[16] A Briga

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P.O.V—Noru

Por razões óbvias, pode dizer-se que a minha turma não é unida e isso vê-se principalmente aos sábados de manhã.

De um lado da mesa, Usa e France, absortos no seu pequeno mundo, como se não existisse mais nada senão eles dois. A Poly diz que, como eles se sentem superiores a nós de certa forma, que não se querem misturar. Eu não partilho da mesma opinião, até porque já os vi a interagir um com o outro no pátio da escola e parecem-me pessoas simpáticas. Talvez só tenham dificuldades em fazer amigos!

Do outro lado, eu e o meu grupo de amigos. Ultimamente, o nosso grupo tem vindo a separar-se um pouco, por causa da divisão entre a admiração e o desprezo para com Usa e France. Claro que evitamos falar desse assunto, mas é inevitável tocar nele, sobretudo depois da hora do estudo. Como consequência de estarmos em lados diferentes, eu a Poly deixámos de "curtir" um com o outro. Claro que ela ficou muito triste e disse que eu estava a ser egoísta mas era muita briga, não dava mais.

No meio disto tudo (embora um deles prefira se manter à distância) temos Chino, Hiro e Nori, que ficaram vistos como os "isolados" da nossa turma, por razões diferentes. Chino por causa do seu comportamento com a noiva, que é muito querida para toda a turma. O Hiro porque é difícil socializar com ele: sempre que alguém tenta fazer conversa, ele responde sempre com monosílabos e nunca se mostra empenhado na conversa, o que fez com que todos desistissem de tentar criar uma amizade com ele. Ele não parece ser afetado por isso, ao contrário da Nori que está a detestar o seu último ano, simplesmente porque não é o centro das atenções da turma. Ela bem tenta, mas falha miseravelmente.

Hoje à tarde, depois das aulas, todos aqueles que estão na área do desporto vão reunir-se na sala de professores para finalmente montar as tão esperadas equipas de futebol e hóquei, que são os dois desportos mais praticados aqui. Eu e um rapaz do quarto ano muito simpático estamos responsáveis pela turma do segundo ano. Contudo, também trazemos a lista dos selecionados do quarto, porque o colega responsável por essa turma está na enfermaria.

O que eu gosto nas equipas, é que elas são mistas (têm tanto rapazes como raparigas) e alunos de todos os anos, desde o segundo ao quinto, embora do último ano hajam muito poucas pessoas a participarem, por causa dos estudos. Além disso, elas podem ser alteradas durante o ano escolar, conforme o necessário.

—Apesar de eu e o Braz sermos apenas responsáveis pela turma do terceiro ano, o nosso primeiro treino envolveu também a turma do primeiro ano.—começou por dizer Tuga, o que me deixou espantado com a quantidade de palavras difíceis que ele dissera.

—Sabemos que como os alunos do primeiro ano têm apenas 14 anos, que os professores não os consideram com idade suficiente para participar nos jogos.—continuou Braz.—Porém, eu e o meu irmão defendemos que, se os caloiros fossem escolhidos para as equipas, que pode ser uma maneira de os integrar.

Olhei em volta e vi vários colegas a assentirem e a acenarem levemente com a cabeça, como se concordassem com o que os dois irmãos estavam a transmitir e sorriu para os dois, que entenderam a mensagem, pela maneira como abriram o sorriso que até então não aparecera por causa da timidez.

—Foi por essas e por outras razões que selecionamos o representante da Turquia para a equipa de hóquei e a representante do Níger para a equipa de futebol—anunciou o Tuga, o que fez com que as expressões pensativas da sala mudassem para outras, completamente surpreendidas, incluindo a minha.

—O Tuckey?! Aquele miúdo medroso do primeiro ano?!—exaltou-se um do quarto ano.—Só podem estar a brincar connosco!

—Nós vimos o Tuckey em campo e sabemos que ele tem um talento escondido!—defendeu o Tuga, que precisou da mão de Braz sobre o seu ombro para não se alterar.—Ele só precisa de alguém que lhe dê uma oportunidade e acredite nele.

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