Blood Pieces & Kisses - Cap 16

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O momento que não foi vivido.

O momento que não foi amado.
O momento que não foi rasgado.
Ele não foi vetado e o que se lembra dele se resume em pequenos pedaços...

Aquela coisa perfurava minha pele em mando de minhas mãos. Aquela coisa que um dia eu havia escondido em meu antigo tubo de desenhos empoeirado pelo tempo e desmazelo que aprendi a ter com ele, na maior parte das vezes na intenção de despertar o desinteresse de Tae para ele. Já que lá morava meu perfurador, minha ponta de unha fina, minha lâmina antiga e ainda afiada que tinha uma irmã no banheiro. Minha falsa amizade em momentos de solidão, onde a ansiedade beijava o desespero e ambos se envolviam em um sexo animal que eu jurava poder ouvir seus arfares na nuca um do outro. – isto é, se sentimentos possuíssem uma ­–. Tirando-me toda a realidade que me restava ao fim daquele dia quase perfeito.
Um corte pré-fundo.

...Vezes de amoras
Vezes de luas
Vezes de céus cheirando a mentira
Vezes de brincos tirados na rua
Ela ainda não se lembra...

Tudo se esvaia de mim como gelo seco que ardia. Porem sua cor era a mesma das paredes do Night Clube e derrapava por meus pulsos que pediam por mais. Eu pedia por mais... Queria mais da santa tortura que me colocava em um lugar mais alto, longe de meus medos, longe de minhas paranoias, longe de minhas ilusões sobre a vida que eu tinha, longe de meus sonhos impossíveis de menina, de uma realidade onde tudo que parecia ser algo sólido na verdade era a mais pura podridão aprisionada não só em mim, mas em minha casa. E finalmente longe da sensação das mãos dele em mim de novo. Meu coração gritava por mais cor, era como se ele quisesse meu corpo tão vermelho quanto ele, e sozinha, eu o aceitei de bom grado.
Um corte fundo.

... Aquela pessoa? Ela enxerga.
Não cabe neles os olhos que ela tem.
Modulado? Nem mesmo o abraço.
Que abraço? O que não vem.
Mas ela ainda se entrega.

Eu me entregava a toda liberdade que meu corpo achava conhecer quando estava moldado em banhos e rios de sangue impulsivos, que fazia de mim mais um corpo fraco jogado ao chão sem perspectivas, sem coragem, sem voz. Que me transformava em outra boneca, um pouco diferente da que eu já havia sido no passado. Dessa vez eu que a costurava aos poucos, eu abria sua pele em busca de alívio, de despersonificação e assim que encontrava eu voltava a fecha-la. Sinto dizer que nunca por completo. Há muito tempo eu não conseguia manter meus pontos intactos, fechados e esquecidos. Simplesmente não conseguia. Meu lobo sempre surgia em alguma esquina virtual ou nas esquinas de minha mente, ele sempre estava à espreita. Como se cicatriza pontos dessa forma?

O que você vê moça, só você vê.
O ar que você criou mulher, só você pode manter.
As lembranças que você não se lembra...
Com todo ar que te resta, jogue em cima da mesa.
Naquela noite nem os remédios inteiros poderiam salva-la de si mesma.

Um rasgo profundo.

Podia ser dito como um tiro passado de raspão, outra cicatriz ia se formar ali. Senti a dor na pele por tudo que eu fiz e o que eu não fiz. Um aperto no peito que enlaçava minhas sensações e me roubava o desejo do amanhecer, estava sendo um daqueles dias onde parecia que não iria conseguir e o medo me perseguia como a morte em sua capa preta, ele me impedia de sentir e eu só queria pelo menos uma vez me amar direito.

Em alucinação eu me perguntava como aquilo havia acontecido comigo. Em qual momento eu deixei que tudo me penetrasse de tantas formas diferentes que eu já não conseguia controlar nenhuma delas, não enxergava possibilidades de sair daquela poça profunda de temor. Minha mente se acovardava e nutria toda a tarde passada com meu menino que pra mim ainda morava em baixo daquela cerejeira, mesmo que chegasse o inverno e nos desse centímetro e mais centímetros de neve aos pés, ele estaria sempre na primavera. Ela comparava os pés dele andando junto dos meus com as patas grosseiras do lobo que um dia andara ao meu lado. ­– o mesmo que me ficava os dentes antes e agora os mostrava a mim – Sentada ao chão e escorada em minha cama, pendi a nuca rendendo minha cabeça ao colchão e meus braços perderam a força, indo cada um para seu lado. Meus olhos fitavam o teto branco embaçado pelas camadas grossas de lágrimas que me viam, elas conversavam comigo. Faziam perguntas, vários porquês.

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