XXX. Allon de Drunkar

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Eles haviam encontrado uma vidente. Depois de cem anos sem videntes, lá estava ela. Uma menina de nove anos. Como aquilo era possível?
- O que quer dizer com escuridão? - Arthus perguntou engolindo em seco.
- Ela foi arrastada para o interior de si mesma - Ianna explicou - Eles a tiraram do controle.
- Eu não entendi o que você quis dizer - Arthus disse confuso.
- Ela não vai te dar uma resposta direta - Diana explicou - Lidar com o futuro não é simples, se ela disser como as coisas vão acontecer você tentará muda-las, gerando novas visões, mas, provavelmente com o mesmo final.
- Então se ela me ver morrendo, eu vou morrer de qualquer jeito? Mesmo fazendo de tudo para mudar esse futuro? - Arthus perguntou.
- Sim - Diana concordou - Os Deuses já escreveram o destino de todos.
Allon se aproximou da vidente e se ajoelhou ao seu lado. Antes que ele pudesse tocar seu cabelo, Diana o impediu dando um tapa na sua mão.
O guerreiro fez uma careta, dava para perceber que ela era super protetora com a irmã mais nova.
- Então você sabia que iriamos ancorar nessa praia? - Allon perguntou para a vidente.
A menina balançou a cabeça em confirmação.
- Você sabe o que planejamos?
- Sim - Ianna observou os outros guerreiros antes de encará-lo - Mas, também sei que o plano de vocês mudou.
Allon passou a língua por seus dentes. Ele estava em conflito, eles realmente haviam achado a vidente e agora que conseguiram, não sabia o que fazer, como agir, o que perguntar. Se antes ele achava que estava perdido, agora as coisas haviam piorado de vez. Eles iriam levar a vidente junto? Todos do navio pelo menos saberiam da existência dela, quer dizer, se eles fossem voltar para o navio.
- Sei que se sente perdido - Ianna disse silenciando seus pensamentos - Mas, - A garotinha pegou suas mãos - Vocês precisam me ajudar agora. Eu vou me mostrar para o mundo e preciso de proteção. Vocês são os únicos que podem me proteger nesse momento.
- Não pode estar falando sério... Você viu o que aconteceu no ataque? Aquele cretino levou Allyria e não conseguimos fazer nada. Quer dizer, eu não consegui fazer nada - Allon riu de nervoso - Não diga que nós somos sua última esperança, por favor.
- Nunca diria isso - Ianna sorriu sem mostrar os dentes - Vocês nunca foram a última, sempre a primeira.
O pequeno sorriso da menina se tornou uma careta de dor.
Allon apertou suas mãos.
- Quando um de nós não está bem, os outros sentem também - Ianna explicou - Somos as três chaves de Ecco, estamos conectados.
- Espera! - Rowena gritou espantada - Isso é verdade mesmo?
- A Allyria é uma das chaves? - Arthus perguntou preocupado.
- Mas, como o caçador sabia que era a Allyria? - Razzos perguntou pensativo.
- Ele não sabia - Allon respondeu - Ele disse que poderia escolher entre mim e ela. Ele fez uma pergunta e quem respondesse ele levaria. Ela acertou a resposta.
- Ele teve ajuda - Ianna disse tirando Allon dos seus devaneios - Existe uma pessoa que me observa de longe. Magia negra está impregnada nela. Mas, ela conseguiu tocar alguns dedos das linhas do futuro e teve um vislumbre da guerreira. Ela viu Allyria e viu você também - Ianna inclinou a cabeça para Allon.
- Então um vidente de magia negra existe mesmo - Rowena comentou.
- Sim - Ianna disse cabisbaixa - Quando uma luz é acesa pelos Deuses, não há mal que a apague. As mudanças precisam acontecer, se não for por nós, irá vir por outros.
- O que isso quer dizer? - Arthus perguntou.
- Você me disse isso a onze dias atrás - Diana se lembrava, por que havia sido bem no dia que Ianna teve a visão da praia e dos guerreiros.
- Eu preciso de ajuda - Ianna disse se levantando - Precisamos ir para a cidade dos ventos fortes, ainda hoje.
- Espera aí. É difícil de te acompanhar. Por que precisa ir para essa cidade? - Allon perguntou desconfiado.
- Você não está bem, não poderemos ir com você assim - Diana interviu.
- Vocês trouxeram poções de cura? - A menina perguntou.
Os guerreiros olharam um para o outro.
- Arthus você ainda está com seu estoque? - Allon virou seu rosto para olhá-lo.
- Você não pode tomar isso! Não sabemos o que pode acontecer - Diana disse entrando na frente da irmã.
- Teoricamente, as poções só fazem mal para pessoas comuns, sua irmã já nasceu iniciada - Arthus explicou - E essa poção só irá fortalecê-la fisicamente.
- Você acha mesmo necessário? - Diana perguntou para sua irmã.
- Não podemos parar agora - Ianna disse firme - Preciso chegar até lá.
- Onde fica essa tal cidade? - Allon perguntou.
- Fica a cinco horas de caminhada daqui - Diana respondeu passando suas mãos pelo casaco, demonstrando o seu desconforto com a situação - Por que temos que ir até Lorren?
- A guerreira de olhos negros precisa fugir, a solução é um toque que está por vir. O escolhido verdadeiro precisa correr, porque sem o seu toque ela irá perecer. A vidente será a isca, para afugentar a morte - Ianna disse abaixando a cabeça.
De início os guerreiros não entenderam o que aquelas palavras queriam dizer, mas, Diana sua irmã mais velha, conseguia decifrar suas visões melhor que qualquer um, já que passou sua vida toda vendo o poder das palavras da sua irmã.
- Você precisa ser a isca para salvá-los - Diana disse baixo - E o toque do escolhido salvará a guerreira.
Ianna confirmou.
- Arthus dê logo a poção para a criança - Allon disse - Precisamos ir.
- Como sabemos o que você está falando é verdade? - Rowena olhou venenosa para Ianna - Você tem como provar?
A garotinha examinou o rosto da guerreira e depois de um suspiro disse:
- Eu sei porque quis vir para essa missão, ele...
- Não continue! - Rowena interrompeu chocada - Eu acredito.
- Que merda foi essa? - Razzos se sobressaltou.
Isso dizia respeito a alguma briga entre os dois e Allon não estava a fim de mais drama para sua vida.
- Não estou interessado em entender no momento - Allon se levantou apressado - Temos que ir!
- Aqui está - Arthus entregou um pequeno frasco contendo um líquido verde para Ianna - Vai te ajudar.
- Obrigada - Ianna tentou sorrir, mas as dores na cabeça a impediram.
- Vamos voltar para os botes e pegar suprimentos - Allon explicou para todos - Vou avisar ao capitão que não iremos retornar, pegaremos outro navio se necessário - Ele olhou para Ianna que acenou com a cabeça, ele esperava que estivesse indo pelo caminho certo.
- Pelo jeito, iremos ficar um tempo em Manish - Arthus comentou enquanto seguiam o caminho de volta para os botes.



As três chaves de Ecco - O guerreiro e o escolhidoOnde histórias criam vida. Descubra agora