[7] O Segredo de France

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P.O.V-France

Uma das coisas que eu aprendi nesta escola é que, se quiseres estar sozinho, não vás para o teu quarto, pois é o primeiro sítio onde te vão procurar.

Contudo, devido a quem eu sou, não há mais nenhum outro sítio para correr.

Como sou popular, estou habituado aos rumores que correm sobre mim. Porém, aquele encontro indesejado com aquele aluno do terceiro ano, não foi um rumor, ou apenas um comentário.

Foi ouvir aquilo que eu não queria.

Depois de procurar, em vão, a Usa, que não estava em lado nenhum, decidi ir à biblioteca da nossa escola para procurar uma revista sobre as últimas tendências da moda.

No entanto, não encontrei nada de muito interessante.

Como a pior parte num colégio interno é não ter o que fazer, eu decidi dar uma vista de olhos pela biblioteca, mais precisamente pela minha segunda zona preferida:

Romance

Eu nunca admiti, às vezes nem para mim mesmo, que gosto de ler romances.

"Romances são para meninas e não há nada pior para elas do que um rapaz sensível"

Vasculhei as prateleiras, à procura de um título que me parecesse interessante e quando finalmente encontrei um que me pareceu bom, eu ouvi.

Ouvi o que não queria.

–Por favor! Até a Mex do nosso ano é mais parecida com um rapaz do que o France, dos finalistas! Já viste aquela cara de boncea que ele tem?

–Ei! Da próxima vez que quiseres dizer mal de alguém, diz na cara, seu medroso!–acusei eu, dirigindo-me ao dono do comentário.

Apesar de ele estar sozinho, calculei que a pessoa a quem ele dirigiu o comentário, tinha fugido ao ouvir a minha voz.

–Não vais dizer nada?–reagi eu, sentindo o sangue a ferver-me nas veias.

O rapaz virou-se de frente para mim. Tinha os cabelos loiros com as pontas pintadas de azul-escuro. Reconheci imediatamente a bandeira estampada no casaco, mas não me importei muito com isso.

–Agora...–prossegui eu, deliciando-me interiormente com a sua expressão de medo–Repete o que disseste sobre mim...

–E-Eu disse que t-tinhas uma c-cara de b-boneca...–ele balbuciou.–D-Desculpa...

Eu poderia ter deixado aquilo por ali. Apesar de a turma do terceiro ano (que não passam de miúdos de 16 anos) se acharem os melhores do colégio, não tinha o mínimo interesse em começar uma briga com o representante da Venezuela.

Porém, o que ele disse a seguir é que me pôs fora de mim.

–... Por ter dito a verdade.

Foi apenas um murmúrio, mas que a minha boa audição conseguiu apanhar. Completamente passado, levantei a mão (aquela que segurava o livro que eu escolhi) e acertei-lhe em cheio, mesmo no meio da cabeça.

O outro agarrou-se imediatamente ao local acertado pelo livro.

–Ainda achas que eu tenho cara de boneca?–eu perguntei, preparado para lhe acertar com o objeto de novo, caso ele dissesse alguma coisa que não deveria.

Felizmente para ele, respondeu que não com a cabeça e eu pude baixar a minha "arma".

–Agora desaparece, imbecil.–ordenei eu.

O rapaz obedeceu imediatamente, e antes que eu pudesse voltar a respirar novamente, senti um braço puxar-me para trás e uma voz, que me disse, bem baixinho, no meu ouvido:

–Que menino autoritário que tu és...

Afastei-o rapidamente e limitei-me a encará-lo, sabendo muito bem quem ele era.

Hiro Irish, representante da Irlanda.

E aquele que deixou bem claro que não queria nada comigo.

Para piorar as coisas, ficámos no mesmo dormitório e isso significa que tenho que olhar para os seus severos olhos verdes, que me tiram a respiração todos os dias.

Hiro não é um rapaz problemático. Na verdade, ele gosta de ficar sossegado, no canto dele. Muitos já o substimaram por causa da sua aparência de nerd mas aprenderam das piores formas, que um dos piores erros que alguém pode cometer é perturbar Hiro Irish.

–Desculpa.–ele disse, dando mais um passo para longe de mim.

–Hiro...–eu chamei, certo de que a sua resposta seria a melhor desculpa que ele me poderia dar.–Eu tenho mesmo cara de boneca?

–Isso deixa-te triste?

Sim.

E não sabes o quanto.

–Não devias ficar triste por causa disso. Isso apenas quer dizer que tens uma cara muito bonita, o que é verdade.–ele assegurou.

Então é verdade...

Eu tenho mesmo cara de boneca.

Eu sou parecido com uma coisa que todos usam e deitam fora quando não precisam mais.

Até Hiro acha isso...

Com uma enorme vontade de desaparecer, eu saí da biblioteca, lavado em lágrimas.

Assim que fechei a porta do dormitório, permiti a mim mesmo chorar e berrar contra a almofada da minha cama.

Eu era apenas um tonto com uma cara de boneca.

Depois de mais alguns berros, ora de raiva, ora de tristeza, senti-me mais calmo e levantei a cabeça. O meu olhar encontrou-se com uma carta que estava em cima da mesinha de cabeceira. Alcancei-a e pude ver a letra fina da minha mãe.

"Para ler quando tiveres saudades"

Ao contrário do que possam pensar, a minha mãe é uma pessoa maravilhosa, que me ensinou tudo o que sei, desde o básico "riscas e quadrados não se juntam" até à combinação perfeita de cores neon. É uma mulher muito social e de mente-aberta. Ao pé dela, até um flamingo de seis patas de sentiria confortável.

Apesar de eu não estar propriamente com saudades de casa (um dos grandes problemas que enfrentamos num colégio interno) decidi abrir o envelope, certo de que as palavras maternais da minha mãe me iriam fazer sentir melhor.

"Olá meu pequeno!
Espero que as coisas estejam a correr bem por aí. Não acredito que já tens 18 anos! Como o tempo passa rápido...
Eu reparei que tens andado um pouco estranho ultimamente e acho que sei porquê.
Eu sei que este é o teu último ano na World High e que podes estar assustado com a ideia de governar a França mas não tenhas medo: tu nunca estarás sozinho.
Apesar de toda a responsabilidade que vais assumir, tens sempre a tua família ao teu lado e o apoio de todos os franceses que também te amam imenso e que te vão ouvir e ajudar, sempre que precisares.
Estou muito, muito orgulhosa de ti, meu pequeno.
Com amor, mãe."

Como disse, a minha mãe é um amor de pessoa.

Com uma carta, ela fez com que todos os meus pensamentos maus fossem embora.

Ou melhor... Quase todos...

Havia uma coisa da qual era impossível ela fazer-me esquecer.

E estava no meu roupeiro.


🌍🌏🌎 Continua... 🌍🌏🌎

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  Hiya a todos!
Este capítulo é muito especial, pois mostra um pouco da vida de um dos personagens que terão mais influência durante a história: o France!
Desculpem pela demora, espero que tenham gostado, abraços de urso para todos vocês e até ao próximo capítulo!

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