[24] Espani e Tuga: Pedidos e Inseguranças

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P.O.V — Cori

Virei-me para trás, sem acreditar no que tinha ouvido. Sem acreditar que a voz que tinha acabado de ouvir era dela.

Usa estava ali. De pé, com um sorriso nos lábios, a farda da nossa escola elegantemente vestida sobre o seu corpo e os braços abertos para me receber como se não nos víssemos à anos, quando passaram apenas algu-
mas horas.

Como é que eu criei sentimentos tão grandes por esta miúda em tão pouco tempo?

Fosse quanto tempo fosse, eu tinha a certeza que era nos seus braços onde queria estar e por isso soltei-me rapidamente da minha amiga para correr na direção dela e encaixar-me ali, naquele abraço que me faz sentir segura. Ao lado dela, é quase como se o resto do mundo não existisse.

Ficámos assim, juntas, durante alguns segundos até o resto da nossa turma se fartar e aproximar-se também para um abraço coletivo. Até mesmo o Chino participou. Eu senti-o a bloque-
ar o ar atrás de mim.

O que me levou a outra pergunta que me passou pela cabeça, agora mesmo, enquanto estou a ser apertada por todos os lados e mais algum. Como é que criámos uma relação tão forte uns com os outros em tão pouco tempo?

Mas acho que para isso não há respos-
ta. As relações não funcionam assim. Não existe um tempo-limite para que duas pessoas se dêem bem e constru-
am uma amizade. Há pessoas aqui que eu conheço à anos e que sei que sempre seremos amigos. Há outras que eu conheço desde que nasci e que jamais me darei bem com elas. Tam-
bém há aqui pessoas que eu conheço à apenas meses e pelas quais eu já sou muito grata pela sua existência. Se-
gundo a minha mãe, esse é um dos meus defeitos: confio nas pessoas fa-
cilmente.

Mas se querem mesmo saber, eu não me importo. Hoje sei que há pessoas que irão passar pela minha vida que me vão marcar para sempre. Usa é uma delas. Todos os que me abraçam neste momento fazem parte desse grupo.

Eu só espero que possamos ser amigos para sempre. Que possamos ficar desesperados quando um falta até ao fim dos nossos dias.

— Ah, Usa, estás aqui! — uma voz um pouco extridente surgiu atrás de nós e acabou com o momento. Virei-me e vi que era o professor Américo, respon-
savel pelas aulas do Grupo Americano. — Oh, desculpem, não sabia que estavam a ter um momento. Podem continuar, eu espero.

— Tudo bem, professor, eu até preci-
sava de falar consigo. — avisou Usa, dando dois passos à frente mesmo com os meus braços agarrados à volta dela, sem a intenção de a soltar tão cedo. — Eu queria pedir desculpas por tão poder ter assistido à aula, eu...

— Não tens que te desculpar, minha querida. — sorriu o professor, de uma maneira que até fez com que eu me derretesse. Homem fofo, já não me lembrava que ele era tão simpático assim. — Eu também ficaria como tu se fosse chamado ao gabinete da dire-
tora.

— Ela meteu-se consigo outra vez?

Américo simplesmente fez uma careta de repulsa antes de responder: — Tenho ver se engordo um bocadinho mais para ver se aquela mulher deixa de andar atrás de mim.

Ri-me. Ver a diretora da nossa escola a fazer olhinhos ao professor do Grupo Americano metia piada, ao mesmo tempo que era estranha como o diabo.

— Agora, se me dão licença, eu vou es-
conder-me na sala dos professores. — avisou o professor, como maneira de se despedir. — Se perguntarem por mim digam que tive uma emergência sanitária.

Ri-me novamente. Calculo que essa resposta seja para ser usada caso a diretora da escola venha até nós, o que eu duvido, sinceramente, porque ela raramente sai da sala dela.

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