Walking; Resiliência. - Cap 10

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Tudo começou com o beijo perfeito. Se eu disser que não senti o veneno invadindo minha língua e se impregnando no céu de minha boca naquele momento, eu estaria mentindo. Porém era premeditado que esse caso de perfeição não poderia manter um único coração vivendo de amor por muito tempo. Estávamos fadados á paredes queimadas e chão quebradiço, tudo se desmoronaria após aquele beijo, e eu sabia. No fundo eu sabia melhor do que meu melhor faro sob pressão, ele não tinha como me enganar mesmo com toda a crosta de sebo já formada tapando meus olhos e ouvidos de qualquer que fosse o alerta. Eu sabia e mesmo assim segui com a escolha de apodrecer ao seu lado e de queimar viva em seu abraço tóxico. Em um mundo impossível, eu poderia adquirir poderes especiais só de respirar o mesmo ar que o dele. Mas vivendo com o oxigênio da terra, tudo que eu tive foram marcas de guerra. O dono de minha desgraça, bem feitor de todas as tatuagens criminosas presas em meu corpo ainda estava por ai, espalhando seu beijo á próxima vitima, marcando-a como sua propriedade e se desmanchando nos cabelos ensalsichados dela. Todavia... Gostaria de compreender o motivo que tinha o despertado para mim mais uma vez, dessa vez em meu presente. Já não era o bastante?

Como havia dito a Taehyung naquela manhã; Acho que com ele, nunca seria o bastante. Não haveria de fato um fim á não ser que ele próprio visse o meu ponto final estacado garganta a fora. Meu suicídio em câmera lenta o excitaria mais do que qualquer outra coisa que ele guardava em sua alma encharcada de lodo pantanoso. Isso, eu posso afirmar á vocês.

Minhas mãos suavam escarlate com as veias grossas á mostra se ligando ás têmporas alvoroçadas. As dúvidas que eu já havia tido sobre a pessoa por trás do anonimato, tinha se dissipado assim que o conteúdo daquele e-mail sórdido vinha á tona bem em meio á meu café da manhã, acompanhado de meu amigo e uma maratona de desenhos de seu gosto pessoal. Ele moeu cada partezinha de nossas intimidades e jogou lá, bem na minha caixa de entrada, como uma exposição de arte. Fui salpicada por uma avalanche de medo, humilhação e constrangimento por Taehyung ter não só descoberto primeiro que eu, como visto as imagens comigo. Ele sabia que elas existiam em algum disco rígido de Matt, mas assim como eu, acredito que nunca tinha pensado na ideia de me ver em tais situações recheadas de despudor.     

Muitas horas antes, onde se podia me encontrar aninhada no quarto cavernístico de Jungkook, eu jurava que o futuro presente não me afetaria nem por meia gota de cafeína e lá estava eu. Amedrontada e desidratada de esperança já tão cedo. Ele teria me visto também? Seria esse o motivo do ataque? Infeliz coincidência? Deveras, meu íntimo dizia ser apenas seu eu mais cheio de vigor, seu fiel lado lobo de globo ocular negro, lobo mau, maléfico em pele de cordeiro. O mau, ele não se sente exaurido nem por mais uma gota de suor. Sabiam? Mesmo com a falta de perspectiva em cena, tentei por mais inútil que fosse, ser como ele. Ser racional. Cautelosa comigo mesma e com meu quebra cabeças em minha cabeça.

Aquela tarde eu veria a Dr.Soraia depois de muitos meses e um fio longo de expectativa ia se tecendo em meu estomago.

- Apaga. – insistia severa com Tae que me olhava com nervosismo – Apaga Tae!

- Você não entende que isso pode ser uma prova? – meu amigo se exaltava aos poucos. – A gente pode passar pra alguém rastrear, isso é crime e você sabe Geo.

- Prova? Meu deus – eu já pisava forte em rodeios aturdida com a intenção de Tae – Como você ainda consegue ser tão ingênuo, mesmo depois de saber de tudo? – ele abria a boca nervoso e pronto para contestar de alguma forma.

Meus dedos explodiam pelos fios de cabelos em minha cabeça, tão desvairados quanto eu. Não existia nenhuma parte de meu passado que Taehyung não soubesse. Por muito tempo eu cansei seus ouvidos pacientes fazendo-o tomar nota de toda e qualquer partícula do homem que viveu comigo por longos quatro anos. E mesmo assim, eu sentia que jamais conseguiria fazer com que alguém compreendesse á falta de limites daquela mente, como eu compreendi um dia e ainda guardava comigo os resquícios. Só por segurança.

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