CAPÍTULO 14

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"Eu vou esperar ela acordar", ouço Toni dizer.

Abro os olhos e vejo uma mulher jovem parada em pé na minha frente. Ela é bem bonita, com a pele morena, cabelo encaracolado marrom cor de avelã e olhos castanhos amendoados.

"Acho que ela já acordou", ela diz, abrindo um simpático sorriso para mim.

Levanto o rosto para encarar Toni, que me encara de perto com um sorriso enviesado.

"Não quis te acordar", ele diz.

Sento-me na cama, esfregando os olhos.

"Quanto tempo eu dormi?" Indago, ainda não acreditando que fui capaz de dormir no colo dele.

"Mais ou menos uma hora", ele responde, depois de checar as horas no relógio sobre o criado mudo.

Passo as mãos pelos cabelos – e mesmo sem um espelho - tenho certeza que estão bagunçados.

"Acho que você já pode trazer o café da manhã, Teresa", Toni diz e a jovem balança a cabeça em concordância.

"Não estou com fome", anuncio e justamente nesse instante, minha barriga ronca. "Só um pouquinho", murmuro dando de ombros.

Assim que a jovem sai, viro-me para ele.

"Não devia ter me deixado dormir."

"Por que não?"

"Porque... porque... porque não", respondo, levantando-me da cama.

Vou até o banheiro – que já sei o caminho – e assim que meus olhos se fixam no reflexo do espelho, solto um gemido de frustração.

Minha aparência está um desastre e muito pior do que eu imaginava. Meus cabelos bagunçados, são um mero detalhe perto das marcas avermelhadas debaixo dos meus olhos, rosto cansado, aparência abatida. E as marcas nos meus braços – deixadas à mostra pela ausência de mangas na blusa do meu pijama que está todo sujo – me fazem estremecer.

Aplico um pouco de creme dental no indicador, esfregando a ponta do dedo nos meus dentes. Repito o processo pelos menos duas vezes antes de enxaguar, abundantemente, a boca. Penteio meus cabelos e na falta de um elástico, acabo deixando-os soltos, porém, um pouco menos bagunçados.

Como eu queria tomar um banho...

Olho para o box do chuveiro e aquela possibilidade de me sentir limpa - limpa de verdade - me parece tentadora.

Balanço a cabeça para afastar aquela ideia.

Pendurada em um gancho na parede, a camiseta preta do Bon Jovi chama a minha atenção. Pego a peça de roupa, deslizando-a pelo meu corpo e as mangas cobrem, parcialmente, os hematomas deixados nos meus braços. Inalo o perfume – aquela intrínseca essência de Toni - ainda mais intensa do que quanto vesti a peça ontem à noite – e o aroma inebria meus sentidos.

Quando volto para o quarto, Toni está sentado na cama de frente para uma bandeja com um farto café da manhã.

"Você está linda", ele diz abrindo um sorriso para mim.

Reviro os olhos para ele.

E apesar da minha aparência – um pouco melhor do que instantes atrás – Toni me olha da mesma maneira - como se eu estivesse linda de verdade - como fez nas vezes em que saímos para jantar. 

"Espero que você não se importe, mas eu emprestei o Bon Jovi outra vez", digo apontando para a frente da camiseta.

"Nem um pouco. Até porque, a camiseta fica muito melhor em você."

Um Grito de Liberdade (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora