XII. Diana Abrach

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- Não precisa se preocupar – Ianna disse apressada – Eles não vão nos achar.
Diana confiava nas visões da irmã, por isso se deu o direito de ficar mais calma.
- Tem certeza disso?
- Nas próximas duas semanas está tudo igual – Ianna deu de ombros.
A primeira lição que Hana havia ensinado para Ianna foi: Não se deve contar todos os detalhes das visões. Conforme o tempo foi passando, Diana conseguiu comprar livros e pergaminhos para que Ianna estudasse sobre vidência. O problema de se contar uma visão em detalhes para alguém é que se esse alguém quiser mudar o futuro, acaba gerando uma nova visão, um novo futuro possível e assim sucessivamente. Os livros ensinavam o vidente, não contar a previsão de forma direta, mas sim em forma de rima, poesia, alegorias ou palavras aleatórias.
A segunda lição foi: Nunca tente mudar o futuro. Quando Ianna tinha sete anos, ela contou a Diana que o filhote da cabra que haviam comprado iria morrer devido ao frio. Elas trouxeram o filhote para dentro da cabana e na manhã seguinte o animal estava cheio de vermes. Não importava o quanto tentasse mudar o futuro, o destino já estava escrito.
A terceira lição foi à descoberta da sua limitação. As visões começaram a vir quando Ianna tinha cinco anos e no início só conseguia ver dias à frente. A cada aniversário conseguia ver mais a frente e hoje com quase dez anos, só conseguia ver duas semanas antecipada.
- Consegue ver alguma coisa a respeito da casa do Deus Norrad?
Ianna fechou os olhos e se concentrou.
- A mesma coisa de sempre.
- E os reinos? – Diana perguntou.
- Eu já disse – Ianna disse impaciente - Mortes no mar de Sak, um homem caçando – Ela fechou os olhos novamente – Agora um grupo está indo até lá.
- Até onde?
Ianna abriu os olhos e encarou a irmã.
- Até o país dos curandeiros.
- Satt? – Diana perguntou pensativa.
Ianna negou com a cabeça.
- Mirsha?
Ela confirmou.
- E vão achar o culpado das mortes?
Ianna olhou pela janela da pequena cabana e ficou com o olhar fixo em algum ponto imaginário. Esse era a expressão que a irmã fazia quando via o futuro mais distante que conseguia. Diana já estava acostumada com essas pequenas pausas, ela resolveu guardar a cesta que havia levado na viagem até a pequena cidade para vender suas mercadorias. Foi até o armário de madeira o abriu e colocou a cesta lá, tirou o pequeno saco de moedas e guardou em uma caixa de madeira.
Ela ouviu alguma coisa cair no assoalho.
Diana se virou na direção da irmã. Ianna tinha caído da cadeira e estava se contorcendo no chão. Os olhos verdes da garota rolavam para trás e as convulsões faziam com que ela espumasse a boca.
- Pelos Deuses! – Diana virou sua irmã de lado para que ela não se sufocasse com a própria saliva.
Tentou levantar a irmã que convulsionava sem parar. Com muito esforço conseguiu tirá-la do chão e a colocar na cama. Diana já tinha visto isso acontecer no primeiro ano de vidência da irmã. Fazia quatros anos que isso não acontecia. Ela passou a mão na testa da irmã, se ajoelhou ao lado da cama e começou a rezar para os Deuses. Diana rezou para todos os nove Deuses maiores e para os menores também. Quinze minutos se passaram até que Ianna começasse a voltar ao normal.
A garota tossiu e segurou a mão da irmã que rezava ao lado.
Diana apertou a mão em resposta, esperando que a irmã se sentisse segura.
- O que você viu? – Diana perguntou insegura.
- Cinzas, fogo, luta – Ianna tossiu de novo.
A menina fez esforço.
- Uma guerreira de olhos vermelhos - Ianna fechou os olhos – Um homem com capuz.
Diana apertou a mão da irmã mais forte.
- Sangue e morte – A vidente disse por fim – Ela precisa tomar cuidado.
- Ela quem? – Diana perguntou preocupada.
- Allyria.


As três chaves de Ecco - O guerreiro e o escolhidoOnde histórias criam vida. Descubra agora