V. Allon De Drunkar

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- Então foi convocado para a missão – Arkalis tinha feito uma afirmação.
- Você já sabia – Allon riu – Por que não quis ir? Tenho certeza que minha mãe deve ter te chamado. Aliás, a garota e o garoto são seus alunos, seria muito mais fácil.
- Tenho minhas tarefas – Arkalis abaixou a cabeça, fazendo seus cabelos ondulados caírem em seus ombros – Não posso deixar a academia assim.
Ela estava tensa, seus ombros estavam retraídos, o rosto mostrava preocupação.
- O que foi? Está com medo de que eu não volte vivo? – Allon tentou brincar para distraí-la.
- Você sabe como o círculo pode ser perigoso – Arkalis sussurrou.
Ela realmente estava preocupada.
Allon sabia sobre o círculo, era uma seita dentro da casa Norrad, eles se auto-intitulavam de "O círculo das cinzas dos últimos dias". Eram formados por fanáticos que acreditavam nas antigas profecias e eram loucos por alguma vidente. Os videntes eram da casa da Deusa Valian. Porém, eram muito raros. A última vidente viva conhecida era Thalia de Valian, mas, ela já era tão velha que não consegui falar mais. O círculo insistia sobre a existência de mais videntes. Não era impossível de existir, mas, ainda não havia aparecido nenhum e já fazia cem anos.
- O que quer dizer? – Allon analisou quem estava no corredor e voltou em direção a Arkalis. Ele a pegou pelo braço e a arrastou até a sala mais próxima. Era um armário de limpeza, era pequeno e havia muitos produtos e vassouras velhas.
Ali estava escuro e abafado, mas, Allon conseguia ver o brilho da pele bronzeada e o castanho dos cabelos enrolados que iam até os ombros, ela era linda.
- Eu não sei de nada. Sua mãe não me contou – Arkalis disse apressada mostrando seu nervosismo – Eles podem fazer de tudo pelo que querem e acreditam.
- E o que eles querem? Videntes? – Allon disse irritado se aproximando até ficar um palmo de distância do rosto de dela – Você sabe que não há mais videntes. Os deuses não nos abençoaram com tal graça.
- E se o rei tiver um? – Arkalis disse entre dentes.
Allon ficou chocado.
- E por que ele não revelaria para os outros países? Por que não revelaria para o seu próprio povo? – Allon colocou as duas mãos na cabeça – Tem noção do que está dizendo? Seria traição Arkalis. O rei não pode esconder uma coisa dessas sem gerar uma guerra.
- O que acha que tinha no navio real então? Não levaram nada do que estava registrado. Só havia morte – Arkalis disse desesperada – Tinha alguma coisa lá. Alguma coisa que não estava nos registros. E se for uma pessoa? E se for um vidente?
- Então o rei vai ter que responder pelos seus atos.
- Aí está a questão Allon. Essa coisa pode estar muito além de vocês três. Muito além do que sua mãe pensa. Se envolver o rei... – Arkalis respirou – O povo pode se rebelar e esse país virar um caos.
Allon ficou pensativo, olhando ao redor, tentando visualizar toda a situação que Arkalis descrevia.
- Não é um segredo do rei, não se preocupe.
- Como pode ter tanta certeza?
- Ele não chamaria as casas se fosse.
- E se ele está fazendo isso para não levantar suspeitas?
- Não se preocupe ArkalisAllon arrumou a postura – Ainda é muito cedo para julgarmos alguém. Ainda mais o rei.
- Só tome cuidado – Arkalis olhou para o chão, ela estava tímida – Se precisar...Se precisar de ajuda – Ela tirou do bolso da calça um cristal azul – Use isso para chamar ajuda.
Allon sabia o que era aquilo. Era um cristal gêmeo, provavelmente Arkalis tinha o irmão do cristal. Tudo que acontecia com um refletia no outro. Eles poderiam conversar através do cristal. Aquilo seria muito útil, se manter informado em tempo real era muito mais rápido que cartas.
- Só aceito com uma condição – Allon disse empinando o nariz.
Arkalis levantou uma sobrancelha desconfiada.
- E qual é?
- Não pode contar nada para minha mãe – Ele disse sério – Apenas se eu disser para contar.
Ela deu uma bufada, olhou para o cristal e depois voltou a olhá-lo.
- Certo – Arkalis disse colocando o cristal na mão de dele – Se precisar de ajuda, não deixe seu orgulho decidir por você. Como você mesmo disse, eles são meus alunos e os quero vivos.
- Não se preocupe, voltarei vivo por você – Allon colocou o cristal no bolso da jaqueta de couro e piscou para Arkalis – Por que você vale à pena.
E saiu da pequena sala deixando Arkalis sem palavras.

As três chaves de Ecco - O guerreiro e o escolhidoOnde histórias criam vida. Descubra agora