CAPÍTULO 26

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Toni me acompanha até o portão de casa, plantando um beijo rápido, porém intenso, nos meus lábios em despedida.

"Vejo você amanhã de manhã na faculdade", ele anuncia e eu aquiesço.

Passo pelas grades do portão, seguindo pelo caminho de pedras em direção à entrada da casa. De última hora, decido alterar meu trajeto, optando por uma entrada alternativa: a cozinha.

Corto caminho pelo corredor externo, passando pela área de serviço e adentrando na residência escutando o som da voz do general, que reverbera por toda a casa. E pela altura dos gritos, só posso entender que aquele não é um bom sinal.

Todo o meu corpo fica tenso e meus sentidos entram em alerta máximo. Me apresso em chegar ao meu quarto antes que eu seja flagrada chegando em casa, mesmo estando dentro do limite de horário. Porque com a sensação que eu tenho (a de que está estampado na minha testa o que Toni e eu acabamos e fazer) trará um enorme problema para mim e até mesmo para a minha mãe.

Pelo que consigo compreender da discussão em questão, o general não gostou nem um pouco de descobrir que meu irmão recebeu amigos em casa para uma confraternização em comemoração ao seu aniversário.

Subo às pressas pela escada, eliminando de dois em dois degraus, a distância que me separa do meu refúgio.

Mesmo no interior do meu quarto, consigo ouvir a discussão se estender por minutos a fio. A semelhança com a briga em que tivemos, traz à tona as lembranças daquela fatídica manhã quando eu saí como uma louca, correndo pelas ruas e avenidas da cidade, chegando até mesmo, ser atropelada por uma moto. Apesar dos ferimentos externos causados pelo acidente não terem sido graves, as marcas que aquela discussão resultou ainda estão frescas na minha memória e nos tremores que abalam meu corpo.

"Eu deveria tê-la jogando no lixo quando você nasceu!" - ouço a voz do general gritar na minha cabeça.

Balanço a cabeça para afastar aquele pensamento.

Respiro fundo e tento acalmar os tremores que atingem minhas mãos, braços e pernas.

A porta do meu quarto se abre abruptamente e eu solto um grito alarmada, puxando a poltrona de frente da mesa de estudos e colocando-a entre mim e o intruso.

"Onde você estava?" Cadú indaga batendo a porta do meu quarto com uma fúria mal contida nos olhos.

O fato de ser o meu irmão parado em pé no meu quarto e não a nossa figura paterna, não melhora em nada meus nervos à flor da pele.

"Estava com o Toni", respondo em um murmúrio.

"E por que o seu cabelo está molhado?" Meu irmão pergunta, visivelmente, irritado.

"Porque está chovendo, não é óbvio?" Respondo na tentativa de esconder a verdade, apesar da minha roupa não estar molhada.

Cadú avança na minha direção e eu dou um passo para trás, levando a poltrona comigo. Ele me encara confuso com a minha reação, no entanto, para no meio do meu quarto.

Meu irmão respira fundo, massageando o espaço que há sobre o nariz e entre os olhos.

"Se alguém perguntar, você estava com as suas amigas", ele me adverte.

"Obrigada."

"Em troca, você não vai comentar nada sobre Salvador com a Ana."

"Por que eu faria isso?"

Mesmo estando em desvantagem, não aceito a chantagem quando envolve minha melhor amiga.

"Digamos, que eu estou interessado em tentar algo mais com ela", Cadú esclarece. "E se ela souber as coisas que eu fiz em Salvador, pode ser que não aceite sair comigo de novo."

Um Grito de Liberdade (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora