CAPÍTULO 7

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Logo que eu acordo e dou falta do meu iPhone, entro em uma contagem regressiva até que meu pai descubra a perda e inclua esse fato na minha "lista de irresponsabilidades", além do sermão de pelo menos uma hora que ele vai me passar. E agora que as coisas mudaram, nada de ganhar um aparelho novo. Esse presente já foi difícil de conseguir, apenas tornando possível a aquisição depois que completei dezesseis anos, porque antes "eu não tinha idade para isso". E quando finalmente ganhei meu primeiro celular, ganhei também um sermão de quarenta minutos além de uma lista de restrições que deveriam ser seguidas como: utilizar somente para fins emergenciais, zelar pelo bom funcionamento do aparelho, não emprestar... e por fim: não perder.

Olho em cima do criado mudo ao lado da cama; sobre a mesa de estudos e penteadeira, dentro da clutch; e nenhum sinal do aparelho.

"Droga! Cadê você?"

Discretamente, para não ser flagrada, pois seria difícil de acreditar que meu empenho está direcionado a encontrar um baú de tesouro pirata, refaço todo o meu trajeto desde a calçada até o meu quarto. Os únicos lugares por onde passei depois de tê-lo guardado na minha clutch ontem à noite. E nada.

Aproveito enquanto todos ainda estão dormindo para utilizar o telefone residencial como um recurso de rastreio para meu celular, a fim de ouvi-lo tocar, revelando assim sua localização. Disco uma vez e enquanto a ligação chama, eu começo a andar pela casa em busca de algum sinal do meu iPhone. A ligação chama até cair na caixa de mensagens e nada. Tento outra vez... E nada. Insisto uma última vez na esperança que agora dará certo... E nada.

Sozinho ele não tem como ir a nenhum lugar e a menos que alguém o tenha encontrado, meu celular só pode estar no meu quarto. Só espero que o general não o tenha encontrado, o que seria muito pior do que simplesmente perdê-lo na rua. Porque além de dar adeus ao meu celular, ainda serei obrigada a ouvir, no mínimo, duas horas de sermão.

Volto para o quarto e começo a vasculhar todos os cantos na esperança de que meu iPhone se materialize bem na minha frente, colocando fim à procura. E nada.

Apelo até mesmo para São Longuinho, que se me ajudar a encontrar o bendito do aparelho eu dou três pulinhos. E nada.

"Droga!"

Vou precisar de toda a ajuda possível para essa busca ser bem-sucedida, e para isso, sei que posso contar com Ana. Desisto, temporariamente, de procurar meu celular e vou atrás da minha amiga. No caminho, esbarro em Cadú perambulando pelo corredor.

"Você viu a Ana?" Pergunto ao passar por ele, que vem na minha direção.

"Na piscina" Ele responde apontando para trás. "Prepare-se! Hoje o general está cuspindo fogo."

"Nossa, que novidade!"

"Depois não diga que eu não avisei."

Desço as escadas, em direção a área externa da casa, mas sou interrompida pela voz do general vinda da sala de estar.

"Já se passou um mês e até agora não vi nenhum progresso."

Assim como eu imaginava, meu pai estava contando o prazo para o final do seu desafio: "Dou seis meses para essa brincadeira acabar". Mesmo faltando quatro dias para completar um mês desde a nossa conversa, ele inicia sua pressão psicológica na tentativa de me apavorar.

Dou meia volta e sigo em direção a ele. Paro atrás do encosto do sofá do outro lado da sala, mantendo uma distância segura entre nós.

"Esperava receber um relatório mensal?"

"Sabe que essa é uma ótima ideia", ele diz mantendo os olhos fixos nas páginas do jornal de domingo.

Amaldiçoou-me mentalmente por ter sugerido aquela ideia.

Um Grito de Liberdade (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora