CAPÍTULO 5

83 20 16
                                    

Depois de um tempo sentada em silêncio – sem dar um único gole no suco de maracujá, apenas girando o líquido dentro do copo - Rosa interrompe meu momento de devaneio.

"Quer que eu prepare alguma comida que você gosta?" Ela pergunta.

"Não, estou sem fome", respondo soltando um longo suspiro.

"Nem mesmo aquele bolo de chocolate com bastante cobertura que você tanto adora?"

Aquele era um golpe baixo. Rosa sabe, desde a primeiro dia em que me conheceu, que sou louca por chocolate. E o bolo que ela faz, o preferido de sua neta Alice como ela mesma me contou, alegra o dia de qualquer um.

"Acho que posso abrir uma exceção."

Rapidamente, Rosa separa os ingredientes para o bolo - indo e vindo algumas vezes da despensa - colocando-os na minha frente sobre a bancada. Observo-a habilidosamente e sem consultar qualquer tipo de livro de receitas, despejar as quantidades de cada ingrediente dentro da tigela da batedeira. Em poucos minutos o bolo está assando no forno e eu, raspando a massa crua que restou na tigela.

"Alice também adora fazer isso", ela comenta.

Enquanto o bolo assa, o cheiro da cobertura borbulhante de chocolate inunda minhas narinas, fazendo meu estômago se manifestar.

Quando o bolo fica pronto, não aguento esperar até ele esfriar para atacá-lo à garfadas diretamente no prato de vidro onde Rosa o desenformou.

"Estou gostando de ver", Rosa diz depois que eu já tinha devorado mais da metade do bolo.

"Tenho que concordar com a sua neta. Esse é o melhor bolo de chocolate que eu já comi em toda a minha vida", digo arrancando dela um modesto sorriso com meu elogio.

Minha mãe entra na cozinha bastante animada enquanto conversa com alguém no celular. Provavelmente, com sua nova melhor amiga.

Observo-a andando pela cozinha servindo-se de café com uma das mãos, e com a outra, segurando o telefone. Quando finalmente encerra a ligação, ela senta-se ao meu lado em uma das banquetas brancas ao redor da bancada de granito preto.

"Preparativos a todo vapor, mãe?"

Ela passou as últimas semanas ajudando na organização de algum evento beneficente, ocupando a maior parte do seu tempo, dedicando-se única e exclusivamente aos preparativos.

"Com certeza minha filha", ela responde animada. "Esse evento é a muito importante, então tem que dar tudo certo."

"Claro que vai dar tudo certo. Estou acompanhando sua movimentação todos esses dias e até hoje, qual evento que a senhora organizou que não foi um sucesso?"

Meu elogio faz minha mãe sorrir orgulhosa ao recordar todas as festas e eventos beneficentes que ela já organizara. Só eu sei o quanto ela gosta de participar, e principalmente de organizar, esse tipo de evento.

"Esse será o evento do ano!"

Pelo menos alguém naquela casa está animada.

Infelizmente, minha alegria e otimismo não duraram muito. Apesar do excelente resultado no vestibular, não consegui a bolsa de estudos que eu tanto sonhava (e necessitava). Porém, consegui negociar um desconto de 25% no valor das mensalidades e isenção da taxa de matrícula. Pelo menos isso, o meu bom desempenho foi o suficiente para garantir depois de fazer valer toda aquela propaganda no site da UNIMP.

Repito para mim mesma que esse é o melhor que eu poderia fazer, considerando que o dinheiro reservado para as despesas será o suficiente para pagar os custos com meu estudo durante um semestre, e ainda, sobrar para algumas despesas extras nos primeiros dois meses.

Um Grito de Liberdade (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora