CAPÍTULO 16

64 17 17
                                    

Toni se junta a mim, sentando-se sobre a grama e recostando-se no tronco do ipê antes de me acomodar de lado no espaço entre as suas pernas. Me aconchego ainda mais no calor do seu peito, apoiando minha cabeça onde posso ouvir o som do seu coração.

Meu porto seguro!

"Sabe de qual cor são as flores deste ipê?" Pergunto levantando o olhar para os galhos verdes da árvore.

"Amarelo", ele responde. "Esta praça fica linda em meados de junho, quando os ipês costumam florescer. Sempre passo por aqui só para admirar e tirar algumas fotos", Toni comenta. "E, também para compor meus sonetos de amor", acrescenta e seu comentário me faz rir.

Fico imaginando como a praça deve ficar realmente linda nessa época do ano. Olhando em volta, conto pelo menos uma dúzia de ipês – altos e imponentes – destacando-se das demais árvores urbanas que se encontram na maioria das praças.

"Lisa", Toni diz, trazendo-me de volta do meu momento de devaneio. "Desde que eu saí da sua casa ontem, tenho pensando em você e refletido sobre tudo o que me contou", com cautela, ele retoma a conversa, ao mesmo tempo em que desliza seus dedos entre os meus e enlaça a sua mão na minha. "Sobre suas regras e restrições: posso me adaptar, facilmente, a isso. Assim, devolvendo-a a salvo e no horário certo, seu pai não terá motivos para implicar com você."

"Agora eu não sou mais problema dele", digo usando as mesmas palavras que Cadú usou para me contar sobre o acordo entre os meus pais. "Agora sou problema da minha mãe."

"Pare de dizer que você é problema de um ou de outro", Toni me repreende. "Lisa, será que você pode, por favor, olhar para mim?"

Levanto a cabeça para encará-lo e os raios de sol que refletem em seu rosto, iluminam seus olhos, deixando-os mais claros - assim como seus cabelos - que assumem uma tonalidade dourada.

"Todo mundo tem problemas, inclusive eu."

"Mas, ninguém com problemas como os meus."

"Quanto a isso eu preciso concordar. Os seus são muito mais divertidos."

"Divertidos?" Rebato incrédula. "Se você está querendo se divertir, junte-se aos seus amigos e vá ao parque de diversões ou ao circo."

"Eu prefiro me juntar a você."

Novamente, ele me desarma. E com que facilidade ele faz isso.

"Você é muito teimoso."

"Persistente", ele me corrige. "Quanto ao acordo que você tem com o seu pai e que expirará em alguns meses..."

"Não sei se eu chamaria isso de acordo", digo interrompendo-o. "Considerando que, normalmente, acordos servem para beneficiar ambas as partes. Algo que eu acho impossível de acontecer nesse caso."

"Como podemos chamar isso que você e o seu pai fizeram? Pacto?"

"Acho que seria mais como um prazo para a data do meu julgamento final", respondo depois de analisar por alguns minutos. "Admito que meu pai foi bem generoso me concedendo seis meses quando na maioria das vezes ele dá apenas um mês. Acredito que ele precisava de tempo para planejar estratégias para infernizar a minha vida."

"O que vem depois?" Toni pergunta. "O que acontece quando esse prazo acabar?"

"Você quer saber se existe vida após a morte?"

Ele ri.

"Sinceramente? Não sei. Ninguém nunca chegou tão longe. A única coisa que eu sei, é que não vou esperar chegar a hora do nosso acerto de contas, estou me planejando para sair de casa antes disso."

Um Grito de Liberdade (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora