Lagartos eram muito mais rápidos que cavalos, mas, se você fosse uma pessoa leiga em montaria sairia voando assim que o lagarto andasse. A primeira regra no manual de sobrevivência sobre montaria em lagartos era: Colocar óculos. A segunda era: Prender suas pernas fortemente na montaria. E a terceira coisa: Nunca, jamais, segurar o lagarto pelas escamas. Eles podiam ficar com raiva.
Arthus tentou explicar suas lições para Allyria que de pensativa passou para a louca risonha. Assim que a suma sacerdotisa disse quem seriam os convocados, Arthus sabia que o futuro encontro das duas resultaria em uma luta de egos ou pior, uma luta corpo a corpo. E ele estava rezando para todos os deuses para que as duas não se matassem antes de concluir a missão.
Desde os quatorzes anos, Arthus teve uma queda por Allyria. Ela era a menina magrela e baixinha, com os cabelos negros mais bonitos e com a pele branca mais sedosa, mesmo que ele próprio nunca tivesse tocado. O jeito de andar, o modo de falar, as técnicas de luta que ela usava sempre interessavam ele. Só que ela nunca soube da sua paixão e aparentemente não tinha os mesmos sentimentos por ele.
Para os alunos da academia, Arthus sempre foi o atrapalhado e brincalhão e por isso, não era levado muito a sério. Ele tentou se aproximar dela, mas, ela raramente dava liberdade. Ele tinha consciência que para ela, ele não passava de um conhecido, nem amigo devia ser considerado.
- Estão prontos? – Allon se aproximou dos dois.
- Sim – Allyria respondeu.
- Sim senhor – Arthus respondeu.
- Então não podemos perder mais tempo – Allon subiu em um dos lagartos e seguiu para o portão principal da academia.
Arthus e Allyria subiram nos lagartos e acenaram em despedida para a suma sacerdotisa e Arllen que ficaram ali observando tudo de longe, as duas corresponderam o aceno.
Ali dentro da academia os lagartos estavam devagar, mas, eles sabiam que assim que passarem pelos portões e colocassem as garras na estrada os três animais sairiam em disparada.
- Todos colocaram os óculos? – Allon estava à espera dos dois.
Os dois colocaram os óculos e concordaram.
- Hora da aventura – Allon saiu em disparada pela estrada.
E os dois iniciados saíram atrás.
***
Três dias era o tempo que havia se passado e nesse pouco tempo, Arthus já não agüentava mais as discussões entre Allon e Allyria. Os dois tinham personalidades fortes e qualquer coisa era motivo de discussão. Eles já haviam parado em quatro cidades para descansar. Faltava pouco para a capital mais Arthus só conseguia pensar que as coisas poderiam piorar muito com a chegada de Rowena no grupo. Eles iriam se encontrar com os outros dois na capital.
- Vamos seguir a margem do rio – Allon dizia.
- Não podemos ir perto do rio, tem muitas pedras – Allyria retrucava.
- E o que a senhorita sugere? Na região tem muitos ladrões – Allon dizia todo arrogante.
- Em todos os lugares há ladrões e, além disso, somos guerreiros.
- Eu sei que somos guerreiros, mas, pode haver armadilhas e eu não gosto de atrasos.
- Nós já estamos adiantados, estamos viajando com lagartos.
- Sabe que o rei não tolera atrasos e só faltam dois dias – Allon disse impaciente – Qual a diferença de ir pelo rio? É o mesmo caminho!
- Exatamente. Por que ir pelo rio? – Allyria disse irritada.
Essa havia sido a discussão de ontem. E no dia de hoje Arthus esperava que as coisas melhorassem.
- Qual é o seu problema garota? – Allon disse enquanto tinham feito uma pausa.
- O que foi dessa vez? – Arthus perguntou desanimado.
- Ela jogou besouros na minha comida – Allon mostrou o saco de comida, cheio de besouros marrons.
- E por que ela faria isso? – Arthus perguntou.
- Eu não sei – Allon disse bravo jogando o saco no chão – Allyria! Allyria! Onde você está?
Eles estavam na floresta de Lur, aos arredores da capital, faltava tão pouco. Os lagartos estavam comendo e os três haviam descido da montaria para esticar as pernas e fazer suas necessidades.
- Allyria? – Arthus perguntou preocupado. Ela não estava à vista deles.
