Durante o jantar, mantenho-me esquiva dos assuntos em discussão. Principalmente, quando envolve a Santíssima Trindade, que no momento, eles se dizem satisfeitos com o rompimento do namoro do meu primo Olavinho com uma moça que eles não julgavam adequada.
No entanto, o julgamento da "Suprema Corte Bertolazzo" se resume em avaliar os padrões de vida dos futuros pretendentes a ingressar na nossa família de acordo com os nossos padrões de vida profissional e social; conduta moral e religiosidade; beleza e status financeiro; nível cultural e intelectual. E pelo visto, a última vítima não passou no teste.
"Eu disse que o encanto acabaria em menos de um mês", o general diz.
E se não tivesse acabado, ele mesmo daria um jeito de acabar. Porque quando o meu pai diz: "Dou um mês para isso terminar", ele na verdade determina que você tem um mês para pôr um fim naquele assunto ou ele mesmo tomará as devidas providências. E eu melhor do que ninguém sei ler essas entrelinhas.
"Aproveite os exemplos de mulheres que você tem na sua família para quando for escolher uma moça para namorar", o general diz a Olavinho. "A elegância da sua tia Lúcia; a beleza da sua tia Inês; a inteligência da sua tia Amélia e a conduta moral e religiosa da sua mãe", ele diz apontando para cada uma das mulheres sentadas à mesa.
"Ah! Que pena priminha, mas pelo jeito você ficou fora da lista", Olavinho diz imitando o jeito debochado do meu pai.
Trinco os dentes e seguro firme a minha língua dentro da boca para não responder à altura que ele merece.
"E com razão, Olavinho", tio Mitchel interfere para a surpresa de todos, inclusive a minha, já que ele dificilmente se pronuncia durante as discussões em família. "Você não é homem o suficiente para namorar uma garota como ela."
Os homens sentados à mesa, principalmente meu irmão, riem tanto que chegam a gargalhar.
"A propósito", tio Mitchel continua. "Por mais que você tente se parecer com o seu tio Álvaro, dificilmente, conseguirá uma mulher como a sua tia Lúcia. Para conseguir uma como a sua tia Inês, você vai precisar de muito, muito dinheiro. Alguém como a sua tia Amélia, nem pensar, porque para isso você precisaria de inteligência e isso, só nascendo de novo. Então, se contente com uma mulher como a sua mãe."
Todos parecem estarrecidos com o meu tio, que ataca cada um dos Bertolazzos a sua maneira. Meu irmão tenta disfarçar sua satisfação enquanto meu primo Olavinho assume um tom de vermelho intenso.
"É por isso que o senhor é o meu tio preferido", digo audível apenas para ele.
"E eu que pensava que era seu favorito por causa dos meus milhões de reais", ele diz ironicamente.
"Detalhes, tio Mitchel", digo com um despreocupado aceno de mão. "Detalhes."
Aproveitando o assunto em discussão, tio Otto revela que Rodolfo também está namorando – por mais que o meu primo insista, veementemente, em dizer que eles são apenas bons amigos – uma jovem chamada Sofia que toca violoncelo na Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo.
"Vocês já conhecem a candidata?" O general indaga.
"O Rodolfo ainda não nos apresentou à moça e eu não consigo entender o porquê", tia Amélia responde.
Mas eu sei dizer o porquê do meu primo mantê-la em sigilo. No lugar dele eu faria o mesmo.
"Nós vamos querer conhecê-la", tia Eleonora diz.
"Você poderia tê-la convidado para passar o Natal conosco", minha mãe diz, participando da conversa.
"Ela já tinha combinado de passar a data com a família dela", Rodolfo justifica e logo na sequência ajusta a haste dos óculos pela enésima vez.
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Um Grito de Liberdade (CONCLUÍDA)
RomanceLisa cresceu acreditando que deveria seguir o modelo de vida imposta por sua família rígida, autoritária e controladora. Até que um dia, algo acontece e Lisa começa a se questionar se as escolhas que a família faz são de fato o melhor para ela. Nem...