CAPÍTULO 23

43 14 14
                                    

Ana e eu saímos cedo de casa e passamos o dia perambulando pela cidade em busca de roupas de balé e embalagens para os bolos. Como minha amiga está a parte de todas as minhas ideias, suas sugestões foram certeiras e muito bem-vindas nos dois assuntos.

No final da tarde, voltamos para a casa satisfeitas com nossas compras e um pouco mais aliviadas de toda aquela tensão pós luto.

Não é novidade encontrar alguma das tias de Ana, além da avó, quando adentramos à sala. No entanto, um arranjo de rosas brancas sobre a mesinha de centro chama a atenção da minha amiga assim que ela passa pela porta da casa.

Amélia levanta-se do sofá e pegando o arranjo de rosas brancas entrega-o para Ana.

Sem compreender, minha amiga toma as flores nas mãos e abre o cartão preso na embalagem do presente.

"São do Cadú", ela diz, visivelmente surpresa.

Um enorme sorriso acende em seu rosto enquanto ela lê, silenciosamente, a mensagem do cartão.

"Leia em voz alta", Telma diz, surgindo da cozinha. "Todas nós queremos saber."

Ana pigarreia e ainda com o sorriso bobo estampando o rosto, lê a mensagem em voz alta.

"Espero que essas rosas sejam o suficiente para colocar um sorriso lindo no seu rosto. Se isso acontecer, então a viagem até a Colômbia valeu à pena."

Oh, meu Deus!

Assim como Ana, Telma e Amélia parecem não ter entendido a citação no cartão. Mas, eu entendo, perfeitamente, de onde surgiu aquela ideia.

Passando por elas, atravesso a sala e pego o telefone sem fio. Sem querer chamar a atenção, afasto-me alguns metros ao mesmo tempo em que digito o número do meu irmão, aguardando, impaciente, ele atender.

"Você enlouqueceu?" Pergunto assim que Cadú atende à ligação. "Qual o seu problema, Cadú? Mandar flores para ela?" Abafo a voz com a mão em concha.

As mulheres da casa estão tão entretidas com as rosas colombianas que não prestam atenção em mim.

"Ela não gostou?" Meu irmão pergunta confuso.

"É óbvio que ela gostou."

"Então qual o problema?" Ele questiona ainda confuso.

"O problema", sussurro para que ninguém possa me ouvir da sala. "É que a mãe dela precisou morrer para você mandar flores, seu cretino! Faz ideia de quanto tempo ela está esperando por isso?"

"Eu vou dar uma surra no seu namorado! Ele me garantiu que não teria problemas em mandar rosas brancas."

"Eu sabia!" Digo trincando os dentes. "Você foi pedir conselhos para ele?"

"Ele queria o número de telefone a qualquer custo. Eu precisei aproveitar a oportunidade."

"Vou dar uma surra em vocês dois quando eu voltar", digo desligando o telefone.

Coloco o telefone de volta na base sobre a mesa de canto e me aproximo, novamente, da minha amiga.

"Tem um rapaz ligando atrás de você", Amélia anuncia quando paro ao lado dela. "Ele não quis deixar recado e apesar de garantir que não era urgente, está ligando a cada dez minutos."

Meu coração acelera de repente. Todos os olhares se voltam para mim e por um momento penso que elas estão ouvindo meus batimentos acelerados.

"Só pode ser ele!" Ana exclama.

Como se o universo conspirasse a favor, o telefone toca. Amélia se adianta para atender e abre um sorriso para mim.

"Ela acabou de chegar", Amélia responde assim que atende à ligação.

Um Grito de Liberdade (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora