VIII. Arthus De Drunkar

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Lagartos eram muito mais rápidos que cavalos, mas, se você fosse uma pessoa leiga em montaria sairia voando assim que o lagarto andasse. A primeira regra no manual de sobrevivência sobre montaria em lagartos era: Colocar óculos. A segunda era: Prender suas pernas fortemente na montaria. E a terceira coisa: Nunca, jamais, segurar o lagarto pelas escamas. Eles podiam ficar com raiva.
Arthus tentou explicar suas lições para Allyria que de pensativa passou para a louca risonha. Assim que a suma sacerdotisa disse quem seriam os convocados, Arthus sabia que o futuro encontro das duas resultaria em uma luta de egos ou pior, uma luta corpo a corpo. E ele estava rezando para todos os deuses para que as duas não se matassem antes de concluir a missão.
Desde os quatorzes anos, Arthus teve uma queda por Allyria. Ela era a menina magrela e baixinha, com os cabelos negros mais bonitos e com a pele branca mais sedosa, mesmo que ele próprio nunca tivesse tocado. O jeito de andar, o modo de falar, as técnicas de luta que ela usava sempre interessavam ele. Só que ela nunca soube da sua paixão e aparentemente não tinha os mesmos sentimentos por ele.
Para os alunos da academia, Arthus sempre foi o atrapalhado e brincalhão e por isso, não era levado muito a sério. Ele tentou se aproximar dela, mas, ela raramente dava liberdade. Ele tinha consciência que para ela, ele não passava de um conhecido, nem amigo devia ser considerado.
- Estão prontos? – Allon se aproximou dos dois.
- Sim – Allyria respondeu.
- Sim senhor – Arthus respondeu.
- Então não podemos perder mais tempo – Allon subiu em um dos lagartos e seguiu para o portão principal da academia.
Arthus e Allyria subiram nos lagartos e acenaram em despedida para a suma sacerdotisa e Arllen que ficaram ali observando tudo de longe, as duas corresponderam o aceno.
Ali dentro da academia os lagartos estavam devagar, mas, eles sabiam que assim que passarem pelos portões e colocassem as garras na estrada os três animais sairiam em disparada.
- Todos colocaram os óculos? – Allon estava à espera dos dois.
Os dois colocaram os óculos e concordaram.
- Hora da aventura – Allon saiu em disparada pela estrada.
E os dois iniciados saíram atrás.
                                                                                         ***


