próprio e único bem diante de uma pessoa tão machucada, aquela que ele mesmo destruía aos poucos todos os dias. Os mesmos dias onde ele seguia sem nenhum arranhão, nenhuma mentira, nenhum diálogo distorcido, nenhum celular escondido, nenhuma agressão ou traição. Ali, eu o ouvia em perfeito tom e o via tão bem quanto a lua vê o sol em fim de tarde.
— Por favor... - mais um dia estirada no chão frio, mais um choro implorando apenas por alguma verdade, qualquer uma. - porque você não pode só admitir? É só isso que eu sempre peço. Eu só queria que você me dissesse a verdade. Eu sempre digo que prefiro a verdade do que descobrir através das mentiras. Qual o seu problema com isso?
— Meu problema? - o olhar transtornado e a voz dura e arrastada se intensificam. — repete ninfetinha. - seu corpo vinha lentamente em direção ao meu, até então encolhido no chão. — Repete! Você fode com a minha vida, mas não fode comigo. Quer brigar por eu ter que recorrer a outra opção sendo que a culpa é sua? - seus olhos possuídos perpassavam em cada centímetro de meu busto. — sabe que odeio quando me chama de mentiroso.
O ambiente foi tomado por um curto silêncio, tão curto quanto sua voz em tom cortante.
— Levanta e deita na cama. - ele diz rude tirando os olhos de mim.
— O que? - Podia ouvir meu coração sendo impulsionado e parando.
— Eu quero você agora. Você é a minha putinha não é? - ele dizia transtornado enquanto tirava seu cinto.
— Não Matt, por favor... Eu não quero. - digo em súplica.
Ele se abaixa como quem havia baixado a guarda por segundos, acariciando meu rosto e pescoço com as unhas grandes pelo violão.
— Amor, você não acha que pelo estresse que me causou hoje, eu mereço uma recompensa? Quer dizer, sejamos sensatos, se você se esforçasse mais nessa relação e fosse mais flexível com o sexo eu não precisaria de outras. Você não concorda? - o sorriso se abriu, sagaz e obscuro. Ele me olhava como um leão olha para sua presa antes da refeição — Todos os meus amigos transam regularmente, você sabe como é isso pra mim? - sua cabeça cai sobre o pescoço e um choro digno de um ator de teatro cai em seu rosto.
— É o mínimo que você tem que fazer por mim, por nós. Você não quer que tudo acabe não é?— Não... - No fundo eu sabia que mentia para mim mesma, e também sabia o que viria a seguir. As lágrimas negras pelo rímel fraco se contorciam tentando ser mais fortes que meu corpo. — Eu não quero Matt. Não vou fazer isso assim, não da depois de hoje. Desculpa! Por favor, me desculpa! - eu implorava o olhando de baixo pra cima.
Com a cabeça ainda baixa seu sorriso de escárnio ecoou alto junto dos olhares de diversão por presenciar uma imagem tão baixa e fraca de mim. Eu que deveria ser o seu amor, seu alicerce, sua companheira, alguém que poderia contar com seu carinho e respeito. Eu nem sabia o que eram essas coisas.
•••
04:23
Em um quarto onde apenas o fechar de olhos separava o irreal do real, um grito vazio de sufoco e vários fios de suor me despertam de uma parte do pesadelo vívido e já rotineiro. Me vejo sentada com as pernas junto ao peito tentando respirar o mais devagar possível enquanto encaro a única parede de desenhos á frente focando apenas em inspirar, expirar e não pensar. Não pensar em nada parece uma utopia na situação em que minha mente vive.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Stitches
Non-Fiction"Descobri que vencer meus medos me força a acreditar que quando tudo acabar não será você e eu e sim eu e meu silêncio. Aprendi que reprimindo a mim mesma não é a melhor maneira de ser alguém, mas descobri que vinte e três horas por dia posso ofusca...