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- Como assim ninguém fez nada? – Tae indagava indignado no dia seguinte.
- Teoricamente fizeram, mas foi tarde, como sempre. Achei que ja tinha acostumado com a falta de policiamento nesse bairro. – digo engolindo uma rosquinha com uma quantidade de chocolate um pouco exagerada para o que devia ser meu café da manhã.
- E mesmo depois de você ter sido completamente louca, o sonso do Jungkook continuou sem reparar em nada? – era mais uma afirmação do que uma pergunta com o tom de falsa ingenuidade. – Ou ele não quer ver ou é muito inocente mesmo, sinceramente.
- Não é pra tanto, não foi nada demais também. - respondo pensando rapidamente sobre. - Se parar pra pensar eu faria o mesmo por qualquer um.
- Como é? - Tae diz virando-se pra mim com os olhos risonhos vindos de uma enorme feição de surpresa.
Minha mãe se achegava com seu rosto sempre ruborizado e suas bolachas de água e sal que combinavam com o café preto e bem forte que ela sempre exigia que eu mesma fizesse para ela. Imersa em provavelmente algum texto sobre saúde no celular ela parecia nem notar minha presença junto de Tae ali na varanda até a voz de meu amigo se fazer presente, educadamente.
- Beth, bom dia! – Tae que sentava comigo no chão se curvava com seu sorriso retangular pra ser notado depois de poucos segundos.
- Bom dia crianças. – ela responde se desconectando do insuportável celular que vivia vinte e quatro horas com ela – Geo, filha, você viu o seu pai hoje?
- Vi, saiu cedo e disse que ia fazer as compras. Por quê?
- Por nada... – ela franze a testa fazendo uma careta com o cenho. – Vocês dois estão ocupados? Se não, você podia ajudar sua mãe e ir ao centro fazer um depósito pra mim, Tae pode ir com você. Não pode Tae?
- Claro que posso! Bom que ela sai de casa um pouco. - ele responde com os olhos apertados.
- Você fala como se eu fosse uma presidiária. – digo com a voz fraca o encarando com os olhos da angustia.
E eu era. Só não gostava de ouvir em alto e bom som vindo de outras pessoas, já não bastava minha mente que me aprisionava dentro de mim mesma, eu também comecei a deixar o desinteresse e procrastinação tomarem conta da minha vida social. Me recordo da época na escola, onde tudo era fácil ainda e eu via o mundo e aquela rotina como se fossem os piores dias que alguém poderia ter, acho que todo adolescente que se prese se sente assim uma vez ou outra. Porém nesses dias que hoje até soam atraentes pra mim eu era rodeada de pessoas, não sei se posso dizer rodeada de amigos, colegas talvez. Mas ao menos existia uma vida social ali se formando. Eu não afastava ninguém, ninguém me afastava, não existiam problemas pessoais tão incompreensíveis que não podiam ser resolvidos por mim mesma e meu trio de amigas, todas combinando o batom com a cor dos tênis aos pés. E o principal; eu era mais livre aos quinze do que aos vinte e três. Mas isso já foi há muito tempo. Então do túnel do tempo até a realidade atual em meu quarto me arrumando levemente, apenas para o ar do dia não me ver com camadas e camadas de falsa de sono nós fomos.
Taehyung adorava andar e insistiu para simplesmente caminharmos até o centro como um passeio animado ao invés de pegarmos um rápido ônibus, a ideia até que não parecia tão ruim na teoria, a prática já era bem diferente. Eu precisava de algum exercício e negava isso ao meu corpo todos os dias que continuava presa em casa por escolha própria e na maior parte do tempo na cama ou apenas com movimentos simples do dia a dia, também era uma das muitas coisas que eu gostaria de mudar, de sair do pesadelo que era a apatia e a dificuldade de apenas seguir para algo novo. Só não sabia como convencer meu cérebro danificado de que seria bom para mim e para ele.
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Stitches
No Ficción"Descobri que vencer meus medos me força a acreditar que quando tudo acabar não será você e eu e sim eu e meu silêncio. Aprendi que reprimindo a mim mesma não é a melhor maneira de ser alguém, mas descobri que vinte e três horas por dia posso ofusca...