[8] Promessa do Passado

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P.O.V–Charles

—Tu és mesmo estúpido!—acusou Mex a Vito, quando nos encontramos à hora do almoço.

Normalmente a Mex, a representante do México, costuma ser muito mais simpática, porém, tem um temperamento muito explosivo e parece um bicho quando se zanga.

Como agora.

A rapariga enfiou mais um pedaço de frango (super picante) na boca antes de continuar com o sermão:

—Fizeste figura de parvo à frente de um finalista! Ainda por cima do France!

—Pensava que não gostavas dele.—opinei.

—E não gosto.—ela respondeu.—Mas gosto muito menos de quanto alguém envergonha o terceiro ano.

Apesar das palavras da Mexicana, Vito não perdeu a postura confiante. Digamos que o meu colega Venezuelano está-se nas tintas para tudo e mais alguma coisa, tanto que não quer governar a Venezuela, porque, simplesmente, dá demasiado trabalho.

—Ela tem razão.—apoiei eu, assim que percebi que Vito não estava nem um pouco preocupado.—Nós somos do terceiro ano e temos que mostrar a esta escola quem é que manda. Dizer mal de um finalista só vai piorar as coisas!

—Tu és mesmo Chileno!—o loiro reagiu.—Estás sempre preocupado com tudo! Descontrai, Charles!

—Já tu, não estás preocupado com nada.—reagi eu.—Nem sei porque é que estamos a ter esta conversa contigo, já devia saber que ia entrar por um ouvido e sair pelo outro. Estou a avisar-te, Vito, se não mudas de atitude, vais afundar a Venezuela na desgraça!

—Eu já te disse que não quero governar a Venezuela!—ele gritou, furioso.

—Faz como quiseres—volvi eu.—Lembra-te apenas que a tua mãe e as tuas irmãs contam contigo.

Dito isto, saí.

O Vito, o representante da Venezuela, partilha o dormitório comigo. Ele nem é má pessoa, mas o facto de ele se estar sempre nas tintas, irrita-me! Tenho a certeza de que, se ele desse o máximo, seria o melhor aluno da nossa turma e iria substituir a mãe sem problemas.

Remoendo a nossa pequena discussão, acabei por esbarrar num finalista.

Grrr, parece que eles nos perseguem!

—Desculpa.—pedi educadamente.

—Não tem problema.—ele disse, com uma pequena palmadinha dos meus ombros.

—Espera!—gritei eu, involuntariamente.—Tu és o Chino Chinese não és?

—Sim, sou eu.—ele disse.—E tu és...

—Charles, representante do Chile.—eu me apresentei.—Tu és o rapaz que está num casamento arranjado, não és?

Tapei a boca quando ouvi o que tinha acabado de dizer e fugi em direção ao dormitório.

Se a Mex sequer sonhar com isto, ela vai fazer guisado comigo!

P.O.V–Chino

Boa... Até os fofoqueiros do terceiro ano sabem que eu e a Japan estamos noivos.

Depois de um longo suspiro, arrastei-me pelos corredores, procurando um pouco de paz, antes que a próxima aula começasse.

Dirigi-me precisamente a esse local, pois estamos no horário de almoço e todos os alunos estão no refeitório, a aproveitar as suas refeições. Ao abrir a porta da sala, reparei num outro aluno que estava com a cabeça debruçada sobre o livro mas não lhe dei muita importância. Sentei-me no meu lugar, na terceira fila da sala e tirei o meu bloco de notas e uma caixinha com alguns Zong Zi¹ lá dentro para comer.

Não consigo arranjar inspiração de barriga vazia.

Comecei a comer o meu almoço, ao mesmo tempo de rabiscava algumas coisas no bloco, apesar de a minha atenção estar no sabor delicioso dos Zong Zi, que escorregavam pela minha garganta, um atrás do outro.

Eu definitivamente tomei a decisão certa quando escolhi a área da cozinha.

Houve, no entanto, uma pessoa que conseguiu atrapalhar a minha paz.

A minha noiva.

Japan tinha acabado de entrar na sala, com o ar mais animado do mundo, o que é raro pois Japan é um espírito livre, não alguém que goste de ficar dentro de uma sala de aula, quando tem pelo menos mais meia-hora de almoço para se divertir com os seus amigos.

—Olá, Chino!—ela cumprimentou-me.—O que é que estás a fazer?

—Nada que te interesse.—eu respondi.

—Eu gostava de saber se te queres juntar a mim e aos meus amigos no refeitório, para jogar às cartas.—ela disse, não perdendo o seu sorriso.

—Não. Tenho outras coisas para fazer.—eu reagi, sem tirar os olhos do bloco, para que eles não se cruzassem com os seus olhos castanhos escuros lindos de morrer.

—O que é que estás a comer?—ela quis saber, porém não me deu tempo para responder, porque passados apenas dois segundos ela já tinha um pouco do meu almoço na boca.—Hum... Isto é ótimo! É Zong Zi?

Eu assenti que sim, sentindo as minhas bochechas aquecerem por vê-la a deliciar-se com o que eu tinha cozinhado.

—Tem um sabor um pouco diferente.—ela reparou, lambendo os dedos cheios de molho.—Não me lembro de alguma vez ter comido algo assim...

Ela tirou mais um da caixa, antes de perguntar:
—Foste tu que os cozinhaste?

—Para com as perguntas!—eu gritei, fazendo o terceiro aluno presente na sala dar um pulo na cadeira.

Vi a Japan a baixar a cabeça, levemente.

—借口 (Jièkǒu)...—ela murmurou, antes de sair da sala.

"Desculpa", foi o que ela disse, fazendo as minhas memórias despertar.

"Um dia, serás a minha esposa e vamos estar juntos todos os dias."

Esta fora a promessa que o Chino do passado tinha feito, com apenas doze  aninhos de idade.

E que o Chino do presente chorava, todos os dias, por não a cumprir.

🌍🌏🌎 Continua... 🌍🌏🌎
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Hiya a todos!
  Espero que tenham gostado deste capítulo!
  Alguns de vocês podem estar um pouco confusos por isso eu vou esclarecer um pouco as coisas:
  Em World High à 5 anos:
–O primeiro (para alunos de 14 anos)
–O segundo (para alunos de 15 anos)
–O terceiro (para alunos de 16 anos)
–O quarto (para alunos de 17 anos)
–E o quinto (para alunos de 18 anos)

As personagens Charles (representante do Chile), Mex (representante do México) e Vito (representante da Venezuela) estão no terceiro ano e Angie (representante da Argentina) é a única personagem revelada do primeiro ano. Todos os outros são finalistas.
    As salas de aula são separadas pelos continentes a que os alunos pertencem. Por isso, há sala dos europeus, dos africanos, dos asiáticos e dos americanos. Os alunos que são do continente da Oceânia partilham a sala de aula com os do continente americano e a biblioteca da escola tem o nome de Oceânia Library.

¹ Zong Zi é um prato tradicional chinês, que consiste em arroz, mas numa textura mais pastosa.

Espero ter esclarecido qualquer dúvida que vocês tenham.

Abraços de urso e vemo-nos no próximo capítulo!

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