Esse era o seu maior segredo, mas, ela iria fazer questão de dividi-lo com Rowena. Ela sabia quem era os pais, os avôs e até que a guerreira tinha um irmão. Esse era o grande momento da sua vingança. Ela havia sofrido com a notícia indesejada, Rowena fez questão de contar seu pergaminho nos mínimos detalhes. Claro que ela havia duvidado de tudo e foi por esse motivo que invadiu a biblioteca também. Antes de sair, ela deu uma espiada no pergaminho da inimiga. As leis eram claras, assim que o ritual da memória fosse feito, era proibido ir atrás do seu passado. Uma nova vida começava, não havia motivo de querer descobrir quem eram seus familiares. Mas, Rowena havia quebrado essa regra e Allyria não deixaria barato.
Ela esperava contar esse segredo em outro momento, mas, ela viu o veneno nos olhos de Rowena quando ela perguntava sobre o passado de Allon. Allyria não poderia deixar o guerreiro ser exposto daquele jeito. Ela já estava acostumada com a maldade de Rowena, não se importava de receber um pouco mais.
Ela precisava proteger Allon, só não sabia explicar o por que.
Aquele segundo dia no navio estava sendo agitado, Allon deixou Allyria com Arthus e foi atrás dos guerreiros de Sunset para acalmar as coisas.
Ela pediu para o garoto leva-la até o quarto e assim Arthus fez. Eles não trocaram mais nenhuma palavra, o clima ainda estava tenso e precisavam se acalmar. Allyria dormiu o resto da tarde e só acordou quando bateram na porta do seu quarto.
Era Arthus, seu cabelo loiro já estava escuro devido à sujeira. O garoto precisava de um banho urgentemente.
- Allon já organizou a vigília, o primeiro turno é nosso - Ele disse tímido - Estamos perto da ilha de Satt, precisamos ficar atentos.
Satt era uma ilha ao oeste de Valmur, os habitantes de lá veneravam a Deusa Sahan, assim como o povo de Mirsha. Isso significava que estavam adiantados, o vento estava a favor deles.
Allyria concordou com o guerreiro e o seguiu até o convés.
- Como Rowena está? - Ela perguntou curiosa.
- Enraivecida - Arthus sorriu - Como você queria.
- Ela mereceu - Allyria deu de ombros.
- Razzos foi conversar com Allon depois que Rowena dormiu - Arthus olhava para o horizonte - Ele ficou com medo de que Allon a denunciasse.
- Ele não vai fazer isso.
- Como pode ter tanta certeza?
- Talvez ele denuncie depois que chegarmos da missão. Agora ele precisa de nós - Allyria deu um peteleco na testa de Arthus - Se ele denunciar ela, vai ter que me denunciar também.
- Foi muito arriscado o que você fez - Arthus passou a mão na testa - Quando foi isso?
- Uns três anos atrás - Allyria riu.
- Pela Deusa - Arthus ficou surpreso - Você nem era iniciada! E já tinha conseguido invadir a biblioteca dos Deuses.
- Quando se está com raiva, você consegue fazer coisas que nem imagina.***
O prazo para chegar até Mirsha era de quinze dias, mas, o capitão London disse que conseguiria fazer em dez se o vento ajudasse. Já faziam cinco dias que estavam navegando e o clima não havia melhorado. Os guerreiros trocavam de turno sem pronunciar uma palavra com o outro. Rowena não olhava nos olhos de ninguém, muito menos de Allyria. A guerreira de Sunset estava com medo do seu nome ser revelado, mas, Allyria só revelaria no momento certo.
Arthus finalmente tinha tomado banho depois de muita insistência, assim foi possível ver a cor verdadeira do seu cabelo. Todos os guerreiros já tinham o rosto queimado pelo sol e os cabelos acabaram ficando ressecados devido ao sal do mar. Allyria queria chegar a terra firme logo, não aguentava mais o chacoalhar do navio. Ela se afastou de Allon, durante esses cinco dias havia trocado poucas palavras, em sua grande maioria monossílabas. Existia alguma coisa entre eles, não era apenas atração física, era algo muito mais além. Mas, que ainda era inexplicável.
Era evidente que Razzos possuía algum sentimento por Rowena, assim ele acabou vivendo o sofrimento dela. O que tornava o diálogo entre eles impossível, Allyria achava melhor assim.
Ela só queria paz.
Era o turno dela, a noite já tinha chegado revelando o céu estrelado e a lua cheia. A luz do céu refletia no mar calmo, fazendo com que a paisagem se tornasse mágica. Aquele cenário seria perfeito para um casal romântico, ou uma garota que sonha com os contos do povo da floresta. Era lindo de se ver. Ela estava na popa do navio quando viu um brilho refletido do lado direito, depois veio o som. Aquele som era inconfundível, era um canhão. Allyria se virou e no horizonte, era possível distinguir uma embarcação. Era outro navio e ele estava atacando.
O sino do navio azul começou a badalar avisando toda a tripulação do ataque.
Ela se manteve alerta e correu até o convés, de longe conseguiu avistar Allon e Arthus olhando para o navio inimigo.
Bum!
Outro som de canhão.
- Se abaixem! - Allon gritou.
Allyria viu o rosto dos dois guerreiros antes de ser jogada para trás.
Fogo, lascas de madeiras e fumaça.
Ela conseguiu se levantar desorientada e foi onde Allon e Arthus estava.
- Você está bem? - Arthus perguntou preocupado, analisando o estado da guerreira.
- Melhor impossível - Allyria tentou sorrir.
- Fiquem atentos, pode ser o mesmo que atacou o Lorde Hegarty - Allon disse para ninguém em especial - Onde estão Rowena e Razzos? Preciso deles aqui. Como não acordaram com o barulho do maldito canhão? - Allon disse exaltado.
Nesse momento Razzos apareceu ao lado deles.
- Onde está a garota?
- Está na popa, vai nos dar cobertura - Razzos explicou - Vou subir no mastro, não sirvo para vocês aqui em baixo.
O guerreiro mais velho só concordou com a cabeça.
De longe eles puderam ver uma pequena embarcação vindo na direção deles.
- Arthus proteja Rowena, eu fico com a garota - Allon apontou com o queixo para Allyria.
A guerreira não estava prestando atenção nas ordens de Allon, ela só tinha olhos para a embarcação que se aproximava. Estava acontecendo de verdade, aquilo era real. Nunca tinha se imaginado no meio de uma missão tão importante assim, hoje poderia ser o dia da sua morte. Porém isso não a apavorava, a deixava cheia de adrenalina. Ela conseguia sentir a energia contida do Deus Drunkar pulsar em suas veias.
Allyria se levantou e correu para onde o barco iria chegar. Tudo aconteceu rápido de mais, em um momento ela estava de pé no outro escutou um grito. Era o grito dela.
Luz e fogo. Outro tiro havia acertado o navio fazendo com que Allyria voasse pelo ar e batesse a cabeça em alguma coisa.
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As três chaves de Ecco - O guerreiro e o escolhido
FantasíaUm mundo em que os guerreiros são abençoados pelos Deuses, aconteceu um crime. Lorde Hegarty acaba de morrer. Além dos assassinos não terem levado nada de valor, eles conseguiram matar quatro guerreiros iniciados. Um ato quase impossível. O que esse...