CAPÍTULO 21

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O tempo de voo de Curitiba até São Paulo não é o suficiente para aplacar aquela sensação de vazio que sinto dentro de mim.

"Talvez, seja apenas fome", digo para mim mesma. Afinal, saí de casa sem tomar café da manhã.

Como combinamos, encontro Ana esperando por mim na saída do portão de desembarque.

Respiro fundo e me esforço para abrir um sorriso amistoso enquanto caminho na direção da minha melhor amiga.

Todavia, sendo minha melhor amiga e me conhecendo melhor do que ninguém, Ana franze o cenho ao mesmo tempo em que me lança um olhar indagador.

"O que o seu pai fez dessa vez?" Ela pergunta quando eu a alcanço.

"Dessa vez não foi ele."

Ana me abraça e eu respiro fundo para evitar chorar no ombro dela no meio do aeroporto. Sinto meus olhos marejarem e minhas narinas arderem e ainda assim, controlo as lágrimas que ameaçam se formar.

"O que aconteceu, Lisa?"

"Nada, Ana. Nada."

Minha amiga lança-me um olhar cético de quem não está nem um pouco convencida com o meu nada.

"Eu sei quando o seu nada é nada", ele me dissera há pouco.

"É uma loooooonga história", respondo soltando um longo suspiro.

"E quando suas histórias não são longas?" Ela pergunta. "Vamos. Nós temos tempo de sobra para conversar no caminho. Você não faz ideia de como está o trânsito na cidade por causa do Carnaval."

Sigo com Ana até o estacionamento do aeroporto, onde o HB20 prata dela está estacionado. Ela nos conduz em seu carro, deixando o aeroporto de Congonhas para trás, rumando para o bairro Jardins. 

"Tem uma garota na faculdade...", começo meu desabafo.

"Sempre tem essas garotas", ela comenta.

Conto desde o primeiro contato que tive com Denise, sua postura arrogante comigo, seu comportamento "atirado" e a maneira como ela se insinuava para Toni, finalizando contando a ela sobre a conversa que ouvi entre Denise e Marcela nos corredores da biblioteca.

"Mas que piranha!" Ana exclama tão alto que chama a atenção de uma motorista, parada ao lado, em um semáforo.

"E o pior de tudo é que o Toni não queria mais ir para Salvador e eu insisti para que ele não desistisse da viagem."

"Então liga para ele agora e fala para ele reconsiderar."

"Não posso."

"Por quê?"

"Primeiramente, porque eu não trouxe o meu celular e eu ainda nem decorei o número dele."

Ana me encara espantada.

"Eu não saberia sobreviver sem o meu celular", ela murmura. "Mas, quanto a isso podemos dar um jeito."

Balanço a cabeça em negativa.

"Não é tão simples assim", sussurro.

"Pare de criar obstáculos para telefonar para ele", Ana diz. "O que mais te impede de fazer essa ligação?"

"Essa é uma outra looooonga história."

Trago outras lembranças, dessa vez sobre a conversa que tive com Renata Schmidt e sua opinião de que estou, de alguma forma, influenciando na mudança comportamental de Toni. Ana parece não concordar com essa opinião e eu rebato contando o que os amigos dele me contaram de como Toni mudou drasticamente do dia para a noite.

Um Grito de Liberdade (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora