No alto da torre das cinzas, na cidade de Buch, em Carmel, o único país que tinha o Deus Norrad como patrono, estava o sumo sacerdote Cael com seu fiel conselheiro e ajudante Rodric. O sumo sacerdote já tinha uma idade avançada e sua aparência demonstrava isso, cabelos brancos devido a velhice e longos, assim como sua barba.
Já seu conselheiro era mais jovem, mas, sua aparência lembrava de uma pessoa doente, a pele era muito pálida, tinha grandes olheiras arroxeadas embaixo dos olhos, seu nariz era muito fino, sua boca não tinha cor e sua cabeça era raspada. O corpo do conselheiro era muito magro, quase revelando os ossos, devido ao seu estado ele não saia da torre, por que qualquer cidadão que o visse o repudiaria. Todos reconheciam alguém que usava magia negra ao seu favor.
Um corvo negro pousou na janela da torre, Rodric se levantou de sua cadeira e correu até o pássaro. Ao pé do animal estava amarrado mais uma mensagem. Era do escolhido.
- O que diz? - Cael perguntou de sua cadeira.
- "Estamos a caminho do vidente, a guerreira já está conosco, ela se chama Allyria. Ela é mais do que esperávamos. - Glenn" - Rodric leu a mensagem com sua voz fina.
- Então ele conseguiu - O velho riu - Nosso guerreiro é uma fêmea! Glenn é muito esperto, as previsões estavam certas.
- O que ele quis dizer com: " Ela é mais do que esperávamos"? Será que é obediente? - Rodric rasgou a mensagem e queimou em uma vela da mesa próxima.
- Certamente que não - Cael disse pensativo - Guerreiros de Drunkar são fiéis de mais ao seu Deus. Ele vai precisar de ajuda, tente achá-la no cristal.
- Sim meu senhor - Rodric fez uma reverência e se dirigiu até a sala secreta ao lado.
A sala do cristal ficava atrás de uma estante de livros, para qualquer pessoa que entrasse naquele cômodo ninguém veria o que estava escondido atrás daquelas paredes.
O conselheiro entrou na sala tirando um livro do lugar certo da estante. No centro do quarto encontrava-se uma bola de cristal branca como osso. Rodric pegou uma pequena adaga de sua túnica e fez um corte em sua mão. O sangue se acumulou na ferida e quando se aproximou da bola de cristal passou sua mão ensanguentada em cima, como se estivesse fazendo carinho no artefato.
- Allyria, Allyria, Allyria - Ele cantarolou - Vespertatus antiguare Maleficum romanare controlatu.
Rodric conseguiu ver o rosto da guerreira, pode sentir seu cheiro, pode sentir seu medo, seu desespero.
- Vespertatus antiguare Maleficum romanare controlatu - Ele repetiu.
Ele conseguiu sentir as sombras se aproximando da alma dela. Era tão fácil enlouquecer, sugar sua energia, controlar sua mente. Rodric vibrou com o poder.
- Vespertatus antiguare Maleficum romanare controlatu - Mais uma vez.
Ele conseguiu ouvir o grito dela. Ela estava se entregando. Uma energia estranha bloqueou seu controle.
O grito da guerreira parou e o silêncio preencheu a mente do conselheiro. Alguma coisa estava errada. Ele tentou chamá-la de novo, porém, nada aconteceu.
- Allyria, Allyria, Allyria - Rodric chamou - Veneris a quantirium.
Nada aconteceu.
Rodric apertou o cristal clamando por mais. Aquela pedra havia sido tirada da caverna mais profunda de Ecco, aquele cristal era irmão do núcleo do planeta. A força da natureza estava contida ali dentro, o poder era neutro, magia da forma mais bruta, porém, Rodric estava usando magia negra para convertê-lo. Aquele cristal sempre havia funcionado, não havia motivo para que não funcionasse dessa vez.
O conselheiro pode ouvir uma voz se aproximando. Era uma voz suave. Mas, ele não conseguia entender por que estava muito distante. A voz foi se aproximando aos poucos, até se tornar clara.