- Ela pode ter ido se aliviar – Allon bateu o pé no chão.
- Não foi ela – Arthus tentou acalmar ele.
- E por que não? Ela está me irritando desde que saímos da academia.
- E por isso tem que colocar besouros na sua comida? Não somos mais crianças Allon, apesar de você nos tratar como uma – Arthus foi ríspido, mas, ele já não agüentava mais.
Arthus colocou a mão em sua espada na esperança de se acalmar, porém, ela não se encontrava mais ali.
- Mais o que? – Arthus olhou para o chão a procura da espada – Onde está Escuridão?
- Perdeu a espada é? – Allon disse sarcástico.
- Não é hora para brincadeiras...
- Espere – Allon olhou para os lagartos – Onde nossas mochilas?
Aquilo estava estranho demais.
Besouros na comida.
O sumiço de seus pertencentes.
Aquilo parecia brincadeira de criança.
Só podia ser uma coisa.
- Syorcs – Arthus e Allon disseram juntos.
Syorcs eram criaturas pequenas, com cerca de meio metro, possui a pele verde e dois dentes afiados que saem pela boca larga. Eles não sabem falar, só fazem alguns sons que se assemelha a um porco gritando. Essas criaturinhas adoram roubar e pregar peças nos viajantes das florestas.
- Será que levaram Allyria? – Arthus perguntou preocupado.
- Não seja idiota – Allon balançou a cabeça – Eles não levam pessoas.
- O mundo está tão estranho que se Syorcs levassem uma pessoa não me surpreenderia– Arthus deu de ombros.
- Vou pela direita e você esquerda – Allon sussurrou no ouvido dele – No arbusto a sua esquerda, observe o movimento – Arthus percebeu algo ali e confirmou com a cabeça – Pule em cima dele e separe a cabeça do corpo. Eles costumam demorar para morrer.
Arthus concordou silenciosamente e foi a passos leves até o arbusto indicado.
O arbusto se mexeu novamente revelando o local exato. Mais um movimento e Arthus pulou em cima com sua adaga na mão direita e decepou a criatura pequena. Sangue verde jorrou pela abertura da cabeça sujando as botas dele.
- Eca – Ele se agachou e no meio daquela sujeira toda estava sua espada – Aqui está você.
Um grito e mais um grito.
Arthus ficou alerta e se escondeu no arbusto. O que estava acontecendo?
Aqueles gritos não eram do Syorcs. Parecia...
- Por que você o matou? – Allon gritou saindo da vegetação, os olhos dele mostravam raiva.
- Por que eu fui a primeira a perceber que havia Syorcs aqui e me escondi para matá-los – Allyria saiu de trás do arbusto toda suja de sangue verde.
Arthus suspirou e saiu do arbusto que se escondia e ali estava mais uma discussão.
- E por que não nos avisou? Nos fez de bobos enquanto você ficaria com a parte divertida – Allon esbravejou.
- Você matou Rafisha a lendária serpente de fogo e está bravo porque matei um simples Syporcs? – Allyria disse inconformada – O seu ego irá te matar.
- E o seu também – Allon já estava ficando vermelho – Somos uma equipe! E é seu dever nos avisar do perigo! Não pode ficar se escondendo e querer fazer tudo sozinha, você vê o seu ego também?
- Eu só queria...
- Me responda! – Allon gritou.
- Sim. Eu. Vejo. O. Meu. Ego – Allyria respondeu pausadamente.
Ela devia estar fervilhando de raiva por dentro.
- Não se esqueça que estamos em equipe – Allon limpou sua bota do sangue verde e devolveu as mochilas que os Syorcs haviam roubado.
- Ela não fez por mal – Arthus limpou sua pequena adaga e a espada no musgo próximo e montou no seu lagarto.
- Garoto, não a proteja – Allon bocejou – Equipe. Não se esqueça disso também.
Arthus queria que seu lagarto comesse a cabeça de Allon naquele instante e ele podia jurar que Allyria desejava a mesma coisa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As três chaves de Ecco - O guerreiro e o escolhido
FantasyUm mundo em que os guerreiros são abençoados pelos Deuses, aconteceu um crime. Lorde Hegarty acaba de morrer. Além dos assassinos não terem levado nada de valor, eles conseguiram matar quatro guerreiros iniciados. Um ato quase impossível. O que esse...