Três dias era o tempo que havia se passado e nesse pouco tempo, Arthus já não agüentava mais as discussões entre Allon e Allyria. Os dois tinham personalidades fortes e qualquer coisa era motivo de discussão. Eles já haviam parado em quatro cidades para descansar. Faltava pouco para a capital mais Arthus só conseguia pensar que as coisas poderiam piorar muito com a chegada de Rowena no grupo. Eles iriam se encontrar com os outros dois na capital.
- Vamos seguir a margem do rio – Allon dizia.
- Não podemos ir perto do rio, tem muitas pedras – Allyria retrucava.
- E o que a senhorita sugere? Na região tem muitos ladrões – Allon dizia todo arrogante.
- Em todos os lugares há ladrões e, além disso, somos guerreiros.
- Eu sei que somos guerreiros, mas, pode haver armadilhas e eu não gosto de atrasos.
- Nós já estamos adiantados, estamos viajando com lagartos.
- Sabe que o rei não tolera atrasos e só faltam dois dias – Allon disse impaciente – Qual a diferença de ir pelo rio? É o mesmo caminho!
- Exatamente. Por que ir pelo rio? – Allyria disse irritada.
Essa havia sido a discussão de ontem. E no dia de hoje Arthus esperava que as coisas melhorassem.
- Qual é o seu problema garota? – Allon disse enquanto tinham feito uma pausa.
- O que foi dessa vez? – Arthus perguntou desanimado.
- Ela jogou besouros na minha comida – Allon mostrou o saco de comida, cheio de besouros marrons.
- E por que ela faria isso? – Arthus perguntou.
- Eu não sei – Allon disse bravo jogando o saco no chão – Allyria! Allyria! Onde você está?
Eles estavam na floresta de Lur, aos arredores da capital, faltava tão pouco. Os lagartos estavam comendo e os três haviam descido da montaria para esticar as pernas e fazer suas necessidades.
- Allyria? – Arthus perguntou preocupado. Ela não estava à vista deles.
- Ela pode ter ido se aliviar – Allon bateu o pé no chão.
- Não foi ela – Arthus tentou acalmar ele.
- E por que não? Ela está me irritando desde que saímos da academia.
- E por isso tem que colocar besouros na sua comida? Não somos mais crianças Allon, apesar de você nos tratar como uma – Arthus foi ríspido, mas, ele já não agüentava mais.
Arthus colocou a mão em sua espada na esperança de se acalmar, porém, ela não se encontrava mais ali.
- Mais o que? – Arthus olhou para o chão a procura da espada – Onde está Escuridão?
- Perdeu a espada é? – Allon disse sarcástico.
- Não é hora para brincadeiras...
- Espere – Allon olhou para os lagartos – Onde nossas mochilas?
Aquilo estava estranho demais.
Besouros na comida.
O sumiço de seus pertencentes.
Aquilo parecia brincadeira de criança.
Só podia ser uma coisa.
- Syorcs Arthus e Allon disseram juntos.
Syorcs eram criaturas pequenas, com cerca de meio metro, possui a pele verde e dois dentes afiados que saem pela boca larga. Eles não sabem falar, só fazem alguns sons que se assemelha a um porco gritando. Essas criaturinhas adoram roubar e pregar peças nos viajantes das florestas.
- Será que levaram Allyria? – Arthus perguntou preocupado.
- Não seja idiota – Allon balançou a cabeça – Eles não levam pessoas.
- O mundo está tão estranho que se Syorcs levassem uma pessoa não me surpreenderia– Arthus deu de ombros.
- Vou pela direita e você esquerda – Allon sussurrou no ouvido dele – No arbusto a sua esquerda, observe o movimento – Arthus percebeu algo ali e confirmou com a cabeça – Pule em cima dele e separe a cabeça do corpo. Eles costumam demorar para morrer.
Arthus concordou silenciosamente e foi a passos leves até o arbusto indicado.
O arbusto se mexeu novamente revelando o local exato. Mais um movimento e Arthus pulou em cima com sua adaga na mão direita e decepou a criatura pequena. Sangue verde jorrou pela abertura da cabeça sujando as botas dele.
- Eca – Ele se agachou e no meio daquela sujeira toda estava sua espada – Aqui está você.
Um grito e mais um grito.
Arthus ficou alerta e se escondeu no arbusto. O que estava acontecendo?
Aqueles gritos não eram do Syorcs. Parecia...
- Por que você o matou? – Allon gritou saindo da vegetação, os olhos dele mostravam raiva.
- Por que eu fui a primeira a perceber que havia Syorcs aqui e me escondi para matá-los – Allyria saiu de trás do arbusto toda suja de sangue verde.
Arthus suspirou e saiu do arbusto que se escondia e ali estava mais uma discussão.
- E por que não nos avisou? Nos fez de bobos enquanto você ficaria com a parte divertida – Allon esbravejou.
- Você matou Rafisha a lendária serpente de fogo e está bravo porque matei um simples Syporcs? – Allyria disse inconformada – O seu ego irá te matar.
- E o seu também – Allon já estava ficando vermelho – Somos uma equipe! E é seu dever nos avisar do perigo! Não pode ficar se escondendo e querer fazer tudo sozinha, você vê o seu ego também?
- Eu só queria...
- Me responda! – Allon gritou.
- Sim. Eu. Vejo. O. Meu. Ego – Allyria respondeu pausadamente.
Ela devia estar fervilhando de raiva por dentro.
- Não se esqueça que estamos em equipe – Allon limpou sua bota do sangue verde e devolveu as mochilas que os Syorcs haviam roubado.
- Ela não fez por mal – Arthus limpou sua pequena adaga e a espada no musgo próximo e montou no seu lagarto.
- Garoto, não a proteja – Allon bocejou – Equipe. Não se esqueça disso também.
Arthus queria que seu lagarto comesse a cabeça de Allon naquele instante e ele podia jurar que Allyria desejava a mesma coisa.

As três chaves de Ecco - O guerreiro e o escolhidoOnde histórias criam vida. Descubra agora