Falava em uma língua antiga e para muitos esquecida. Mas, Rodric conseguiu entender a mensagem. Ele se ajoelhou quebrando o contato com o cristal, mas, sua ligação com a magia ainda estava lá. Com medo, começou a rezar pedindo perdão.
A voz ecoou pela mente do sacerdote, até se tornar tão alta que o homem gritou em agonia.
- O que está acontecendo aqui? - Cael invadiu a sala.
O sumo sacerdote pode ouvir os gritos do lado de fora. O velho não estava ligado ao cristal, mas, ele pode sentir a energia antiga que o objeto emanava, só poderia ser um Deus para tal força e poder.
Cael foi a passos curtos até o cristal e tocou a parte ensanguentada com a ponta dos dedos, a energia se dissipou na hora.
- Meu senhor! - Rodric levantou a cabeça, revelando seu rosto molhado pelo choro - Meu senhor!
O conselheiro foi engatinhando até o sumo sacerdote e quando o alcançou agarrou sua túnica cinza como uma criança. Cael viu a loucura e o desespero no rosto do ajudante.
- O que foi que você fez?
- Meu senhor, eu encontrei a guerreira, tentei fazê-la cooperar, mas, não consegui - Rodric dizia apressado - Uma força maior impediu! Nunca senti tanto medo na vida, era muito poderosa.
O velho o encarava desconfiado.
- Era um dos deuses, depois parecia todos os deuses juntos... Nove vozes! Isso! Era todos os deuses! Eles, eles... Deixaram um recado - Rodric disse atordoado.
- Os Deuses falaram com você? Um ser insignificante? - Cael disse sarcástico - E o que eles lhe disseram?
- Eles diziam para me manter longe da guerreira - Rodric disse alterado - Que a escuridão iria cobrar o preço e que nós deveríamos pagar.
- Não temos que pagar nada meu caro, os deuses estão nos devendo muita coisa - Cael riu - Não se preocupe, encontraremos outras maneiras de influenciá-la.
- Mas senhor, os próprios Deuses disseram...
- Quem me garante que eram os Deuses? E por que os Deuses iriam falar com você? Não tente me enganar Rodric! Eu sou velho, mas, não burro. Eu paguei o preço para achar aquele menino! Eu perdi minha alma pelo bem de toda Ecco! - Cael gritou - Não acredito em você. A energia que viu deve ter sido de algum ritual de proteção, a academia de Drunkar é muito esperta - Cael puxou Rodric pelo capuz, o erguendo do chão - Nenhuma palavra do que viu aqui! Entendeu?
- Sim meu senhor! - Rodric se encolheu - Não direi nada.
- Se disser perderá a língua - Cael ameaçou - Escreva uma mensagem para Glenn, diga que iremos ajuda-lo e que estaremos esperando a chegada dele com a guerreira e nosso vidente.
Rodric se curvou pedindo desculpas e saiu da sala correndo para fazer a tarefa que seu mestre havia ordenado.
Cael ficou sozinho na sala do cristal, ele olhou para o sangue na superfície ensanguentada da pedra, seus olhos seguiram o sangue que estava no chão. No local em que Rodric estava ajoelhado havia alguma coisa escrita em sangue. O Sumo sacerdote se aproximou e arregalou os olhos.
No chão, escrito com sangue se lia: " A guerreira é nossa se afaste"
O sumo sacerdote passou o pé em cima, assim ninguém poderia ler. O velho se aproximou da bola e a encarou com superioridade. Se aquilo fosse verdade, significava que haviam chamado a atenção dos Deuses e ele cobraria tudo o que estava fazendo em nome deles.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As três chaves de Ecco - O guerreiro e o escolhido
FantasyUm mundo em que os guerreiros são abençoados pelos Deuses, aconteceu um crime. Lorde Hegarty acaba de morrer. Além dos assassinos não terem levado nada de valor, eles conseguiram matar quatro guerreiros iniciados. Um ato quase impossível. O que esse...