XXVII. Diana Abrach

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Faltava três dias para a visão de Ianna se cumprir. Diana viu a mudança de sua irmã em um pequeno espaço de tempo. Antes Ianna era paciente, educada, inteligente, brincalhona e adorava criar músicas com suas visões. Só que agora a menina estava inquieta e não parava de fazer preparativos para a partida delas. E o mais assustador de tudo, não dizia uma única palavra. Era normal a garota ficar em silêncio durante suas crises de visão, mas, não durante tanto tempo. Diana não acreditava no que estava vendo, elas realmente iriam embora dali. Ela havia entregado a situação nas mãos dos Deuses, não que não acreditasse em sua irmã, porém, aquilo a deixava assustada. A ideia de abandonar aquele casebre, um lugar aconchegante e seguro; e abandonar tudo aquilo, era uma loucura. Porém, ela confiava e não deixaria sua irmã mais nova em uma situação de perigo como essa. Nem que perdesse a vida, mas, faria de tudo para que Ianna se mantivesse a salvo.
- Temos que ir hoje - Ianna disse assim que acordaram.
- A viagem será tranquila? - Foi a única coisa que conseguiu perguntar.
Aquele regime de silêncio a deixava incomodada, Diana queria perguntar tantas coisas. Mas, ela sabia que Ianna não diria mais nada. Por que era um acontecimento importante e por tanto, a irmã não queria correr o risco de algo ser alterado.
- Sim, iremos seguir perto da costa - Ianna se levantou e foi até o armário se trocar - Chegaremos antes deles.
- Você pode me dizer alguma coisa? Esses dias foram...Tão silenciosos - Diana se sentou na cama e acompanhou sua irmã se trocar com os olhos.
Ianna parou de arrumar seu vestido e encarou o chão.
- Você é minha irmã, minha amiga, minha parceira, você nunca foi tão distante - Diana passou a mão pelo cabelo longo - Eu quero te ajudar, eu estou aqui...Você sabe disso não sabe? Não precisa me contar tudo... Eu sei que é uma coisa grande...
- Eu sei - Ianna interrompeu a fala da irmã - Eu sei.
Assim que a menina levantou o rosto, Diana visualizou lágrimas escorrendo pelas bochechas da irmã.
- Eu estou tentando fazer tudo do jeito certo. Por que se eu errar, muitos irão morrer - Ianna disse com a voz chorosa - Muita coisa depende de mim. E se não for desse jeito, o mundo que conhecemos será...
- Pare - Diana gritou - Pare com isso!
Diana levantou da cama e abraçou sua irmã a erguendo do chão.
- Não coloque essa carga em você. O mundo não depende só de você, não é? E o escolhido e a guerreira? Todos nós estamos com você, não iremos deixar que nada aconteça com o mundo.
Diana apertou a menina nos braços.
- Eu não irei deixar que nada aconteça com você.
- Você não sabe o que eu vi - A voz da menina foi abafada pelo abraço da irmã - Coisas horríveis podem acontecer...
- Nada de horrível vai acontecer - Diana a apertou mais - Não iremos deixar.
Ianna se afastou do abraço para conseguir olhar nos olhos da irmã.
- Eu falei com o escolhido verdadeiro - Os olhos dela brilharam em meio às lágrimas - E se ele não conseguir chegar até a guerreira a tempo, muita coisa pode acontecer.
- Se ele é o escolhido verdadeiro, terá que conseguir - Diana disse confiante.
- Sim, eu confio nele, mas, ele ainda não confia nele mesmo - Ianna apoiou a testa no ombro da irmã - Precisamos se unir logo.
- Então vamos fazer isso acontecer - Diana colocou a irmã no chão e começou os preparativos para partir.
A situação era muito mais grave do que imaginava. Como ela não pode ver o peso nos ombros da irmã? Ianna nunca ficou com medo do que via, no começo ficou confusa, mas, depois de um tempo se tornou cotidiano ver a morte de alguém que não conhecia. Só que algo mudou, ela estava visualizando muitos futuros possíveis e deveriam ser futuros muito ruins. Ela era uma criança de nove anos, deveria estar brincando e não vendo o fim do mundo. Diana começou a rezar pedindo que o escolhido e a guerreira fizessem sua parte também, por que não iria admitir ver sua irmã carregar aquele peso sozinha.
***
Elas andaram por dois longos dias, parando para comer e dormir a noite. A floresta estava muito fria, como sempre, e as peles e o couro que haviam levado estavam ajudando a aguentar o vento gélido da região. Diana estava acostumada com a caminhada, mas, Ianna nunca tinha feito longas caminhadas, por que nunca
tinha saído das redondezas do casebre. Em várias trilhas Diana acabou carregando a irmã nas costas.
Antes de iniciar a jornada, Diana escondeu os cabelos da irmã em uma touca grande para que não chamassem atenção. Mas, como Ianna havia dito, a viagem fora tranquila, as trilhas eram muito isoladas então não houve nenhum encontro indesejado.
Na manhã do terceiro dia, já podiam ver várias pedras em forma de bolas ancoradas na areia da praia. Ali estavam elas.Haviam chegado em seu destino.
- E agora? - Diana perguntou apreensiva.
O véu que usava para esconder seu rosto abafou sua voz.
- Hoje é o Festival - Ianna olhou para o céu da manhã - A noite teremos um grande show para ver.
- Amanhã, o primeiro dia do outono - Diana disse com um frio na barriga - Amanhã iremos conhecer seus guerreiros.

As três chaves de Ecco - O guerreiro e o escolhidoOnde histórias criam vida. Descubra agora