Prólogo

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Lorde Hegarty era um homem de cinqüenta e um anos, com um gosto peculiar para roupas e garotas. Ele receberá um título com trinta e dois anos e desde então era chamado de O mensageiro do Rei Edzard de Dallur. Ele estava a bordo do navio real para fechar negócios com os países vizinhos. Seu próximo destino era Sarta a capital de Mirsha. Lorde Hegarty era muito bom de negócios e esperto como uma raposa, foi por esse motivo que o Rei o convidou para viver em sua corte em troca de seus serviços. Ele já sabia o que esperar do próximo país, que nada mais era que uma ilhota no meio dos mares que venerava a Deusa Sahan, a Deusa maior da natureza. Era um povo simples, mais que possuía os melhores remédios de todo mundo, devido à grande quantidade de sacerdotes da Deusa Sahan e seu país precisava desses medicamentos para se manter. A negociação era feita toda mudança de estação e daqui um mês chegaria o outono, fazendo com que as temperaturas despencassem consideravelmente, trazendo diversos males. O navio estava silencioso e Lorde Hegarty estava finalizando sua carta sobre a negociação com Valmur, o país das frutas mais doces e das mulheres mais belas, para enviar através de um pombo para o Rei. O Lorde estava concentrado em sua escrita quando ouviu passos andando pelo estreito corredor, ele suspirou fundo e não deu importância a pessoa que vinha. Provavelmente era algum dos seus guardas fazendo sua vigília. O Rei de Dallur era muito precavido e seguia todos os protocolos, andar sem escolta pelos mares era pedir para ser roubado e o Rei odiava caçadores e piratas baderneiros. Sempre que alguém representando o Rei viajava, era obrigatório levar dois guerreiros de Drunkar, dois guerreiros de Sunset e seis guardas reais. Lorde Hegarty apreciou muito a garota de Sunset, era o único nome que ele lembrava. Devia ser Rianne ou talvez aquele garoto forte dos Drunkar. Lorde Hegarty limpou sua testa suada, o navio era muito úmido e abafado, o que deixava o Lorde um pouco mal humorado e devido ao movimento constante, o deixava enjoado. Os passos pararam em frente a sua porta, mas, não ouve batida. A pessoa do outro lado pareceu hesitar ao que fazer em seguida.
- Pode entrar – Lorde Hegarty disse mais alto do que pretendia.
A porta se abriu, porém, o Lorde não olhou para cima para mostrar sua ocupação e não estava com vontade de conversa mole.
- Já estou acabando aqui, pode... – Lorde Hegarty finalmente levantou a cabeça e o que viu fez ele se calar.Não era nenhum dos guerreiros e muito menos algum guarda real. O Lorde se levantou em um pulo assustado derrubando a cadeira no processo.
- Quem é você? O que quer? – O Lorde disse com a voz firme, mas, por dentro ele estava aterrorizado e podia sentir suas pernas tremerem.
A figura toda de preto deu um passo a frente, pela estatura o Lorde acreditou ser um homem, pelos olhos ele constatou que não se tratava de nenhum guerreiro iniciado na casa dos Deuses e pela máscara preta teve a certeza de que se tratava de um caçador.
- Você quer dinheiro? Se conseguir chegar vivo ao meu destino te darei barris! – Lorde Hegarty disse desesperado, como o mercenário não disse nada o Lorde continuou – Você quer mulheres? Posso te dar várias beldades. Se quer terras, posso arranjar também. Diga o que quer e terá. Só me diga o seu preço.
Suor brotava da testa do Lorde, seu coração estava martelando em seu peito como um cavalo selvagem.
- Você não pode pagar o meu preço – O caçador disse com uma voz rouca.
 Lorde Hegarty arregalou os olhos. Onde estavam seus guardas? E os guerreiros?
 - No porão tem várias caixas de vinho de Valmur e uma colheita inteira de maçãs doces
– O Lorde disse com a voz trêmula – Podem levar tudo, vale muito dinheiro!
O caçador fez um único movimento e o Lorde caiu no chão com a garganta aberta, jorrando sangue pelo chão de madeira do pequeno quarto.
- O meu preço é alto de mais – O caçador disse para o corpo morto de Lorde Hegarty.
O caçador abriu a gaveta da escrivaninha onde a poucos instantes o Lorde escrevia uma carta e como foi dito, lá estava o item que ele precisava levar. O item estava dentro de um saco de veludo azul, mas, o caçador não precisava abrir para saber o que era. A energia maligna que aquilo emanava já respondia por si só. Ele colocou o saco no meio de suas vestes e pode sentir um arrepio percorrer seu corpo. Aquele item valia vidas e mais vidas, era uma coisa de valor imensurável. E por que estava nas mãos daquele velho? Foi presente do Rei para mostrar sua confiança disseram. Estava óbvio que o velho Lorde não fazia idéia do que aquele item poderia fazer, por que se o Lorde soubesse o que aquilo poderia fazer teria usado em sua defesa. O caçador riu por de trás da máscara, aquilo tinha sido tão fácil. Ele passou pela poça de sangue do Lorde Hegarty, pisou nos corpos dos guardas reais espalhados pelos corredores e antes de subir a escada encarou por alguns minutos os corpos dos três guerreiros. Todos estavam mortos, menos uma guerreira, ele só precisava de uma. Quando chegou ao convés, sua companhia o esperava. Era outra figura coberta de preto dos pés a cabeça, com a mesma máscara escondendo seu rosto, sua estatura e suas curvas diziam que era uma mulher. 
  - Conseguiu? – A mulher perguntou com sua voz fina, analisando seu comparsa com expectativa.
 - Sim – O caçador respondeu – E ela se comportou bem? – Ele olhou para os pés da sua ajudante e lá estava à guerreira com os pés, mãos e boca amarrada. Os olhos dela encaravam o caçador com ódio.
- Ficou quietinha – A mulher de máscara riu. A guerreira bufou.
- Precisamos ir – O caçador disse se aproximando da guerreira e a tirando do chão com um puxão o que a fez gemer - Eu disse para não machucá-la – Advertiu o caçador.
- Esses guerreiros são teimosos – A ajudante deu de ombros.
O caçador jogou a guerreira em suas costas e seguiram para o pequeno barco ancorado ao lado do navio real. Lá mais um ajudante os aguardava.Assim que o caçador e a ajudante entraram no pequeno barco com a guerreira o terceiro ajudante se virou para eles. Era um moço jovem com a cabeça raspada, uma cicatriz no olho direito e cheio de tatuagens, em seu corpo magrelo.
 - Conseguiram? – O jovem perguntou.
- Você acha que iríamos falhar? – A mulher disse tirando a máscara que escondia seu rosto, revelando um rosto delicado, sardas pelas bochechas e olhos verdes. Agora que todos estavam mortos não havia motivo de se esconder. O jovem deu risada e começou a remar para o outro lado, levando-os para outro navio ali perto.
- Acho que os deuses estão ao nosso favor – O caçador se virou para a guerreira que ainda estava consciente e olhando tudo aquilo com raiva. A garota com sardas tirou a mordaça da boca da guerreira e todos encararam Arliss de Drunkar, uma guerreira iniciada de Dallur
- Os Deuses não estão a favor de vocês – A guerreira disse cuspindo de raiva.
O caçador tirou sua máscara e o capuz que escondia quem ele era. O sol estava se pondo, mas, ainda havia claridade suficiente para ver com clareza. A guerreira não reconheceu aquele rosto, nunca tinha visto aquele homem em sua vida. Nunca tinha visto nenhum dos seus raptores antes.O homem se aproximou do rosto de Arliss e ficou a encarando com aqueles olhos azuis intensos. A guerreira não se encolheu ou demonstrou medo, era o que eles foram treinados para fazer.
- Me chamo Glenn – O caçador se apresentou – E qual é o seu nome? – Ele perguntou interessado.
- Espero que Norrad coma vocês vivos! – A guerreira gritou de raiva.
- Foi muito bom você ter mencionado o nosso Deus – Glenn deu risada revelando dentes quadrados e brancos em perfeito estado – Só me responda uma pergunta guerreira e se você não responder certo, vou ter que te matar.
A ameaça não deixou a guerreira com medo, ela ficou apenas encarando Glenn com ódio.
- A morte dos injustos e dos opressores virá? – Glenn perguntou ficando centímetros de distância do rosto da guerreira. A guerreira cuspiu na cara dele e tentou se jogar para frente com a intenção de mordê-lo, mas sua ajudante foi muito mais rápida e a puxou pelo cabelo.
- Não acredito, achei que era você – Glenn negou com a cabeça – Estou muito decepcionado – Ele fingiu ficar triste.
- Vá para o inferno! – Arliss se debateu.
 - Nós veremos lá – Glenn tirou sua faca do coldre e enfiou no coração da guerreira com um movimento rápido.A guerreira soltou um suspiro de dor e no segundo seguinte estava morta.
- Achei que fosse ela – A ajudante reclamou, puxando a guerreira pelas cordas que a amarravam e a jogando no mar.
- Existem muitos guerreiros de olhos vermelhos – O outro comparsa disse em tom de zombaria.
- Mais só um me interessa – Glenn disse olhando para o horizonte, vendo a última luz do sol desaparecer – E espero que ele venha logo até mim.

As três chaves de Ecco - O guerreiro e o escolhidoOnde histórias criam vida. Descubra agora