Fazia cinco dias desde que ela havia pronunciado aquele nome. Um nome desconhecido. Diana nunca tinha presenciado uma visão tão precisa como aquela. Era raro sua irmã dizer nomes de pessoas que ela não conhecia. Ela só dizia coisas genéricas, descrevendo pessoas e lugares que nunca foi.
E desde aquele dia, Ianna não levantava da cama. Sua irmã estava tendo uma crise de vidência e não havia o que ser feito. Era preciso ter paciência e esperar.
Nesse período, Ianna não quis conversar, ficou encolhida na cama e com o olhar perdido em mais alguma visão.
- Uma hora você vai ter que me contar - Diana estava preparando o almoço quando sentiu o olhar da sua irmã queimar suas costas - Você sabe que guardar tudo para si é uma luta sem ganhador.
- Acho que consegui ir além do meu limite - Ianna disse sem demonstrar nenhuma emoção.
Diana parou de cortar as batatas e se virou para a irmã.
- Você acha? - Diana perguntou descrente.
- Foi diferente dessa vez - Ianna apertou suas mãos - parecia um futuro muito distante.
- Distante quanto? - Diana engoliu a saliva preocupada.
- Havia um homem, vestido de preto com uma máscara cobrindo o rosto. Ele estava com a guerreira de olhos vermelhos do lado. Ela tinha um olhar triste - Ianna respirou fundo - E eu estava lá.
Diana deixou a faca que segurava cair no chão. Ela correu até a cama da sua irmã e se ajoelhou para ficar cara a cara com ela.
- Eles irão nos achar? Quando? - Diana disse apavorada - Eu posso fazer alguma coisa?
- Sim, eles irão nos achar - Ianna confirmou.
- Podemos fugir? - Diana perguntou.
- Não adianta - Ianna deu de ombros - Eles irão nos achar de qualquer jeito.
Diana pegou as mãos da sua irmã e apertou.
- Se...Se tiver alguma coisa que podemos fazer... Me conte - Diana sentiu sua garganta falhar.
- Quanto as estrelas tocarem o chão e a rosa de outono se abrir, um grupo de guerreiros irão nos achar nas águas calmas que batem nos círculos dos Deuses - Ianna apertou a mão da irmã - Eles serão quatro, o matador, o perspicaz, o observador e a astuta. As trevas irão gritar e minha existência será revelada. O mundo que conhecemos não será mais o mesmo.
Os olhos da menina estavam fixos nos olhos dela. Ela podia sentir uma vibração passar das mãos da menina para a sua. Uma lágrima escapou dos seus olhos.
Diana já sabia como interpretar as visões da irmã, "Quanto as estrelas tocarem o chão", se referia ao festival da Deusa Valian comemorado em todos os países, no dia do festival era possível observar estrelas cadentes rasgarem o céu de Ecco, o festival era daqui dez dias. A rosa de outono se referia ao dia seguinte do festival, o primeiro dia do outono.
"...águas calmas que batem nos círculos dos Deuses...", a oeste de Manish existe uma praia onde as rochas tem formato de bolas, os moradores do vilarejo deram o nome de: Praia dos círculos dos Deuses. Só poderia ser em Ladrian.
- E esses guerreiros irão nos ajudar? - Diana perguntou com a voz sufocada pelas lágrimas.
- Quando uma luz é acesa pelos Deuses, não há mal que a apague - Ianna sorriu para Diana - Não tenha medo. As mudanças precisam acontecer, se não for por nós, irá vir por outros.
Pela resposta ela entendeu que eram pessoas que estavam vindo para ajudá-las. Diana limpou o nariz que começava escorrer.
- Mas, precisamos ter cuidado - Ianna continuou - O homem de máscara traz o cheiro da morte. Ele acredita que é o portador da luz para esse novo mundo, mas, quem traz a luz consigo não quer poder, não quer luxúria, não quer seguidores, dinheiro, morte. O escolhido verdadeiro não quer nada. Por que ele já tem tudo. Ele traz a vida onde existe a morte, ele traz a verdade onde existe a mentira, ele traz a luz onde há trevas.
- O escolhido? - Diana perguntou confusa.
Ela lembrou dos textos sagrados.
- Está se referindo as três chaves de Ecco? - Ela perguntou já que sua irmã não respondeu.
Ianna confirmou com um sorriso sereno.
- Então as chaves existem?
- Sim, elas já estão se preparando - Ianna sorriu - Eu já estou me preparando.
Diana estava esperando por aquele momento. Ela sempre soube que sua irmã havia nascido para algo grande, algo que iria mudar o mundo. Ela faria de tudo para ajudá-la.
- Logo estaremos todos juntos - Ianna olhou para além da janela, para o interior da floresta , como se estivesse esperando alguém.
- Que os Deuses estejam nos auxiliando - Diana beijou a mão da irmã.
- Eles sempre estão - Ianna respondeu.
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As três chaves de Ecco - O guerreiro e o escolhido
FantasyUm mundo em que os guerreiros são abençoados pelos Deuses, aconteceu um crime. Lorde Hegarty acaba de morrer. Além dos assassinos não terem levado nada de valor, eles conseguiram matar quatro guerreiros iniciados. Um ato quase impossível. O que esse...