IV. Allyria De Drunkar

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A sala ficou em silêncio. A Suma sacerdotisa manteve seu olhar fixo em Allon por um bom tempo, era como se eles soubessem de alguma coisa. Allyria aprendera com os textos sagrados, a casa do Deus Norrad, um dos Deuses maiores, ele era o Deus da morte e da destruição. Muitas pessoas odiavam esse Deus, sempre que algo ruim acontecia colocavam a culpa em Norrad. Fome. Azar. Preguiça. Morte. Doença.
O que Allyria não conseguia entender. Nos textos sagrados os versos do Deus da Destruição são os mais bonitos, são uns dos poucos versos que trazem alguma esperança. Apesar de falar sobre a destruição, dizia que era preciso destruir para criar algo novo. Era preciso ter escuridão para ter a luz. Enquanto o verso da Deusa Sahan, a Deusa da cura, só dizia de morte e doença.
Existiam nove deuses maiores e conseqüentemente nove casas. Essas casas eram templos de adoração para cada Deus. Apesar do Deus Norrad ser odiado por um grupo, havia muitos adoradores em contra partida. Além de existir os sacerdotes e os iniciados de cada Deus.
Para o alívio do povo de Ecco, não existia iniciados da casa Norrad, apenas adoradores que mais tarde poderiam se tornar sacerdotes ou sacerdotisas.
Um iniciado era alguém que se dedicou ao Deus de sua casa e fez os rituais e provas necessárias, ganhando como presente as bênçãos do Deus.
A casa Drunkar, era do Deus protetor, o Deus guerreiro. Drunkar era retratado como um homem forte, segurando uma espada de fogo e com os olhos vermelhos.
O treinamento começa a partir dos quatorze anos e o primeiro desafio é fazer o ritual de memória. A criança tem todas suas memórias antes dos quatorze anos apagadas e uma nova vida se inicia. Assim como o nome da criança, na casa Drunkar o nome é dado em homenagem aos textos sagrados. No capítulo quatro é citado às qualidades do Deus: " ...Aidan, Aideen, Aeryn, Aeron, Adalan, Abrach..."
Que traduzindo da língua antiga para a língua nova, quer dizer: "...fogo, iluminado, sábio, montanha, santo, força..."
Por esse motivo, a criança ganha um nome novo, em homenagem as qualidades do Deus. Allyria lembra de ter que decorar todos os versos de Drunkar e ter que recitar durante os treinamentos físicos. Treinamentos muito duros, durante seus anos na academia ela aprendeu disciplina, honra, coragem e acima de tudo, proteger os inocentes. Allyria passou por diversas provas e rituais até se tornar o que era hoje.
Para no final, após dez anos de treinamento intensivo, realizar o ritual de iniciação do guerreiro. A iniciação é feita em várias etapas, mas, a parte final é a mais temida. A última etapa é feita com pedras de fogo, a suma sacerdotisa prepara as pedras em um caldeirão de ferro, por quatro meses, quatro semanas e quatro dias. Depois é chamada a pessoa que será iniciada, que engole a lava fervente. Aquele que não for merecedor do poder do deus Drunkar morrerá e aquele que é honrado receberá todas as bênçãos do deus.
Allyria não se lembrava de muita coisa que aconteceu na sua iniciação, já que a lava deixa a pessoa entorpecida, em um estado de transe que dura horas até o poder de Drunkar se fundir com a pessoa.
Logo que o poder se conecta com o iniciado, ocorrem várias modificações , principalmente físicas. A coisa mais evidente nos guerreiros de Drunkar são seus olhos vermelhos. Allyria se lembra de ficar um dia inteiro olhando para seus olhos através do espelho da sala de banhos. Aqueles olhos mostravam poder, força e a divindade.
- Está preocupada? – Arthus pergunta tirando Allyria de seus devaneios.
Ela olha para o amigo. Eles estavam andando pelo corredor principal, indo para seus dormitórios para se prepararem para mais uma missão.
Allon está ao lado, ele olha para frente como se os novos iniciados não estivessem ali.
- Pensativa – Allyria responde – Preocupada não.
- Eu estou preocupado, mataram dois dos nossos – Arthus balança a cabeça – Isso não é pouca coisa. Por que a casa Norrad mataria guerreiros? Não faz sentido.
- Talvez eles estejam procurando alguma coisa – Allyria disse coçando o queixo – e não quiseram testemunhas.
- Mais qual é o objetivo...
Antes que Arthus pudesse terminar a frase Allon entrou na frente deles, impedindo a passagem.
- Garoto – Ele encara Arthus nos olhos – E garota – Ele encara Allyria – Não se deve conversar sobre uma missão sigilosa nos corredores para todos ouvirem. Tenho certeza que os professores de vocês ensinaram manter descrição.
Allyria pode ver Arthus engolindo a saliva. Ele estava demonstrando medo para esse homem e intimidação não funcionava com ela. Allyria só cruzou os braços e ficou encarando Allon.
- Ensinaram sim – Uma voz disse atrás de Allon.
Todos encararam a professora. Arkalis, uma das melhores guerreiras da casa Drunkar.
- Arkalis meu amor – Allon se virou para ela e riu maliciosamente.
- São íntimos? – Allyria perguntou curiosa.
- Já fomos – Arkalis respondeu levantando uma sobrancelha – Hoje somos só pessoas que se toleram.
-Já fomos muito mais que íntimos – Allon se gabou.
Allyria ficou chocada ao descobrir que sua professora favorita já teve relações um cara arrogante como ele. Na verdade, só de saber que Arkalis teve contato com um homem já a fascinou. Relacionamentos eram permitidos, mas, seus professores eram rigorosos e raramente se ficava sabendo da vida amorosa do seu mestre.
- E foi minha maior perda de tempo – Arkalis revidou.
- Certo – Arthus pigarreou – Precisamos ir. Não precisamos Allyria?
Allyria olhou para Arthus e entendeu que eles precisavam deixar o casal resolver seus problemas a sós. Mas, no fundo ela queria ficar ali e ver o desenrolar da história.
Ela revirou os olhos e respirou fundo.
- Sim precisamos – Allyria deu uma risada forçada e foi andando – Tchau mestre!
Arkalis acenou com a cabeça e voltou a encarar Allon.
Arthus foi correndo para acompanhar a amiga.
- Não adianta ficar irritada, precisamos arrumar nossas coisas – Arthus deu de ombros – E provavelmente Allon já está preparado para uma coisa dessas.
- E por que ele estaria? Pelo que vi, ele viajou até aqui. Precisa repor as armas, os suprimentos e as poções. Isso leva pelo menos meio dia.
- Garanto que ele já tem tudo pronto.
- Não sei por que ele tem que vir junto com a gente – Allyria perguntou irritada - somos capazes de resolver esse problema. O que ele tem de especial?
- Você está brincando?
Allyria encarou seu amigo com um olhar questionador.
- Ele é o filho da suma sacerdotisa.
Aquilo explicava tudo. Ele era o famoso Allon de Drunkar, filho da sumo sacerdotisa de Drunkar, o lendário matador da Rafisha, a serpente de fogo que atormentava a capital. Ele basicamente, já tinha salvado o mundo. Allyria percebeu o motivo daquele jeito arrogante e superior que ele exalava. Allon tinha o direito de ser assim, por que se fosse ela no lugar dele, certamente seria muito pior.

As três chaves de Ecco - O guerreiro e o escolhidoOnde histórias criam vida. Descubra agora