In Motion: Borboletas&Intrepidez - Cap 5

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Naquela mesma noite, após ter me rendido á meu quartinho e as perguntas de Taehyung sobre meu paradeiro durante metade do dia, engoli meus dois tipos de comprimidos para o período na noite antes do horário costumeiro, mesmo sem comer nada mais que meu salgadinho de embalagem verde. Não era indicado tomar remédios assim, mas foi proposital.

A brisa rosa que tinha tomado metade de meu dia tinha se esvaído e se transformado em uma camada de pequenas agulhas geladas no tempo em que eu havia passado refletindo junto ao ar limpo. Eu sentia as memórias escuras entrando em mim da mesma forma que aquelas melodias passadas, feitas ao vivo, com as unhas arranhando o violão. Ele ás tocava pra mim todos os dias, como algum tipo de hipnose para meus ouvidos e pra minha mente. Á moldando da forma dele. São melodias que eu já não ouço mais, harmonias que só de lembrar ativa o pânico, a solidão, a vulnerabilidade e o inverno. Que se intensifica como nunca em meu peito. Eu não conseguia repeli-las, não conseguia simplesmente ás expulsar de lá, afinal, eram memórias.

Qual a receita para perdê-las? Seria a mesma para as cicatrizes? Talvez eu devesse entrar em uma tela onde o filme "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" estivesse passando e me render ao mesmo processo que o protagonista se rendeu. Não era para esquecer um amor, era para a dor e a agonia irem embora junto das memórias, era para as cicatrizes desaparecerem como se nunca estivessem ali. Era pra eu voltar a ser quem eu era e sentir pelo menos um fio de ar do que seria viver em meus dias.

De um lado do quarto Tae ainda permanecia ali resmungando sozinho enquanto lia seus mangás e me deixava com sua playlist favorita. Sentado no pufe que acompanhava minha penteadeira minúscula ele buscava esperança, assim como eu. De me ver desmaiar e só acordar no dia seguinte, quem sabe com menos olheiras que o normal. Eu queria dizer a ele sobre Jungkook achar que poderíamos ser um casal, queria dizer sobre a sensação que tive de liberdade mais cedo quando andava pela cidade sozinha, ou quando me reencontrei no abraço de Allessia, mas só havia uma coisa que realmente martelava e machucava minha garganta. E era meu passado e todos os sentimentos que me vinham desesperados.

- Tae?

- Hum? – ele responde sem se mover.

- Você acha que eu vou conseguir? Me livrar de vez. – ele procura meus olhos atento a minha voz.

- Você esta caminhando pra isso Geo. Aos poucos, mas está.

- Aquela frase esta martelando na minha cabeça hoje, aliás, hoje não. Agora.

- Qual delas?

- "Ouça essa canção que fala de nós, não temos um erro, um sequer, que nós somos perfeitos, desde os pés ao coração. Pode vir comigo" – recitei rápido, olhando para um ponto fixo da parede – Essa merda de frase. – digo ao abaixar a cabeça e já procurando minhas mãos para coçar.

Pode Vir Comigo - Phil Veras

Sinto os olhos de Taehyung se abaixarem procurando por sabedoria. Me lembrou o dia em que o conheci. Totalmente quebrada e inevitavelmente vulnerável até demais, o dia em que me abri a um completo estranho, lhe dei acesso á partes de mim que nem mesmo eu conhecia e ele as agarrou como se fossem dele.

- Não foi você que fez isso consigo mesma Geo, tenha paciência. Parece muito tempo, eu sei, mas mal completou dois anos.

- E se for? Já pensou nisso? – digo com estranheza ao pensar naquela possibilidade, seguido por um sentimento amargo – Mal não. – o respondo levemente irritada antes que ele pudesse responder. –
Já vai para o terceiro. E o que eu fiz até então? Fiquei aqui! Presa nessa porra de casa servindo de empregada, vendo o tempo passar, todo mundo seguindo suas vidas com alguma coisa... – engulo o que poderia ser uma lágrima. – E no fim do dia meu último pedido continua sendo pra que eu não me machuque mais. Que patético. – solto tudo de vez deixando Tae inquieto e com os olhos repuxados sobressaltados para o nada.

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