VII. Allyria De Drunkar

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- Pegou quantas poções de cura? – Arthus perguntou enquanto remexia sua mochila, eles haviam acabado de retornar dos seus dormitórios.
- Umas vinte – Allyria estava arrumando sua armadura de combate, encaixando as pequenas facas na armadura que ficariam escondidas no seu peitoral.
Arthus balançou a cabeça.
- Só vinte? Você é louca?
- E quantas você está levando? – Allyria perguntou irritada.
- Cinqüenta – Arthus já estava fechando a mochila e se aproximando dela – O manual de sobrevivência diz que devemos levar no mínimo cinqüenta poções de cura, cinqüenta poções de força e...
- Quanta falação garoto – Allon entrou na sala assustando os dois – Deixe-a levar o quanto ela quiser. Vocês já são iniciados, já deveria conhecer os riscos.
Allyria arrumou a postura, apesar de não ir muito com a cara de Allon, ela tinha respeito pelo o que ele fez.
Eles estavam na sala de equipamentos, lá havia tudo o que um guerreiro precisaria para uma missão. Adagas, estrelas pontiagudas, facas de todos os tamanhos, várias poções, armaduras e escudos. Só não havia espadas, porque cada guerreiro recebia uma espada depois de iniciado e a maioria andava com a sua espada embainhada na cintura. As espadas eram sagradas para a casa, já que era o símbolo do Deus Drunkar.
Todas as espadas eram batizadas após a iniciação do guerreiro e assim elas recebiam um nome de batismo.
A espada de Arthus se chamada Escuridão, ela só sabia por que o batismo havia sido junto com a sua.
- Como ela se chama? – Allyria perguntou olhando diretamente para a espada na cintura de Allon.
Allon olhou para ela e seguiu o seu olhar, ele desembainhou a espada e a admirou.
- Pesadelo – Allon deu um sorrisinho e voltou a encarar Allyria – E qual é o nome da sua?
- Calamidade – Allyria deu de ombros, pegou sua mochila e foi em direção a porta.
- Que nome presunçoso – Allon guardou sua espada e seguiu a garota.
- Ei – Arthus gritou – Aonde vocês vão?
Allyria continuou em frente, mas, pode ouvir o que eles diziam.
- Temos uma missão garoto – Allon disse – Você vai ficar o dia inteiro contando poções ou vai com a gente?
Ela riu.
                                                                                     ***


Allyria ficou olhando para os lagartos gigantes que estavam no pátio da academia.
Ela já tinha montado em um, mas, era um lagarto filhote em comparação com aqueles. Provavelmente a capital havia mandado aqueles lagartos para que a viagem fosse mais rápida.
- Pela Deusa – Arthus disse ao seu lado – olha o tamanho dessas coisas.
- Temos que ir rápido – Allon passou pelos dois e foi em direção aos lagartos – Se fossemos de cavalo levaria quinze dias para chegarmos até a capital. Com essas belezinhas reduzimos em... – Ele passou a mão pelo flanco do animal – uns dez dias, pelo menos.
- Vamos, arrumem as coisas de vocês – Allon apressou o grupo – Não temos o dia inteiro. Daqui meia hora iremos partir.
Ela se apressou em colocar seu equipamento nos bolsos da montaria. Os lagartos eram animais treinados e por isso, não fizeram nenhuma gracinha. Allyria já tinha ouvido histórias de pessoas que perderam a mão tentando lidar com essas feras.
Depois de alguns minutos, Ardena chegou com Arleen ao seu lado. As duas começaram a conversar com Allon. Ela viu quando a suma sacerdotisa entregou uma carta ao filho. Aquela carta era o cronograma da missão e lá havia tudo o que eles precisavam saber sobre o ocorrido.
Allyria olhou para o muro que cercava a academia. Ela nunca tinha viajado além de Dallur e agora ela estava indo para outro país. Não parecia mais a garota que era antes da iniciação. Assim que passou pelo ritual de memória, se esquecendo de todo o seu passado, ela sofreu rejeição no início do seu treinamento. Ela era pequena e magra o oposto da maioria das crianças que eram grandes e fortes. Muitos duvidaram de que ela passasse pela iniciação viva e ali estava ela em uma missão super importante.
- Você não está preocupada com os outros convocados está? – Arthus estava do lado dela.
- Não – Allyria fechou os olhos, ele estava falando de Razzos e Rowena.
Arthus era da mesma turma dela, ele tinha visto em primeira mão o que as outras crianças eram capazes.
- Eu gosto de Rowena tanto quando você – Arthus suspirou – Ela não vai te tratar da mesma forma. Você já é uma iniciada.
Quando eles tinham quinze anos à academia levou os aprendizes para o festival da Deusa Azlyn na capital. Lá estava todas as casas. Esses festivais serviam para fazer todas as casas interagirem, já que durante o resto do ano eles ficavam treinando ou rezando e fazendo seus rituais sem muito contato com o resto do mundo.
Os guerreiros eram os únicos que saiam mais, já que tinham missões.
A casa Sunset chegou junto com a casa Drunkar e logo começaram as apresentações. Rowena é um ano mais velha e naquela época se achava no direito de inferiorizar os mais novos e para infelicidade de Allyria, Rowena decidiu que ela seria seu alvo.
- Que menina magrela – Rowena disse rindo com os amigos – Os braços dela parecem palitos. Não serviria nem como comida para nossas feras – Ela dizia alto para todos ouvirem – Provavelmente, não irá sobreviver na iniciação.
O erro naquela época foi Allyria querer revidar.
- O que foi que disse? – Allyria estufou o peito.
- Eu disse o que você ouviu – Rowena saiu de onde estava e veio para cima dela.
Rowena era dois palmos maior e mais musculosa também. Allyria engoliu o medo e revidou com um olhar furioso.
- Sou da casa Drunkar e você da casa Sunset, somos irmãos perante aos deuses – Allyria disse com raiva – Como ousa duvidar da minha capacidade?
- Você não é nada! – Rowena gritou – Perante aos deuses você é um ser insignificante que não deveria ter entrado na academia. Seus pais devem ser tão pobres que te deram para a casa de Drunkar na esperança de não passar mais fome...
Allyria deu um soco no rosto de Rowena que deu um grito.
- Sua rata maldita! – Rowena colocou a mão na bochecha machucada.
Naquela altura todos já estavam prestando atenção nas duas.
Rowena se jogou em cima dela e começou a tentar dar socos. Mas, a casa da Deusa Sunset tinha ótimos arqueiros e não eram bons em lutas corpo a corpo. Então a adversária começou a puxar o cabelo dela e a arranhar seu rosto e pescoço. Aquilo era jogo sujo. Allyria era aprendiz, mas, já havia aprendido o básico em defesa. Ela conseguiu imobilizar Rowena e ficou por cima dela.
- Saiam daqui – Um garoto moreno e alto gritou para a platéia que assistia – Vocês não tem nada o que ver aqui!
Mais tarde Allyria saberia que aquele era Rhojan.
- Razzos! Ajude aqui – O garoto moreno tirou Allyria de cima de Rowena e um garoto loiro puxou Rowena e a segurou.
- Sua delinquente! – Rhojan gritou com Rowena – O que pensa que está fazendo?
Allyria pode ver tufos de seu cabelo preto nas mãos da adversária. Ela fechou os olhos para não chorar ali na frente deles. Rowena apenas riu.
- Ela não sobreviverá à iniciação – Rowena disse com raiva – Ela é muito fraca, só queria dar uma lição.
- A é? E quem saiu machucada? – Rhojan disse bravo – olhe para sua cara!
A bochecha de Rowena já estava começando a ficar roxa.
- Só me solte – Allyria pediu para Rhojan – Eu só quero ir embora.
- Não , Rowena irá pedir desculpas...
- Salte-a – Arthus apareceu no meio da multidão – Eu cuido dela agora.
- Ora, ora, um salvador para uma princesa em perigo – Rowena foi irônica.
- Cale a boca! – Rhojan gritou.
E assim ele soltou Allyria que caiu de joelhos no chão.
Arthus correu a seu socorro e a ajudou se levantar.
- Qual é o nome dela? – Rhojan perguntou para Arthus já que tinha percebido que ela não responderia.
- Não interessa o nome dela – Arthus respondeu rispidamente – Deixe-a em paz e cuide da sua casa.
- Só quero pedir desculpas em nome de casa SunsetRhojan passou a mão pelo o rosto, envergonhado.
- Meu nome é Allyria – Ela encarou os olhos castanhos do garoto.
Ainda eles não eram iniciados e seus olhos tinham cores normais.
- Allyria – Ele repetiu como se gostasse do som – Meu nome é Rhojan e aquele – Ele apontou para o garoto loiro que ainda segurava Rowena no lugar – é o Razzos. E em nome da casa da Deusa Sunset, a Deusa da caça e da justiça, pedimos desculpas pelos modos da nossa aprendiza.
Allyria se desvencilhou de Arthus e foi embora sem olhar para trás. A partir daquele dia ela fez uma promessa de que seria a melhor guerreira de todos os tempos. Não para provar para as pessoas de que ela era capaz, mas, para provar a si mesma de que podia ir muito além.
Voltando para o tempo atual, Allyria apertou o laço em volta do lagarto gigante e encarou Arthus.
- Na verdade estou ansiosa para vê-la. Já faz alguns anos que não nos vemos e quero que veja os meus olhos vermelhos – Allyriu riu de si mesma – Estou louca para ver a cara dela.
Arthus ficou em silêncio observando a amiga rir.


As três chaves de Ecco - O guerreiro e o escolhidoOnde histórias criam vida. Descubra agora